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Bolívia tem pior temporada de fogo em meia década e fumaça é transportada pelo vento pára o Brasil | CRISTIAN CASTRO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Parte da fumaça que avança para o Sul e Centro do Brasil nestes dias se origina da Bolívia, somando-se ao material particulado na atmosfera que vem da Amazônia e outras áreas do território brasileiro. O país vizinho enfrenta meses seguidos de fogo muito acima do normal.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Bolívia registrou agora em agosto entre os dia 1º e 28 um total de 20163 focos de calor, número bastante acima da média histórica mensal de 8360.

Os últimos meses também foram de queimadas muito acima dos valores médios históricos. Julho anotou, conforme dados do Inpe, 11219 focos de calor, valor incrivelmente alto se considerada a média histórica de 2817 no mês.

A forte fumaça dos incêndios florestais na Bolívia está afetando a qualidade do ar na região oriental de Santa Cruz, uma das mais castigadas pelo fogo que já consumiu mais de dois milhões de hectares. As autoridades temem que, se essas queimadas provocadas continuarem, pode haver uma propagação semelhante à que devastou florestas em 2019.

Somente na região oriental de Santa Cruz, o motor econômico da Bolívia, o fogo consumiu 1.975.000 hectares. “Com isso, estamos superando os anos de 2023 e 2022”, informou Jhonny Rojas, coordenador do Centro Operativo de Emergências Departamentais (COED), a um meio de comunicação local.

Na Bolívia, camponeses e agricultores realizam queimadas de restos de culturas e pastagens em tempos de seca para renovar os pastos e cultivos, mas frequentemente os incêndios saem do controle, o que é considerado uma prática inadequada pelos ambientalistas.

“Apagamos o fogo em um lugar e logo ele volta a acender”, acrescentou Rojas, que também afirmou que as queimadas provocadas, somadas aos fortes ventos, ao aumento das temperaturas e à falta de chuvas, podem criar um cenário semelhante ao dos devastadores incêndios que destruíram mais de cinco milhões de hectares de florestas e pastagens em 2019.

A fumaça fez com que, em várias localidades de Santa Cruz próximas aos incêndios, as aulas fossem suspensas e os voos de pequenas aeronaves nessas áreas fossem cancelados. O Ministério da Saúde informou que enviou equipes médicas que já realizaram mais de 3.000 atendimentos médicos.

Militares, bombeiros e guardas florestais estão ajudando a combater o fogo com maquinário pesado. O governo informou que disponibilizou três helicópteros para carregar água.  O Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia (Senamhi) emitiu um alerta devido à previsão de altas temperaturas.

Santa Cruz, no Leste da Bolívia, onde se concentra a atividade agroindustrial e possui diversas reservas naturais, é o departamento mais afetado, embora também haja registros de incêndios nas regiões de Beni e Pando, segundo informou o governo.

O problema é que a secura do local, junto com os fortes ventos, está fazendo com que o fogo se espalhe mais rapidamente, o que torna a luta para apagá-lo mais difícil. “Além disso, estamos na estação seca e não há chuvas, o que complica ainda mais”, disse Pedro Pablo Ribera, Gerente de Projetos da Fundação Amigos da Natureza.

A temporada de queimadas na Bolívia neste ano começou no mês de junho, muito cedo, pois geralmente tem início em julho. O começo precoce em 2024 do fogo associado ao tempo muito seco e extremamente quente ameaça tornar a situação ainda mais crítica e próxima dos valores de crise de 2019.

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