A falta de luz em São Paulo pelos vendavais da sexta-feira é um dos piores desastres para o setor de energia elétrica por uma onda de tempestades até hoje no Brasil, de acordo com um levantamento da MetSul Meteorologia. Mais de quatro milhões de clientes ficaram sem luz no estado de São Paulo, conforme balanço oficial publicado hoje. Trata-se de número semelhante de clientes sem energia registrado nos três estados do Sul no ciclone bomba de junho de 2020.
O balanço publicado hoje pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) informou que 48 horas após os vendavais destrutivos da sexta ainda havia cerca de 1,2 milhão de endereços sem energia elétrica, ou seja, cerca de três a quatro milhões de pessoas ainda sem luz. A maior parte das unidade consumidoras às escuras estava na cidade de São Paulo com cerca de um milhão de pontos sem luz.
A agência reguladora informou que a concessionária Enel conseguiu até agora restabelecer o serviço para pouco mais da metade dos endereços sem energia desde a tarde de sexta. Antes eram 2,1 milhões de unidades sem luz e agora são pouco mais de um milhão.
De acordo com a Aneel, os temporais chegaram a deixar 4,1 milhões de unidades sem luz, portanto mais de dez milhões de pessoas às escuras. Na área de concessão da CPFL, no interior de São Paulo, o número de clientes sem luz caiu para cem mil depois de um pico na sexta de um milhão.
Somente há paralelo na história recente em número de pessoas afetadas por falta de luz na onda de vendavais que atingiu o estado de São Paulo no episódio extremo do ciclone bomba de 30 de junho de 2020 no Sul do Brasil, quando quatro milhões de clientes tiveram falta de energia nos três estados do Sul.
A Defesa Civil de Santa Catarina chegou a afirmar à época que os estragos chegaram a ser mais extensos que os registrados no furacão Catarina de 2004, que provocou danos estimados em mais de um bilhão de reais. No evento de 2020, o evento atingiu número muito maior de municípios que em 2004.
No dia 30 de junho, uma linha de instabilidade associada ao ciclone se formou com tempestades muito severas de vento sobre a Metade Norte gaúcha e que avançou para Santa Catarina e o Paraná, com vendavais de caráter destrutivo numa extensa faixa. Foi exatamente o que ocorreu em São Paulo na sexta. O vento atingiu 180 km/h em Santa Catarina no episódio de 2020 e 151 km/h em Santos no evento da última sexta.
Na sequência da linha de instabilidade, vento ciclônico que soprou forte a intensamente por horas atingiu mais o Sul e o Leste gaúcho, piorando ainda mais a falta de luz. No Rio Grande do Sul, cerca de 850 mil unidades consumidoras ficaram sem energia por conta do ciclone bomba da virada de junho para julho de 2020, o equivalente a mais de um quarto da população gaúcha. Na área da CEEE-D, no pico, 750 mil clientes estavam sem energia, especialmente no Litoral Norte e região metropolitana.
Um levantamento da empresa CEEE mostrou que o vento derrubou 677 postes na área de concessão da CEEE-D e que 63 transformadores queimaram ou sofreram avarias. Cerca de dois mil profissionais da empresa entre eletricistas, equipes de retaguarda, terceirizados e teleatendentes foram mobilizados na recomposição da rede.
Em Santa Catarina, os danos causados pelo ciclone bomba no dia 30 de junho de 2020 à rede elétrica foram os piores da história do estado, apontou um levantamento das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc). Mais de 1,5 milhão de imóveis chegaram a ficar sem luz, ou grande parte da população catarinense. A empresa definiu como “operação de guerra” o esforço para recuperar a rede destruída. Somente após dez dias, apesar de todos os esforços e tal a magnitude dos danos, foi possível normalizar o quadro para 99% dos consumidores.
No Paraná, os danos causados pelo ciclone bomba de 2020 foram descritos pela Copel como o “pior evento climático da história da empresa”. Mais de mil eletricistas foram a campo em todo o Paraná no episódio para recuperar a rede elétrica afetada. A Copel contabilizou 1,8 milhão de unidades consumidoras que ficaram alternadamente sem luz, 38% do total de unidades consumidoras atendidas pela empresa.
Nos Estados Unidos, após episódios muito graves de vento com intensidade semelhante ao que se viu no Sul do Brasil e agora em São Paulo, a normalização para a grande maioria dos clientes costuma ser alcançado apenas depois de uma semana, segundo dados do Departamento de Energia norte-americano. Houve casos em que a energia somente foi normalizada após meses, caso da tempestade Sandy de 2012.