O fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, atua desde o mês de agosto e segue se intensificando. De acordo com a análise da MetSul Meteorologia de diversos modelos climáticos, o resfriamento atual do Pacífico Equatorial já ingressou no território de forte e pode ser intenso ao redor da virada do ano.
O último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) apontou uma anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central de -1,5ºC, mas na semana anterior chegou a -1,7ºC. Esta área do Pacífico, denominada região Niño 3+4, é a utilizada para se determinar a intensidade do fenômeno.
Anomalias entre -0,5ºC e -0,9ºC indicam um episódio fraco. Entre -1,0ºC e -1,4ºC de moderada intensidade. De -1,5ºC a -1,9ºC de forte intensidade. E marcas inferiores a -2ºC são consistentes com um evento intenso do fenômeno. Utiliza-se uma média trimestral e, por isso, a tendência é que este evento de La Niña, se atingir o status de intenso, seja por um breve período com a classificação mais provável de moderado a forte.
O gráfico abaixo mostra a projeção do modelo climático CFS da NOAA da anomalia de temperatura da superfície do mar nos próximos meses na chamada região Niño 3.4, ou seja, a do Pacífico Equatorial Central.
Observa-se, claramente, a tendência de no fim do ano, na virada de dezembro para janeiro, o atual evento de La Niña atingir o seu pico de intensidade, perdendo força gradualmente em janeiro e fevereiro, mas ainda atuando com intensidade moderada a forte. Chama atenção, igualmente, a perspectiva da anomalia de temperatura chegar a valores abaixo de -2ºC, ou seja, adentrando o território de intenso.
Com La Niña, os efeitos no clima são os típicos do fenômeno, o que agrava o risco de estiagem no Sul do Brasil e que já se verifica em muitas cidades. No Rio Grande do Sul, quando há La Niña, os efeitos são mais sentidos a partir de novembro e dezembro com risco relevante para a produção de milho.
Interessante observar, contudo, que em muitos anos de La Niña há uma tendência de aumento da chuva em janeiro, até com chuva acima da média em algumas regiões, para voltar a secar em fevereiro e março. Não é algo que ocorre em todos os anos de La Niña, mas se verifica na maioria.
Assim, não apenas o episódio de La Niña prossegue nos próximos meses como tende a se intensificar e ainda com possibilidade até de ser intenso. A maior ou menor intensidade de um evento de La Niña não significa que seus impactos serão mais ou menos intensos, logo não se pode fazer a associação La Niña fraca e estiagem fraca ou La Niña forte e estiagem forte, no caso do Sul do Brasil.
O que o aumento da intensidade produz é o incremento da probabilidade dos impactos comuns virem a ocorrer, o que no caso do Sul do Brasil significa um aumento de probabilidade da ocorrência de estiagem.
O fenômeno La Niña não traz mais tempestades, mas incursões tardias de ar frio e às vezes até com geada ao encontrar o ar mais quente típico da primavera agravam o risco de tempestades muito severas de vento e granizo, inclusive de tornados. Não é um aumento da freqüência de temporais, mas da severidade.
Análise histórica mostra um risco aumentado de granizo em primaveras e verões com La Niña, assim que produtores rurais devem considerar a contratação do chamado seguro-granizo. Com ou sem La Niña, o período de primavera e verão sempre tem a possibilidade de eventos regionais ou isolados (uma cidade ou parte de uma cidade) de chuva volumosa e excessiva durante um temporal ou na atuação de um ciclone.