Sprites, como raramente se viu, puderam ser observados na noite de sábado para o domingo sobre a província de Buenos Aires acima de nuvens extremamente carregadas de tempestade que avançavam pela região com violentos vendavais em que as rajadas passavam de 100 km/h.
Os temporais deixaram 14 mortos na província de Buenos Aires. Os vendavais foram responsáveis por 13 vítimas fatais em Bahia Blanca, no Sul da província de Buenos Aires, e uma morte em Moreno, na região metropolitana da capital argentina. Ao cruzar o Rio da Prata e alcançar o Uruguai, os vendavais fizeram mais duas vítimas em Colonia.
Boletim meteorológico especial METAR do aeroporto de Bahia Blanca das 19h34 do sábado reportou rajadas de vento de 146 km/h, mas estação automática particular acusou rajada de 180 km/h. Na cidades de Buenos Aires e Grande Buenos Aires, as rajadas de vento atingiram 132 km/h em San Fernando, 124 km/h em El Palomar, 111 km/h em Morón, 100 km/h em Villa Ortuzar, e 97 km/h no Aeroparque.
As rajadas de vento no Uruguai atingiram no domingo 167 km/h em Colonia, 106 km/h em San Jacinto, 105 km/h em Mercedes, 102 km/h em San José, 99 km/h em Montevidéu (Melilla) e Durazno, 94 km/h em Young, 93 km/h em Florida e Tacuarembó, 87 km/h em Atlântida, 85 km/h em Salto, 84 km/h em Punta del Este e Lavalleja, 83 km/h em Paso de los Toros, e 81 km/h em Laguna del Sauce.
Os registros dos sprites foram feitos por uma equipe de aficionados por Meteorologia e caçadores de tempestades que estava no Uruguai e registravam com câmeras especiais as tempestades distantes que estavam sobre a província de Buenos Aires, no outro lado do Rio da Prata. As imagens estão entre as mais incríveis feitas até hoje deste tipo de fenômeno na América do Sul.
Os sprites são uma das formais de descargas atmosféricas mais incomuns e raras de se observar. Às vezes chamados de “o relâmpago mais alto da Terra“, porque atingem a ionosfera a mais de 80 quilômetros de altura, as formas gigantescas de jatos luminosos foram descobertas perto de Taiwan e Porto Rico em 2001 e 2002.
Embora já tenham sido observados em tempestades sobre terra, muitos registros ocorreram em temporais sobre o mar. “Eles (sprites) parecem adorar tempestades sobre a água e são famosos por surpreender os passageiros a bordo de aeronaves comerciais”, descreve o cientista Tony Phillips, da NASA.
Em 2017 e 2018, o cientista de raios Oscar van der Velde, da Universitat Politécnica de Catalunya, instalou câmeras de alta velocidade na costa Norte da Colômbia em uma pesquisa dedicada à captura de jatos gigantes.
Em três meses de observação, ele conseguiu capturar apenas doze, “Frankie fotografou um raro jato gigante com morfologia de ‘cenoura’, relatado pela primeira vez em um estudo publicado na Nature por Su et al (2003)“, observa van der Velde.
“O outro tipo de jato mais comum tem uma morfologia de ‘árvore’.” Os “jatos de cenoura” são notáveis por suas esferas internas, ou seja, bolas de luz brilhantes com centenas de metros de largura. Lucena registrou dezenas deles iluminando o meio do jato.
O processo de formação e a estrutura destas descargas atmosférica ainda não é compreendido totalmente pela ciência, tal a raridade do fenômeno. “Eles podem ser fluxos de plasma dentro do jato se cruzando ou regiões de maior aquecimento”, afirma o pesquisador de descargas atmosférica da universidade catalã. “Não sabemos”, diz van der Velde.
Embora sprites tenham sido relatados por pelo menos um século, muitos cientistas não acreditavam que eles existiam até 1989, quando os sprites foram acidentalmente fotografados por pesquisadores da Universidade de Minnesota e confirmados por câmeras de vídeo a bordo do ônibus espacial da NASA.
Os sprites são Eventos Luminosos Transientes ou TLEs, do inglês Transient Luminous Events (TLEs), fenômenos atmosféricos observados acima de nuvens de tempestades em altitudes entre 18 e 100 quilômetros, associados a campos elétricos quase eletrostáticos produzidos por relâmpagos.
A física subjacente dos sprites ainda não é totalmente compreendida pela ciência. Alguns modelos afirmam que os raios cósmicos contribuem para que ocorram, criando caminhos condutores na atmosfera. Partículas subatômicas do espaço profundo atingiriam o topo da atmosfera da Terra, produzindo elétrons secundários que acionariam os raios para cima. Se isso for verdade, os sprites podem se multiplicar cada vez mais à medida que os raios cósmicos se intensificam.
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