Recife e a Grande Recife enfrentaram volumes extremos de chuva nas últimas horas com mortes, suspensão de aulas e transtornos para a população | REDES SOCIAIS

Chuva extrema castiga o litoral do Nordeste do Brasil neste final de maio. O dia é de transtornos e estragos pelas precipitações excessivas com pessoas ilhadas, ruas e avenidas tomadas pelas águas, veículos presos em alagamentos, deslizamentos de terra e aulas suspensas em Recife e outras cidades da região metropolitana da capital pernambucana, como Olinda.

O Corpo de Bombeiros de Pernambuco confirmou que dois homens morreram soterrados por deslizamentos de terra em Olinda, no Grande Recife, durante as chuvas desta quarta-feira. Um dos corpos foi encontrado no Córrego do Abacate, e outro no Córrego do Abacaxi. Na última localidade, uma mulher segue desaparecida.

O prefeito do Recife afirmou em entrevista que as chuvas que afetam a capital pernambucana já pode ser consideradas o terceiro maior evento de chuva excessiva já registrado na capital pernambucana, embora a estatística mostre diversos episódios recentes. “Temos o registro de 196 milímetros nas últimas 24 horas. Esse fenômeno é o terceiro maior da história do Recife, desde que temos registro. O maior da história foi em 1970, na grande cheia, e o segundo em 1986. Então, de 1986 até hoje, o maior que se tem registro é esse”, afirmou.

A chuva acumulada em poucas horas até a manhã de hoje chegava a 199 mm em Olinda, sendo que a média histórica do mês inteiro é de 325,8 milímetros. No Recife, o acumulado em poucas horas atingiu 196 mm e a média histórica mensal de precipitação é de 328,9 mm. Camaragibe anotou 163 mm em uma média mensal 294,6 mm. Ou seja, em poucas horas a região teve mais da metade da média de chuva do mês inteiro que já é muito alta por ser uma época mais chuvosa no litoral do Nordeste.

Devido ao cenário de chuva extrema, diferentes unidades de ensino de Recife e outras cidades da região suspenderam as aulas nesta quarta-feira. A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informou que devido às fortes chuvas as aulas da rede pública estadual estão suspensas no Recife e Região Metropolitana. As Prefeituras tanto do Recife como Olinda orientaram a suspensão das atividades.

O primeiro balanço da Defesa Civil de Pernambuco indicou alagamentos, deslizamentos de terra, quedas de barreiras, inundações e vias afetadas pela chuva. A rodovia PE-015 teve pontos de interdições. Já a BR-101 também apresentava trechos com problemas. Em Jaboatão dos Guararapes, havia acúmulo de água sobre a pista.

O que causa tanta chuva no Nordeste do Brasil

Fenômeno que não afeta o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil, onde a chuva costuma vir com frentes frias, frentes quentes e centros de baixa pressão, o litoral da Região Nordeste está acostumado com uma condição que tem origem a milhares de quilômetros, na África, e todos os anos traz chuva volumosa para a região nesta época do ano.

São as chamadas ondas de Leste que nada mais são que áreas de perturbação atmosférica que avançam pela região tropical do continente africano em direção às Américas, muitas vezes dando origem às tempestades tropicais e furacões no Atlântico Norte. À medida que uma destas perturbações começa a se organizar e se intensificar com a água quente do oceano, pode dar origem a um centro de baixa pressão que pode rapidamente evoluir para um ciclone tropical.

Imagem de satélite mostra onda de Leste atuando no litoral do Nordeste do Brasil e na Zona da Mata com acumulados extremos de chuva | METSUL

No caso do Nordeste do Brasil, as ondas de Leste não trazem furacões, mas muita chuva. Estas ondas se formam na área de influência dos ventos alísios, perto da linha do Equador, em especial nos meses do outono e inverno do Hemisfério Sul. Quando estas ondas que cruzam o Atlântico chegam ao litoral brasileiro, causam chuva nas zonas costeiras da Região Nordeste do Brasil, principalmente na Zona da Mata, e às vezes até no Recôncavo Baiano e no litoral do Ceará.

Temperatura do mar está acima da média na costa do Nordeste e favorece intensificação das ondas de Leste | NOAA

Há um fator agravante para o excesso de chuva no caso das ondas de Leste, a temperatura da superfície do oceano. Quanto mais quente o mar, maior a energia da instabilidade. No caso de agora, a temperatura da superfície do mar está acima da média em toda a região costeira do Nordeste e nas áreas do Atlântico por onde avançam as ondas tropicais.

Risco de chuva extrema prossegue

A MetSul Meteorologia alerta que o risco de chuva extrema prossegue no litoral do Nordeste do Brasil nos próximos dias com acumulados excepcionalmente altos em algumas cidades, sobretudo de Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Modelos numéricos indicam acumulados de chuva por demais elevados para a região. Pode chover ainda muito em pontos dos litorais do Rio Grande do Norte e do Ceará.

Os dados indicam que a chuva prossegue em Recife nesta segunda metade da semana e há modelos indicando precipitações muito intensas e volumosas para o litoral de Pernambuco no fim de semana. O tempo segue instável com chuva por vezes forte a intensa também em Maceió e no litoral de Alagoas até o fim de semana. Outra área que pode ter chuva muito volumosa com acumulados extremos, especialmente no fim de semana, é João Pessoa e o restante da costa da Paraíba.

Não apenas Pernambuco teve chuva com volumes muito altos nesta semana. Marcas perto ou acima de 300 mm foram observadas ainda nos litorais da Paraíba, Sergipe e Alagoas por conta da instabilidade associada às ondas de Leste que chegam do Atlântico.