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BR-116 alagada em Barra do Ribeiro | Redes sociais

Um evento de chuva extrema atingiu municípios da Costa Doce do Rio Grande do Sul situados a Oeste do setor Norte da Lagoa dos Patos ao longo da terça-feira (14). Os volumes foram excepcionalmente altos para um único dia com registros de alagamentos e inundações na região. A BR-116 chegou a ficar interrompida parcialmente por algumas horas no município de Barra do Ribeiro em razão de alagamentos que chegaram a submergir veículos.


O episódio de chuva extrema que atingiu foi limitado em dimensão geográfica e essencialmente localizado. A maior cidade próxima da área atingida, logo a Nordeste que é Porto Alegre, não registrou chuva excessiva. Os maiores volumes na capital gaúcha, entretanto, se deram em bairros do extremo Sul da cidade e, portanto, mais próximos da área do evento com registros de 23 mm na Restinga e 25 mm em Belém Velho enquanto no Centro choveu 14 mm.

Os volumes de precipitação foram excepcionalmente elevados na área atingida pela chuva extrema. Medições particulares no município de Barra do Ribeiro indicaram marcas de 200 mm a 250 mm em apenas doze horas. A estação meteorológica de maior confiabilidade na zona afetada, instalada no município de Sentinela do Sul e pertencente ao sistema de monitoramento meteorológico da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, apontou 183 mm.

A chuva não caiu toda em muito curto período, o que teria caracterizado um evento de cloudburst (em tradução livre “estouro da nuvem”). Neste tipo de evento, em que não há uma explosão literal de nuvem e sim chuva extrema em muito curto período, as precipitações são da ordem de 100 mm por hora ou mais. Foi o que ocorreu em São Lourenço do Sul em 2011 com consequências desastrosas no município também pertencente à Costa Doce.

Os dados da estação meteorológica de Sentinela do Sul, apesar de terem mostrado um muito alto índice pluviométrico, indicaram também que a chuva durante a terça-feira foi distribuída por muitas horas seguidas. Os dados horários apontaram 8 mm às 7h, 5,6 mm às 8h, 7,4 mm às 9h, 18,6 mm às 10h, 16,4 mm às 11h, 30,6 mm às 12h, 22,4 mm às 13h, 14,8 mm às 14h, 15,2 mm às 15h, 9,4 mm às 16h, 12,6 mm às 17h, 8,2 mm às 18h, e 2,8 mm às 19h. Depois destas faixas horárias os volumes não foram altos e ficaram ao redor de 1 mm ou menos.

O episódio de chuva extrema não surpreendeu. Já na segunda-feira, em boletim intitulado “Chuva forte a intensa em pontos isolados nesta terça”, a MetSul trazia mapa com a projeção do nosso modelo WRF que indicava chuva de 100 mm a 150 mm na área castigada. Tanto que no boletim de previsão para o dia publicado constou que “os volumes em pontos isolados a Oeste da Lagoa dos Patos e do Sul podem ser muito altos”.

Uma combinação de fatores foi determinante para que ocorresse a chuva em volumes excepcionalmente altos em parte da Costa Doce. Havia abundante umidade e a região estava na área de transição entre ar mais quente e frio em altitude.

O modelo norte-americano GFS registrava que a área atingida era a que tinha maiores índices de vapor d´água na atmosfera em todo o Rio Grande do Sul.

Os dados de vento ainda mostravam uma grande convergência de umidade vinda do oceano para a região com componente de Leste em baixos níveis da atmosfera, o que garantiu os abundantes índices de vapor d´água que contribuíram para a chuva extrema na região de Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel e Sentinela do Sul.

Ademais, a área afetada pelas intensas precipitações estava exatamente na faixa de transição entre ar mais frio e quente em baixos níveis da atmosfera, o que foi outro fator contribuinte para a ocorrência dos elevados volumes de chuva na área mais ao Norte da Costa Doce do Rio Grande do Sul.

Episódios de chuva volumosa localizados com altíssimos índices pluviométricos não chegam a ser incomuns no período mais quente do ano. A atmosfera mais quente, e, portanto, mais instável, quando sob a presença de abundante umidade, cria as condições ideais para estes episódios de precipitação excessiva.

Quando há circulação de umidade de Leste, o risco é especialmente alto em áreas próximas da costa. Havendo relevo acidentado na região, a possibilidade de chuva extrema aumenta ainda mais pelo efeito da orografia. Mesmo sem grandes elevações, a região atingida possui morros e o relevo deve ter contribuído igualmente para que a precipitação tivesse volumes tão altos durante a terça-feira.

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