Acordo para reduzir emissões no transporte aéreo civil não satisfez as demandas dos ecologistas e ambientalistas | SEBASTIEN SALOM-GOMIS/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), uma agência das Nações Unidas, anunciou um acordo para que o setor alcance a neutralidade de carbono até 2050. Representantes dos 193 países-membros reunidos para a assembleia da ICAO, com sede em Montreal, chegaram a “um acordo histórico sobre uma ambiciosa meta coletiva de longo prazo de neutralidade de carbono até 2050”, publicou a organização.

“É um resultado excelente”, disse uma fonte diplomática europeia à AFP, especificando que “apenas quatro países, incluindo a China, expressaram reservas”. O papel do transporte aéreo é fundamental na crise climática. Atualmente responsável por entre 2,5% e 3% das emissões globais de CO2, o setor encontra dificuldade em mudar para a energia renovável, mesmo que a indústria da aviação e as empresas de energia estejam trabalhando duro neste intuito.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) disse que as companhias aéreas estão sendo “fortemente encorajadas” a adotar a meta climática, um ano depois que a organização endossou a mesma posição em sua própria assembleia geral. “Esperamos iniciativas políticas muito mais sólidas em áreas-chave de descarbonização, como o incentivo à capacidade de produção sustentável de combustível de aviação”, disse o diretor-geral Willie Walsh.

Segundo as companhias aéreas, criar uma aviação livre de emissões de carbono implica um investimento de US$ 1,55 trilhão entre 2021 e 2050. “A comunidade global da aviação saúda este acordo histórico”, afirmou o brasileiro Luis Felipe de Oliveira, diretor do Conselho Internacional de Aeroportos, que representa 1.950 aeroportos em 185 países. “Este é um momento decisivo no esforço para descarbonizar o setor de aviação, já que governos e indústria estão agora se movendo na mesma direção, com uma estrutura política comum”, disse ele em comunicado.

O acordo, no entanto, ficou aquém de satisfazer algumas organizações não governamentais, que lamentaram o fato de o mesmo não ter ido suficientemente longe e que não seja juridicamente vinculante. Os aviões atraem críticas particularmente duras porque apenas cerca de 11% da população mundial voa a cada ano, de acordo com um estudo de 2018 amplamente citado. Além disso, metade das emissões das companhias aéreas vem do 1% dos principais viajantes.

“Este não é o momento para o acordo de Paris da aviação. Não vamos fingir que uma meta não vinculativa reduzirá as emissões de carbono da aviação a zero”, criticou Jo Dardenne, da ONG Transporte e Meio Ambiente. O ativista também expressou decepção com os ajustes considerados pelos delegados ao programa de redução e compensação de carbono do setor, conhecido como Corsia.

Durante a reunião de 10 dias, a Rússia também buscou, mas não conseguiu, votos suficientes para ser reeleita para o conselho de governo da organização da ONU, responsável por garantir o cumprimento dos regulamentos da aviação. Moscou foi acusada de violar as regras internacionais ao não devolver centenas de aviões que alugou, conforme exigido pelas sanções impostas após a invasão da Ucrânia em fevereiro.

Esta foi a primeira Assembleia Geral da Icao em anos. Em 2021, o número de passageiros aéreos foi apenas metade dos 4,5 bilhões de 2019, um aumento de 60% em relação a 2020. O setor espera em 2022 atingir 83% de seu número de passageiros de três anos atrás e voltar a ser lucrativo em 2023.