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Estudo do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostra que, sem o sistema de proteção contra cheias, muitas áreas do Centro para o Norte de Porto Alegre estariam com águas do Guaíba nesta grande enchente de novembro de 2023 | IPH/CORREIO DO POVO

As consequências da grande enchente do Guaíba em Porto Alegre seriam muitíssimo mais graves não existisse o sistema de contenção de cheias da cidade que foi construído na década de 70. Sem o sistema, as águas do Guaíba teriam alagado muitas áreas da capital gaúcha e tomado pontos de enorme importância para a cidade como o Centro Histórico e o Aeroporto Salgado Filho.

O nível do Guaíba estava em 3,45 metros no começo da manhã de hoje na medição do armazém C6, no Cais do Porto da cidade. Trata-se do pico da cheia até o momento. A cota é a maior desde a grande enchente de 1941 (4,76 metros) e superou as cheias de setembro de 1967 (3,13 metros) e setembro de 2023 (3,18 metros).

Todos os rios que desembocam no Guaíba apresentam cheia e dois deles (Taquari e Caí) registraram cheias de grandes proporções e históricas. Taquari e o Caí tiveram algumas das maiores cotas observadas em um século de observações nos vales. O Jacuí, maior contribuinte, também apresenta cheia entre Cachoeira do Sul e Triunfo.

Estudo que foi realizado pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul a pedido do jornal Correio do Povo em setembro deste ano, publicado pelo jornal quando da primeira enchente histórica de 2023, mostrou que uma enorme área da cidade de Porto Alegre perto do Guaíba seria alagada não existisse o sistema contra cheias.

O estudo foi realizado pelo professor Fernando Dornelles e pelo doutorando Iporã Possantti. De acordo com Dornelles, os mapas que indicam as áreas inundadas foram criados com base no nível registrado na régua do Cais Mauá de 3,18 metros em setembro, cota inferior à atual de 3,45 metros.

Com base nos mapas para a cota de 3,18 metros de setembro, muitas áreas entre os bairros Praia de Belas e Menino Deus teriam sido invadidas pelas águas, assim como se viu na enchente de 3,13 metros de 1967, quando não existia o sistema de contenção de cheias da cidade.

IPH/CORREIO DO POVO

O mapa gerado com a cota de setembro de 2023 (30 centímetros quase abaixo da atual) mostra ainda que inexiste o sistema de proteção, parte do Centro Histórico estaria sob alagamento com a presença de água no Mercado Público, Júlio de Castilhos, pontos da Andradas (Rua da Praia) do Gasômetro até o Mercado, Casa de Cultura Mário Quintana, Praça da Alfândega e outros marcos da cidade.

IPH/CORREIO DO POVO

 

Na zona Norte, Humaitá e Vila Farrapos estariam debaixo d´água e muitas áreas dos bairros São Geraldo e Navegantes estariam com água com o Guaíba atingindo locais até mesmo perto ou na Avenida Farrapos, que faz a ligação entre o Norte da cidade e a Grande Porto Alegre com a área central.

IPH/CORREIO DO POVO

A estimativa para a zona Sul é a mais próxima da realidade, pois o sistema de proteção termina na avenida Diário de Notícias. Devido à incerteza da informação do terreno e de diferença de nível d´água do Cais Mauá para locais mais centrais, o pesquisador observa que podem existir algumas diferenças.

Em 1967, Porto Alegre teve a pior cheia do Guaíba desde 1941 até aquele momento. O Guaíba superou 3,00 metros no Centro pela primeira vez desde a grande enchente de 1941. Na cheia de 67, com cota máxima de 3,13 metros e, assim, 30 centímetros abaixo da atual de novembro de 2023, sem o sistema de contenção de cheias que só viria nos anos seguiontes, o Guaíba alagou os bairos Praia de Belas, Menino Deus, a zona Norte e alcançou a Júlio de Castilhos entre a Rodoviária e o Mercado Público, no Centro.

Áreas que são hoje do Centro Administrativo, Procergs e Daer tomadas pelo Guaíba na enchente de setembro de 1967 | REPRODUÇÃO/MUSEU DO TRABALHO

Guaíba na Avenida Júlio de Castilhos, altura do que hoje é o Pop Center (Camelódromo) na cheia de 3,13 metros de setembro de 1967 | REPRODUÇÃO/MUSEU DO TRABALHO

O Sistema de Proteção Contra Cheias de Porto Alegre tem mais de 68 quilômetros de extensão e é formado por diques, comportas e casas de bombas. As avenidas Diário de Notícias, Beira-Rio e a Castelo Branco, além da Freeway entre o DC Navegantes e a Fiergs, são mais altas – três metros – que as áreas ao redor justamente porque são diques que funcionam como barreiras para evitar o avanço do Guaíba.

Ou seja, da Diário de Notícias no Barra Shopping até o Gasômetro a cidade se protege com diques. O mesmo ocorre da Rodoviária até a Fiergs. O trecho que não tem dique é justamente o do Centro, entre o Gasômetro e a Rodoviária, e neste ponto o sistema de contenção se dá com um muro de três metros de altura e outros três metros abaixo do solo, o famoso e polêmico Muro da Mauá, que responde por apenas 4% da extensão do sistema de proteção da cidade.

Além de dezenas de quilômetros de diques e do muro, o sistema é complementando por casas de bombas. Foram instaladas 23 casas de bombas que servem para proteger áreas baixas de Porto Alegre, como a Praia de Belas e o Menino Deus, por exemplo, onde no passado houve muitas vezes inundações com a subida do Arroio Dilúvio em enchentes do Guaíba.

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