O governo Trump demitiu hoje centenas de funcionários em período probatório responsáveis por produzir previsões meteorológicas críticas, manter sistemas de radar, coletar dados de satélites e monitorar importantes pescarias comerciais na agência de tempo e clima dos Estados Unidos (NOAA), com possíveis impactos na previsão do tempo mundial.

NWS/NOAA
Cartas de demissão foram enviadas a funcionários de escritórios da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) e do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS), segundo diversos funcionários relataram ao The Washington Post. As demissões são determinadas pelo DOGE, o departamento a cargo do bilionário Elon Musk, que foi encarregado de reduzir a força de trabalho do governo.
A medida era temida há dias por funcionários atuais e antigos da agência, que alertavam que as demissões poderiam causar grandes interrupções na capacidade do país de se proteger contra tempestades, erupções solares e outras ameaças naturais.
Os avisos de demissão revisados pelo Post informavam aos funcionários que as agências haviam concluído que eles “não eram aptos para continuar no emprego porque suas habilidades, conhecimentos e/ou competências não atendem às necessidades atuais da Agência.”
Em muitos casos, os funcionários demitidos já trabalhavam para as agências há anos, mas estavam em período probatório porque antes eram contratados terceirizados e haviam se tornado funcionários federais apenas recentemente.
Isso incluiu pessoas como Andrew Hazleton, cientista físico do Serviço Meteorológico e veterano das missões Hurricane Hunters da NOAA, que voam até o centro dos furacões para coletar dados e melhorar as previsões.
“Infelizmente, posso confirmar os rumores que estão circulando hoje, pois recebi ‘o e-mail’”, escreveu em rede social. “Não quero fazer comentários além de dizer que estou explorando opções legais em algumas frentes”.
Em comunicado, a porta-voz da NOAA, Susan Buchanan, afirmou que a agência não discute questões internas de pessoal, acrescentando que a NOAA “permanece dedicada à sua missão, fornecendo informações, pesquisas e recursos oportunos que servem ao público americano” e que as previsões meteorológicas e alertas da agência continuam sendo feitos.
As demissões que foram comunicada por e-mail (imagem abaixo) seguem a remoção de milhares de funcionários probatórios em todo o governo, à medida que a nova administração busca reduzir rapidamente a força de trabalho federal.

REPRODUÇÃO
Os cortes atingiram diversas agências, incluindo órgãos de saúde e trabalhadores federais de emergência, desde que a administração Trump ordenou que os chefes das agências demitissem funcionários em período de experiência, potencialmente afetando centenas de milhares de trabalhadores.
No Serviço Meteorológico, a equipe já estava sobrecarregada devido ao envelhecimento da força de trabalho e à diminuição do número de novos contratados para os escritórios responsáveis por produzir previsões meteorológicas locais.
Isso se agravou quando Trump impôs um congelamento geral de contratações no governo, e, embora a agência tenha solicitado uma exceção, ela não foi concedida, segundo várias fontes ligadas à instituição informaram ao The Post.
Impactos das demissões já são sentidos
Horas depois do anúncio de demissões em massa na agência federal de tempo e clima dos Estados Unidos, os primeiros relatos já davam conta de impacto no funcionamento de vários serviços ao público. Os impactos da escassez de pessoal no Serviço Meteorológico já eram evidentes antes mesmo das demissões, mas o cenário agora se torna crítico.
O Laboratório de Pesquisas Ambientais da NOAA na região dos Grandes Lagos publicou nas suas redes sociais que os serviços de comunicação ao público seriam interrompidos por escassez de funcionários.
A agência informou ainda que a falta de funcionários impediria o lançamento de balões meteorológicos a partir de uma estação no norte do Alasca. Embora a área seja pouco povoada, os dados coletados desses lançamentos ajudam a alimentar os modelos meteorológicos que produzem previsões para comunidades em todo o país e ao redor do mundo.
Há um grande temor de que a escassez de funcionários com menos medições afete a qualidade das observações meteorológicas que alimentam os modelos meteorológicos usados em previsão do tempo da própria NOAA e de outros centros mundiais de Meteorologia.
Choque na comunidade meteorológica
O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos é o principal serviço oficial de previsão do tempo no mundo com dados e projeções que amparam os prognósticos de meteorologistas e cientistas dedicados ao clima ao redor do planeta. As demissões causaram comoção na comunidade meteorológica.
“Não tenho palavras além de dizer que é completamente ridículo e inaceitável. Vidas estarão em perigo”, escreveu o meteorologista Ethan Clark, da Carolina do Norte. “Um movimento como de hoje altera os rumos da Meteorologia nos Estados Unidos”, afirmou o meteorologista Michael Ventrice.
Uma carta aberta do meteorologista do setor privado James Spann em solidariedade aos colegas de profissão demitidos viralizou nas redes sociais com mais de 10 milhões de visualizações em poucas horas.
Long time followers here know that I don’t do politics, and there’s no political content on this account. I vote; and that’s it. The world does not need another social media nitwit telling people how to think and vote. 
This post is not about politics, but about support for… pic.twitter.com/fu5YH5huN0
— James Spann (@spann) February 25, 2025
“Seguidores antigos aqui sabem que eu não falo sobre política, e não há conteúdo político nesta conta. Eu voto, e é só isso. O mundo não precisa de mais um influenciador de redes sociais dizendo às pessoas como pensar e votar. Esta publicação não é sobre política, mas sim sobre o apoio aos meus amigos que trabalham no Serviço Nacional de Meteorologia (NWS), que faz parte da NOAA, uma agência federal”, disse Spann.
“Os meteorologistas do NWS trabalham longas e exaustivas horas servindo a população deste país, não apenas durante períodos de clima severo, mas também nos dias comuns. Seus sistemas de observação de superfície e atmosfera, juntamente com modelos computacionais, radares e satélites, são essenciais para todos os meteorologistas, inclusive aqueles do setor privado”, explicou.
“A maioria dos escritórios regionais do NWS está atualmente com falta de pessoal. Posso apenas imaginar que o moral não esteja muito alto. Muitos políticos influentes seguem esta página, tanto democratas quanto republicanos”, apelou o meteorologista.
“Eu os incentivo, assim como todos vocês, a apoiarem meus colegas do Serviço Nacional de Meteorologia neste momento. O trabalho deles é absolutamente indispensável. Se os produtos e serviços do NWS forem reduzidos, todos nós sofreremos, especialmente durante períodos de tempo severo que ameaçam vidas”, disse.
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