Mulher usa o seu telefone celular para fazer fotos dos telões de Times Square, em Nova York, exibindo as primeiras imagens do Telescópio Espacial James Webb divulgadas pela NASA | YUKI IWAMURA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

As imagens fantásticas do novo telescópio espacial James Webb divulgadas na segunda-feira e ontem encantaram o mundo, especialmente as fotografias liberadas pela NASA durante uma entrevista coletiva na terça-feira. Público, imprensa e cientistas se mostraram maravilhados com a qualidade e a beleza das imagens, além da revelação que fazem do nosso universo.

“Muitas pessoas às vezes veem fotos do espaço e isso as faz se sentirem pequenas”, disse Eric Smith, cientista-chefe da divisão de astrofísica da NASA e cientista do programa JWST, durante a entrevista coletiva. “Quando vejo essas fotos, elas me fazem sentir poderoso, que uma equipe de pessoas pode fazer esse instrumento inacreditável para descobrir coisas sobre o universo”, afirmou.

“Somos cientistas e as imagens são usadas para fazer ciência, mas quando vi uma em particular, senti que estava entrando numa galeria de arte”, disse René Doyon, cientista de exoplanetas da Universidade de Montreal, no Canadá, que atua como diretor investigador em um instrumento do telescópio. “Esta é uma obra de arte”, sentenciou.

Mas, embora a entrevista coletiva da NASA tenha sido realizada para marcar a apresentação das imagens e suas explicações cientificas do que representava cada fotografia e quais eram as novas revelações sobre o nosso universo, os astrônomos não deixaram de refletir sobre o impacto emocional de todas as imagens do James Webb até o momento.

“As primeiras imagens focadas que tiramos, onde elas eram nítidas, para mim foram as que tive a reação muito emocional”, disse Jane Rigby, cientista do projeto de operações do JWST no Goddard Space Center. “Pessoalmente, eu chorei e muito”, revelou ela. “Foi uma combinação de vertigem na sala – olhando para os dados, ‘Oh meu Deus, isso é ótimo”, contou.

As imagens foram o assunto principal ontem no planeta e foram recebidas com entusiasmo e espanto pela resolução. A Times Square, em Nova York, decidiu exibir em seus gigantescos telões as imagens divulgadas pela agência espacial norte-americana. O Twitter oficial da Square compartilhou os vídeos em que as imagens do telescópio James Webb foram exibidas nas telas, inclusive na NASDAQ.

Imagens captadas pelo Telescópio Espacial James Webb são exibidas em telões na Times Square de Nova York horas após a divulgação das primeiras fotos pela NASA no Goddard Space Flight Center | YUKI IWAMURA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

“A NASA acaba de lançar as primeiras imagens do Telescópio Espacial James Webb, e elas estão ao vivo em nosso letreiro da Times Square! Fotos realmente incríveis que nos ajudarão a entender melhor nosso universo e todo o potencial desta nova era espacial”, tuitou a gigante de serviços financeiros Morgan Stanley.

As imagens divulgadas pela agência espacial norte-americana ganharam grande atenção ainda na mídia mundial, tendo sido um dos principais destaques do dia de ontem nas emissoras de notícias dos vários continentes.

Nesta quarta-feira, as capas dos principais jornais do planeta trazem as incríveis imagens feitas pelo telescópio espacial James Webb com expressões de entusiasmo pela qualidade e as novas descobertas feitas a partir das observações. “Tesouros nunca vistos do universo profundo”, trouxe de manchete o argentino La Nación.

A imagem do começo do universo (Big Bang)

Na segunda-feira, a NASA tornou pública a primeira foto do James Webb, “a imagem infravermelha mais profunda e nítida do universo” jamais feita, olhando para mais de 13 bilhões de anos atrás. A imagem (acima), repleta de pontos de luz de vários tamanhos, mostra as primeiras galáxias formadas pouco depois do Big Bang e apresenta objetos de pouca luminosidade que nunca haviam sido observados.

“É um dia histórico”, celebrou o presidente dos Estados Unidos Joe Biden na apresentação feita na Casa Branca. “Quando vi as imagens pela primeira vez (…) aprendi três coisas sobre o universo que antes não sabia”, afirmou Dan Coe, astrônomo do STSI e especialista no universo primitivo. “Fiquei completamente deslumbrado”, afirmou.

Presidente dos Estados Unidos Joe Biden aplaude a apresentação da primeira imagem tornada pública pela NASA do telescópio espacial James Webb durante evento realizado na Casa Branca, em Washington | BILL INGALLS/NASA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Webb conseguiu ver milhares de galáxias por meio de seu mecanismo infravermelho, pois, ao mesmo tempo, atravessava as nuvens de poeira cósmica e detectava a luz das primeiras estrelas, que se expandiram em comprimentos de onda infravermelhos à medida que o universo se expandia.

Além disso, foi a primeira imagem de “campo profundo” do Webb, feita com um prolongado tempo de exposição, que possibilita a detecção das luzes mais fracas. Na foto, é possível ver um grupo de galáxias chamado SMACS 0723, que, ao atuar como uma lupa, revelou objetos do cosmos atrás, muito distantes, graças a um efeito conhecido como lente gravitacional.

Com as imagens, os especialistas poderão começar a interpretar os dados compilados. Essa etapa será o ponto de partida para anos de pesquisa, que prometem ser emocionantes. A publicação marca o fim de anos de espera para astrônomos de todo o mundo e também o começo de uma aventura científica.

O telescópio James Webb

Lançado da Guiana Francesa em dezembro de 2021, em um foguete Ariane 5, o telescópio James Webb orbita o Sol a uma distância de 1,6 milhão de quilômetros da Terra, em uma região do espaço conhecida como o segundo ponto de Lagrange. Lá, permanece em uma posição fixa em relação à Terra e ao Sol, com um consumo mínimo de combustível, suficiente para correções de rumo.

Considerado uma maravilha da engenharia, o custo total do projeto é estimado em US$ 10 bilhões, tornando-se a plataforma científica mais cara já construída, igualada apenas pelo Grande Colisor de Hádrons da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN). O espelho principal do Webb tem mais de 6,5 metros de largura e é composto por 18 segmentos folheados a ouro.

A estrutura oferece a mesma estabilidade que uma câmera portátil precisaria para tirar as melhores fotos. Charlie Atkinson, engenheiro-chefe de programa do telescópio espacial James Webb da Northrop Grumman, disse que o equipamento não oscila mais do que 17 milionésimos de milímetro. “Sabíamos que isso exigiria alguns dos melhores talentos do mundo, mas que era possível”, disse.

Após as primeiras imagens, astrônomos de todo mundo compartilharão o tempo no telescópio e farão projetos que serão apresentados para seleção de um júri anônimo para minimizar qualquer avaliação enviesada. Graças ao seu lançamento eficiente, a NASA estima que o propulsor de Webb possa ter uma vida útil de 20 anos, período durante o qual trabalhará ao lado dos telescópios Hubble e Spitzer para responder às questões fundamentais do cosmos.