A qualidade do ar em Porto Alegre está ruim, mas ninguém sabe exatamente quão ruim se encontra nestes dias pela fumaça de queimadas. Os dados existentes na internet são meramente estimativos com base em dados de satélites e de modelos. Dados reais de medição de superfície por estações são inexistentes, assim o porto-alegrense e milhões de gaúchos não sabem como está o ar que respira.
Reportagem do jornalista Felipe Faleiro na edição de hoje do jornal Correio do Povo escancara o absoluto despreparo do Rio Grande do Sul. Se na enchente ficou evidente o despreparo da estrutura estatal no monitoramento dos rios do estado com poucas estações e muitas fora do ar, a crise da fumaça agora mostra como o estado não tem monitoramento do ar. Se apenas a cidade de São Paulo e região têm 30 estações públicas de qualidade do ar com dados em tempo real, Porto Alegre e o interior gaúcho não possuem nenhuma.
Há por dias uma grande concentração de material particulado (MP2,5) em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul com índices estimados por satélite como muito ruins e mesmo insalubres, deixando o céu acinzentado em que mal se consegue enxergar o sol, tal a quantidade de poluição atmosférica.
Segundo a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), o MP2,5 é um dos principais poluentes atmosféricos, sendo o conjunto de partículas sólidas ou líquidas suspensas no ar inferiores a 2,5 micrômetros. A exposição prolongada a este material, capaz de penetrar profundamente nos pulmões e na corrente sanguínea quando inalado, está associada a problemas de saúde, como asma, bronquite e enfisema, além de aumentar o risco de ataques cardíacos, derrames e câncer de pulmão.
A empresa suíça IQAir, que trabalha em apoio com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), diz que a medição em Porto Alegre é feita utilizando estimativas de satélite, já que não há estações de monitoramento da qualidade do ar na cidade com a maior população e frota veicular do Rio Grande do Sul.
E mesmo com a presença da pluma cinza dificultando a vista do horizonte e perturbando os moradores, o Boletim de Qualidade do Ar da Fepam afirmava que a classificação do ar na última segunda-feira era “boa” em todas elas, localizadas em Canoas, Esteio, Gravataí e Guaíba, na região metropolitana.
Além destas, há ainda mais duas no estado, dentro da Rede Ar do Sul, instituída em dezembro de 2001, em Triunfo e Rio Grande. Porém, em tese, nenhuma das que funciona é de responsabilidade da própria Fepam, mas de empresas, e todas só são atualizadas uma vez ao dia.
Porto Alegre chegou a ter três estações de monitoramento de qualidade do ar, muitos anos atrás, nos bairros Santa Cecília e Centro Histórico, ambas descontinuadas, e no Jardim Botânico, que está inoperante. As estações do estado não funcionam desde 2010, enquanto as de responsabilidade da Prefeitura, no Centro Histórico, Humaitá e Azenha, foram desligados em 2015.
Porto Alegre, emitiu em 2022, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, 2,3 milhões de dióxido de carbono equivalente (CO2e), com a maioria concentrada na área de transporte de passageiros e resíduos em saneamento básico. Até 2006, conforme a plataforma, a Capital emitia cerca de um terço do que solta na atmosfera agora, porém houve um salto nas emissões após 2007 e uma ligeira queda em 2020 e 2021, durante a pandemia da Covid-19.
A Prefeitura também já fez duas edições do Inventário Municipal de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), em parceria com consultorias, com resultados similares. Em dezembro de 2023, Administração estimava investir R$ 3 milhões para instalação de equipamentos de monitoramento do ar na cidade, segundo disse o secretário municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade e atual chefe do Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática, Germano Bremm, disse na COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
A ideia, conforme a Prefeitura, era priorizar bairros identificados pelo Plano de Ação Climática, como Bom Jesus, Vila João Pessoa, Bom Fim e Cidade Baixa, assim como áreas de grande fluxo veicular. Procurada para atualizações do projeto, a secretaria disse que a contratação “ainda está em fase de elaboração de Termo de Referência para depois seguir para licitação”.
A Fepam, por sua vez, chegou a pedir ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) a utilização de recursos do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) para ampliar a rede de monitoramento e reduzir o tempo de atualização dos dados, mas, também segundo a Fepam, o órgão não concedeu aprovação, justificando que o valor pedido era maior do que o teto disponível.
Atualmente, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) realizou novo projeto e está em busca de ampliação, com recursos próprios do estado. Questionada, a fundação não revelou onde seriam estas novas estações.
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