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A frente fria que passou pelo Sul com vendavais chega ao Sudeste e reforça a instabilidade e os temporais. A tarde desta quinta-feira foi escaldante no centro do país com marcas ao redor de 40°C em diversos municípios.  Em São Paulo choveu forte em pontos do Oeste e Sul do estado com volumes significativos de chuva.

A maior temperatura registrada no Brasil hoje pela rede de estações automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) foi de 40,1°C de Morretes no Paraná. Simultaneamente fez 39,7°C em Miranda, no Mato Grosso do Sul (MS); 39,6°C em Iguape, litoral sul de São Paulo, 39,4°C em Jardim, MS 39,3°C em Niterói, Rio de Janeiro; 39,2°C em Corumbá, MS.

A imagem do satélite GOES-16 da noite desta quinta-feira mostra nuvens de grande desenvolvimento vertical e topo frio no leste de São Paulo com potencial de temporais intensos nas próximas horas na medida em que a frente fria avança. O norte do estado paulista e o Sul de Minas Gerais estão na rota de risco de tempestades entre o fim da noite desta quinta e madrugada de sexta.

A chegada da frente fria nesta sexta-feira além de levar a instabilidade e reforçar a chuva levará alívio ao calor. A temperatura, em geral, terá um declínio superior a 10°C na faixa leste de São Paulo e do Rio de Janeiro. No interior a temperatura também entra em declínio, porém o refresco será menor.

O refresco será favorecido pelo vento sul/sudeste que irá predominar em grande parte dessa sexta-feira. Ocorre que o mesmo vento que favorece o alívio do calor carrega umidade do mar na direção do continente e isso preocupa, sobretudo, em partes do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espirito Santo.

As saídas recentes dos modelos atmosféricos mantêm a tendência de volumes de chuva muito altos e com precipitações por vezes torrenciais com acumulados elevados entre a tarde e a noite desta sexta e em parte do fim de semana. Há risco de ainda chover por vezes forte em pontos da região no começo da semana que vem.

O cenário é de maior risco para o estado do Rio de Janeiro, incluindo a Costa Verde, a cidade do Rio de Janeiro e sua área metropolitana, e ainda a Região Serrana. Os volumes em pontos do estado do Rio de Janeiro podem ser muito altos, da ordem de meses de precipitação em dias, atingindo em alguns locais marcas de elevadíssimo risco para a população.

Sob este cenário, a MetSul Meteorologia alerta para a alta probabilidade de alagamentos e inundações, em alguns casos repentinas, o que oferecerá perigo para quem estiver na rua durante enxurradas com intensas correntezas. Adverte-se também para a probabilidade elevada de quedas de encostas e ainda deslizamentos de terra, em alguns locais significativos e com grave risco à vida humana.

A situação é especialmente preocupante no estado do Rio de Janeiro, onde a chuva por vezes será extrema em curto intervalo e, pior, com uma sucessão de dias de chuva forte a muito intensa entre sexta e o começo da semana. Entre noite de sexta-feira e a primeira metade do sábado, em particular, o acumulado de precipitação poderá ser por demais elevados.

O que vai acontecer? Primeiro, uma frente fria chegará à região trazendo chuva forte e risco de temporal. Na sequência, com uma massa de ar frio a Leste do Sul do Brasil e se estendendo até a costa do Sudeste, as condições se tornarão favoráveis a um grande aporte de umidade do oceano para o continente no litoral de São Paulo e no estado do Rio de Janeiro.

O padrão de circulação deve levar vento carregado de umidade do mar em direção ao continente no sentido do litoral de São Paulo e Rio de Janeiro com chuva de natureza orográfica, o que fará com que os volumes de chuva sejam muito altos a excessivos em diferentes cidades, sobretudo do Litoral Norte de São Paulo e ainda mais no Rio de Janeiro.

A chuva orográfica é a precipitação induzida pelo relevo. Umidade que vem do oceano, trazida por vento, ao encontrar a barreira do relevo da Serra do Mar, ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa à medida que ascende na atmosfera com camadas mais frias. Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo. A projeção abaixo dos modelos matemáticos ICON, Europeu e WRF de alta resolução em média indicam volumes ao redor de 100 a 200 mm, com alguns pontos ao redor e acima de 250 mm no Litoral de São Paulo e Rio de Janeiro, partes da serra fluminense, Leste de Minas Gerais e parte do Espírito Santo.

 

 

Para a cidade do Rio de Janeiro, o projeções de precipitação a cada três do do modelo europeu projeta vários pulsos de chuva forte a torrencial entre a noite de sexta, em partes do sábado e mesmo nas primeiras horas do domingo. O potencial para alagamentos e inundações na cidade é grande.

Em um exemplo bem didático e simples de entender. O que acontece se você chega na frente de um espelho e soltar ar da sua boca? O espelho que tem uma superfície mais fria vai ficar embaçado (úmido) e molhado. Com a chuva orográfica ocorre o mesmo.

O ar mais úmido e quente (analogia com ar que sai da boca) encontra um obstáculo físico que é o relevo (como o espelho) e ao chegar nesta barreira que são os morros sobe na atmosfera e encontra temperatura mais baixa, condensando-se o vapor de água e formando chuva.

Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação localmente muito altos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos. Os litorais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são os de maior risco de eventos de chuva extrema de natureza orográfica no Brasil.