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Vento moderado e por vezes com rajadas já foi sentido hoje em Porto Alegre e persistirá no Rio Grande do Sul nos próximos dias | ALINA SOUZA/ARQUIVO

A MetSul Meteorologia alerta para um período ventoso com vários dias seguidos de vento por vezes moderado com rajadas por vezes fortes, especialmente no extremo Oeste do Rio Grande do Sul e numa faixa da costa entre os estados gaúcho e catarinense. Pontos do litoral do Sudeste também podem ter vento por vezes forte.

O vento moderado a por vezes forte na costa deve se concentrar principalmente nesta quinta, na sexta e ainda durante o fim de semana com rajadas em alguns momentos de 40 km/h a 60 km/h, mas que em algumas praias deve se situar entre 60 km/h e 70 km/h. Pontos bastante isolados podem ter rajadas acima de 70 km/h.

No Oeste do Sul do Brasil, por uma condição atmosférica diferente, o vento começa a ganhar força na sexta e deve permanecer ainda com rajadas por vezes fortes do quadrante Norte na sexta, no fim de semana e talvez ainda no começo da semana que vem. Vento, em média, de 30 km/h a 50 km/h, mas que, por vezes, pode ter rajadas esporádicas de 50 km/h a 70 km/h.

Em Santa Maria, no Centro do estado, pelo relevo local, também podem ocorrer rajadas fortes em alguns momentos de vento do quadrante Norte acima de 50 km/h, mas que em alguns momentos podem ser mais intensas com velocidades entre 60 km/h e 80 km/h, gerando um forte aquecimento (aquecimento adiabático) associado ao relevo. Vento mais forte no Centro gaúcho no fim de semana e no começo da semana.

A MetSul faz questão de enfatizar que não se trata de uma situação de elevado perigo por vento, como experimentada nos últimos dois ciclones. O que traz o vento agora são condições atmosféricas radicalmente distintas. O potencial de transtornos, ademais, é muito pequeno e se vierem a ocorrer problemas pelo vento serão poucos, como ocasionais quedas de poucas árvores e cortes bastante isolados de luz. Não há, assim, razões para preocupação maior.

A primeira causa do vento – contraste de temperatura e pressão

Então, por que o vento se não há ciclone? São duas situações. No caso da costa e locais perto do litoral, a razão para o vento será um enorme gradiente de temperatura e pressão entre o mar e o continente. Mais do Centro para o Oeste gaúcho e o Oeste do Sul do Brasil, uma intensa corrente de jato (vento) em baixos níveis da atmosfera.

Sobre o vento decorrente do gradiente (diferença) de temperatura e pressão atmosférica, a projeção é de potente centro de alta pressão de 1.040 hPa na costa do Sul do país associado a uma massa de ar frio enquanto no Noroeste da Argentina haverá uma baixa pressão térmica, associada a ar quente, com 998 hPa. Trata-se de uma diferença superior a 40 hPa entre o mar e o continente e quanto maior tal diferença, maior o vento.

Modelo europeu projeta baixa pressão de 999 hPa no Noroeste da Argentina e alta pressão no Atlântico de 1040 hPa sábado de manhã | METSUL

Observe no mapa com a projeção de pressão atmosférica para o começo do sábado do modelo Icon como há muitas linhas de pressão, que se denominam isóbaras. Este desenho atmosférico predomina para os próximos dias e já foi responsável por vento de 40 km/h a 50 km/h hoje em várias cidades gaúchas. O grande número de linhas, em termos leigos, é um sinal da grande diferença de pressão e se costuma traduzir em vento.

METSUL

O que ocorre? Trata-se de uma situação bastante comum de se observar no final do inverno e na primavera, quando há muitos dias de vento moderado a forte do quadrante Leste, quando há ar mais frio e de alta pressão no mar e ar mais quente se instala no continente com áreas de baixa pressão que costumam atuar no Norte da Argentina e no Paraguai, centros de baixa pressão, diga-se aliás, de natureza térmica.

Com efeito, estabelece-se um contraste de temperatura e pressão entre o Oceano Atlântico e o continente. Sobre o mar, ar mais frio e de maior pressão atmosférica. Sobre o continente, ar mais quente e de menor pressão atmosférica.

Projeção do modelo europeui mostra o contraste entre o ar mais frio no mar e muito quente sobre o continente | METSUL

Aí entra a Física para explicar o vento. Sabe-se que a temperatura se eleva durante o dia mais rapidamente sobre terra do que sobre água. E que à noite ocorre o contrário com resfriamento maior sobre terra do que sobre água.

À medida que a temperatura se eleva com o sol durante o dia, a diferença de temperatura entre o mar e o continente aumenta. Áreas sobre terra ficam com temperatura muito maior que sobre o oceano. Na sequência, o ar de menor temperatura (mais denso) começa a se deslocar para o ambiente em que a o ar está mais quente (e mais leve). Esse deslocamento de ar, do mar para terra, traz o vento. Por isso, o vento sopra do quadrante Leste. No litoral gaúcho é o que traz o “Nordestão”.

É vento que vem do mar para terra, o que os surfistas denominam de vento maral. À noite, com tempo seco e aberto, o resfriamento é muito mais acentuado sobre terra. O ar no continente passa a ser mais denso que sobre o mar, então às vezes se opera o movimento contrário e áreas costeiras e do oceano passam a receber o vento vindo de Oeste, o terral.

A segunda causa do vento – corrente de jato em baixos níveis

A segunda situação meteorológica que vai trazer vento por vezes forte, agora do quadrante Norte, mais a Oeste do Sul do Brasil e parte do Centro e do Sul gaúcho, será uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera, que vai trazer ar muito quente para as latitudes médias da América do Sul com temperatura atipicamente alta nos próximos dias para os padrões de julho.

Projeção de vento do modelo GFS para o nível de 1.500 metros de altitude mostra poderosa corrente de jato em baixos níveis na manhã de sábado | METSUL

Em termos leigos, a corrente de jato em baixos níveis é uma corrente de ar estreita encontrada na baixa atmosfera, normalmente em torno do nível de pressão de 850 hPa (ou cerca de 1500 metros de altitude), atuando entre um e dois quilômetros de altura.

Ou seja, é um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera. Estas correntes de jato em baixos níveis (JBN) a Leste dos Andes trazem ar quente e costumam se originar na Bolívia ou no Centro-Oeste do Brasil.

O corredor de vento, em regra, tem uma extensão de centenas de quilômetros do Sul da região amazônica até a bacia do Rio Prata ou o Rio Grande do Sul, para onde transporta ar quente, normalmente antes de frentes frias e ciclones.

A corrente de jato em baixos níveis dos próximos dias será intensa com vento projetado a 1500 metros de até 65 nós ou cerca de 120 km/h. Vento, reitera-se, a 1.500 metros de altitude e não em superfície. No solo, não são atingidas estas velocidades. Sobre morros ou nas encostas de serras, sob a presença de um jato de baixos níveis, costuma ventar mais intensamente.