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Incêndios provocados por uma seca sem precedentes devastam centenas de milhares de hectares na província argentina de Corrientes, causando prejuízos de milhões de dólares e danos ambientais graves, informaram autoridades, produtores e ambientalistas.

Luis Martinez/Divulgação

O relatório mais recente do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta), de 7 de fevereiro, estimou a área afetada pelo fogo em 520 mil hectares de pastagens e cultivos, aproximadamente 6% do território provincial, uma área equivalente à da Sérvia.

O fogo avança diariamente, consumindo milhares de hectares. Não há registro de vítimas entre os moradores. A associação de produtores Coninagro estimou que 4,2 milhões de dólares foram perdidos no cultivo tradicional de erva-mate, 44,6 milhões em campos de arroz e outros tantos devido à morte de 70.000 cabeças de gado.

O Serviço Nacional de Combate ao Fogo reportou seis grandes focos ativos, em Curuzú Cuatiá, Concepción, San Miguel, Ituzaingó, Santo Tomé, Loreto e Bella Vista, e um já controlado, em Mercedes.

Os técnicos do INTA apontaram que de meados de janeiro até agora a área atingida por incêndios rurais aumentou mais de seis vezes: de 80.406 hectares queimados passaram a 518.965 no total.

A seca começou em meados de novembro, e os incêndios, em dezembro. Localizada entre os rios Paraná e Uruguai, a província registra chuvas inferiores a 10 mm a 15 mm, quando a média para esta época é de até 200 mm. A umidade tem estado ao redor de 15%, quando o normal neste período é de 70%, observou Nicolás Carlino, da Coninagro.

A capital, Corrientes, está coberta de forma intermitente por nuvens de fumaça desde o começo de janeiro, segundo a imprensa local. “É um impacto severo, oriundo do desmatamento, da desertificação e do mau uso da terra, que se soma agora ao novo padrão de chuvas causado pelas mudanças climáticas”, avaliou o ambientalista local Luis Martínez, que atribuiu os incêndios à “imprudência” na queima de pastagens para renovar a terra ou controlar eventuais incêndios.

Corrientes já perdeu 60% de seus pântanos, 40% de suas pastagens e 23.000 hectares de florestas nativas, estimou Martínez. A grande maioria dos animais silvestres serão afetados de alguma forma, ameaçando de extinção algumas espécies de aves e répteis, assinalou.

Nos últimos dias, as entidades integrantes da Mesa de Ligação Agrícola estimaram um número semelhante e alertaram que a esse número “devemos somar as grandes perdas por seca e danos irreparáveis ​​que hoje não podem ser calculados”. Só em Corrientes, calculam, há pelo menos 380 mil hectares produtivos queimados – de silvicultura, pecuária, tabaco, agricultura, erva-mate, cítricos, algodão, banana, entre outros – com perdas de mais de 25 bilhões de pesos.

“A situação ainda é complicada. Continuamos com fontes de fogo distribuídas em diferentes locais da geografia provincial, com intensidade diferente, mas a maioria delas bastante importante”, explicou Eulogio Márquez, diretor da Defesa Civil de Corrientes.

“Dias atrás, no apartamento da Mercedes, tivemos que trabalhar intensamente para evitar que o fogo atingisse as casas. Obviamente essa é uma das grandes prioridades: a defesa da vida e da habitação”, acrescentou.

“Agora temos dois focos importantes no departamento de San Miguel. As obras já foram concluídas na cidade de Loreto e ainda há focos florestais em San Antonio, em Santa Julia e também um muito importante em Ituzaingó, onde estão sendo feitas obras para evitar que o fogo se espalhe para as residências e a zona industrial”, informou.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Argentina em janeiro teve 7199 focos de calor, muitíssimo acima da média histórica mensal de 1648, valor que superou por ampla margem o recorde mensal anterior de 4624 de 2002. Neste mês de fevereiro, até o dia 16, os satélites do Inpe registraram 3037 focos de calor na Argentina, muito acima da média histórica de fevereiro de 1193 e o maior número no mês de toda a série histórica, apesar de fevereiro ainda estar em sua metade, batendo o recorde mensal de 2585 de 2003.