Meteorologistas dos Estados Unidos temem que o furacão monstro Ida tenha grande impacto na infraestrutura do Sul dos Estados Unidos com ramificações na economia mundial e choque de preços que afetaria o consumidor brasileiro | Agência Brasil/EBC

O furacão monstro Ida que chega neste domingo aos Estados Unidos pode ter impactos na vida dos brasileiros e não por vento ou chuva, mas no bolso. O furacão histórico vai atingir com força devastadora uma das regiões mais importantes da economia norte-americana e em um mundo de economia globalizada e interconectada os reflexos podem se sentir no Brasil.

Uma análise publicada em Yale pelo meteorologista Jeff Masters detalha que Ida atingirá uma das áreas industriais mais críticas dos Estados Unidos, o corredor industrial entre Baton Rouge e Nova Orleans, no estado norte-americano da Louisiana.

A região não apenas abriga dezenas de plantas petroquímicas importantes e é atravessada por dutos importantes, mas também possui três dos quinze maiores portos do país: o maior porto de carga a granel do mundo, o Porto da Louisiana do Sul, que fica ao longo de um trecho de 54 milhas do rio Mississippi; o maior porto de exportação de grãos do país, o Porto de New Orleans; e o Porto da Grande Baton Rouge, o décimo maior porto do país. Os três portos movimentam juntos de 55 a 70% de todas as exportações de grãos dos Estados Unidos para o mundo.

As barcaças do Rio Mississippi na região transportam produtos petroquímicos, fertilizantes e matérias-primas essenciais para o funcionamento da indústria e da agricultura norte-americana, tornando o rio a força vital da economia do país.

“Se os portos do Rio Mississippi forem fechados por um longo período, toda a economia dos Estados Unidos sofre com impactos para a economia global e o abastecimento mundial de alimentos.

Os preços mundiais dos alimentos, vulneráveis ​​a choques climáticos extremos, em maio de 2021 atingiram os níveis mais altos desde 2011. Este choque nas commodities agrícolas explica em parte o salto nos preços dos alimentos que os brasileiros têm amargado com os índices de inflação mais altos em duas décadas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil acelerou sua alta para 0,96% em julho após ter registrado uma taxa de 0,53% em junho, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Foi a maior variação para um mês de julho desde 2002, quando o índice foi de 1,19%, segundo o IBGE.

No começo do mês, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) em 1 ponto percentual, de 4,25% para 5,25% ao ano, o maior nível desde outubro de 2019. A alta de 1 ponto percentual foi a maior em 18 anos, desde 2003.

Os juros são usados pela autoridade monetária para tentar controlar a inflação ou tentar estimular a economia. Em síntese, quando a inflação está alta, como agora, o Banco Central sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a cair. Quando a inflação está baixa, derruba os juros para estimular o consumo. Juros mais altos tendem a reduzir o crescimento da economia e dificultar a geração de mais empregos.

Furacão Ida

Ida chega neste domingo à costa ao redor do meio-dia, hora de Brasília, com vento sustentado de 250 km/h e rajadas até perto de 300 km/h. O meteorologista Jeff Berardelli, da rede de televisão norte-americana CBS, compara Ida, pela sua força, a um gigantesco tornado violento, apesar de serem fenômenos radicalmente distintos. A maré na costa pode subir de 5 a 10 metros com inundações extremamente perigosas.

Além da inundação da costa pela elevação da maré, chuva extrema de 500 mm a 750 mm deve provocar graves enchentes em áreas do interior mais afastadas da orla. Como a região de Nova Orleans em parte está abaixo do nível do mar, a elevação da maré e a chuva extrema representam um risco imenso para a cidade.