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Guaíba transbordando no Cais Central da Avenida Mauá, junto ao Centro de Porto Alegre, às oito da manhã desta segunda-feira, quando o nivel atingia 3,00 metros apenas pela terceira vez em 80 anos | FERNANDO OLIVEIRA

O Guaíba começou a transbordar no Cais Central, junto ao Centro de Porto Alegre, pouco antes das sete da manhã desta segunda-feira. É a terceira vez neste ano que as águas extravasam no piso do cais, um fato inédito, um vez que desde 1941 somente havia se dado em 1967, 2015 e em duas oportunidades no mês de setembro deste ano.

O nível do Guaíba na medição de pouco antes das 8h da manhã desta segunda-feira estava em 3,01 metros, um centímetro acima da cota de transbordamento no Cais Central de Porto Alegre. O nível seguia subindo, mesmo sem represamento pelo efeito do vento que é calmo na medição do aeroporto (0 km/h).

Com o dado de 3,01 metros deste começo de manhã, esta se torna a terceira maior cheia do Guaíba desde a grande enchente de 1941 (4,76 metros), sendo superada neste instante apenas pelos 3,13 metros de setembro de 1967 e os 3,18 metros de 27 de setembro deste ano.

É fato absolutamente notável e extraordinário o Guaíba atingindo a cota de extravasamento no Centro em duas oportunidades em apenas três meses, sendo que nos últimos 80 anos a marca só havia sido atingido uma vez.  Igualmente excepcional que duas das três maiores cheias desde 1941 tenham ocorrido com intervalo de apenas 50 dias.

No momento em que o Guaíba começou a extravasar com a ondulação no Cais Central, as comportas do sistema de contenção de cheias da cidade ainda estavam abertas e seguem abertas agora às oito da manhã, com o Guaíba a um centímetro de atingir a cota de transbordamento no Centro da cidade.

Por que a cheia histórica? Todos os rios que desembocam no Guaíba apresentam cheia e três deles (Taquari, Caí e Sinos) registram cheias de grandes proporções. Taquari e o Caí estão com quadros de cheias históricas. O Jacuí, maior contribuinte, também apresenta cheia entre Cachoeira do Sul e Triunfo com tendência de se elevar ainda mais.

O Rio Taquari atingiu ontem cedo no Porto de Estrela 28,94 metros. Trata-se da quarta maior cota em 150 anos de observações e a terceira maior nos últimos cem anos. Somente é superada no último século pelos 29,98 metros de 1941 e os 29,62 metros da enchente de setembro deste ano no vale. Duas das três maiores cheias em um século do Taquari, assim, ocorreram com intervalo de apenas três meses (setembro e novembro de 2023).

Já o Rio Caí alcançou no domingo 9,01 metros em Montenegro, segunda maior cota desde 1940, conforme dados do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM). Cota só é superada pela marca de 9,20 metros da enchente de 1941. Em São Sebastião do Caí, o rio atingiu a marca de 16 metros, a maior desde que a prefeitura local tem registros. Duas das três maiores enchentes no Vale do Caí desde 1940, portanto, se deram neste ano (junho e novembro).

Choveu muito em todas as bacias que desembocam no Guaíba. Os acumulados de chuva na última semana nas estações do Instituto Nacional de Meteorologia na Metade Norte, onde estão as nascentes dos rios com cheias, foram de 333 mm em Cambará do Sul, 328 mm em Serafina Corrêa, 303 mm em Cruz Alta e em Teutônia, 264 mm em Santo Augusto e Soledade, 277 mm em Canela, 264 mm em Soledade e 259 mm em Caxias do Sul.

Choveu ainda no mesmo período 249 mm em Bom Jesus, 240 mm em Santa Rosa e em Erechim, 236 mm em Passo Fundo, 232 mm em Lagoa Vermelha, 224 mm em Torres, 220 mm em Palmeira das Missões e 205 mm em Porto Alegre.

Guaíba ainda subirá mais. O cenário é muito preocupante porque o Guaíba segue subindo à medida que começa a chegar o pico de vazão das cheias dos Rios Taquari e Caí, que passam por cheias de enorme proporção e atingiram cotas históricas nos vales durante o domingo.

Um fator adicional de preocupação é o vento. Neste começo de semana, o padrão de vento será favorável ao escoamento das águas do Guaíba para a Lagoa dos Patos, mas entre quarta e sábado se espera vento do quadrante Sul que pode ser moderado a forte no setor Norte da Lagoa no final da quarta e no começo da quinta-feira.

O vento Sul vai coincidir com o maior momento de maior vazão dos rios contribuintes e encontrará o nível ainda muito alto, possivelmente com marcas menores do que desta segunda. Ocorre que o represamento pelo vento Sul tem potencial de elevar o nível do Guaíba em até 30 cm a 50 centímetros, ou seja, com o nível ainda muito o alto o cenário pode se tornar extremamente preocupante.

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