O furacão Catarina do final de março de 2004 é o mais extraordinário evento atmosférico a ter atingido o Rio Grande do Sul até hoje. Houve episódios com efeitos muito mais desastrosos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, como a chuva extrema de abril e maio de 1941 que levou à enchente com dezenas de milhares de desabrigados em Porto Alegre, as inundações e deslizamentos de agosto de 1965, a tragédia de Tubarão em 1974 ou o desastre da chuva em Santa Catarina do ano de 2008 com alto número de mortos. Nada cientificamente, contudo, foi mais excepcional que o Catarina. Isso porque o episódio contrariou a literatura técnica que dizia ser impossível a formação de furacões em nossa região. O ciclone tropical raríssimo alcançou a região de Torres e do Litoral Sul de Santa Catarina na madrugada de 28 de março de 2004 com força de um furacão nos limites das categorias 1 e 2 da escala Saffir-Simpson, com vento sustentado de 150 km/h e pressão ao redor de 970 hPa.


Questionamento freqüente é se pode ocorrer de novo ? Para a pergunta, a resposta sempre foi sim. Se há precedente, pode se repetir, mas a maior divergência de vento no Atlântico Sul e a temperatura do mar não tão alta fazem com que ciclones tropicais (tempestades tropicais ou furacões) sejam raros na nossa região. Na sequência do Catarina houve tempestades de natureza subtropical ou tropicais na costa do Sul e do Sudeste do Brasil, mas que não evoluiram para furacão. As duas principais foram as tempestades tropicais (estágio anterior a furacão em um ciclone tropical) Anita (2010) e Arani (2011).


O Hadley Center do Met Office da Inglaterra, logo após o Catarina, simulou em supercomputadores o aquecimento do Atlântico esperado entre 2.070 e 2.100 na comparação com a média de 1961-1990. Conforme esta projeção, poderia se esperar um notável aquecimento nas próximas décadas das águas superficiais do Atlântico junto à costa do Sul do Brasil e no litoral do Sudeste, justamente na região onde se originou o Catarina (ilustração acima).

À época do Catarina houve quem tivesse dito que o fenômeno faria parte de um “novo normal” em razão do aquecimento global e que a tendência era de repetição. Al Gore chegou a citar o Catarina em seu livro-documentário “Verdade Inconveniente”. Passados dez anos, não se repetiu. Não há evidências que sugiram o Catarina ter sido um fenômeno decorrente de mudanças climáticas induzidas pelo homem. Foi um evento anômalo e excepcional, mas que poderá se repetir.