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Centenas de milhões de pessoas em três continentes sofriam com calor intenso a extremo nesta quarta-feira enquanto os incêndios aumentavam, as preocupações com a saúde cresciam e o mundo parecia se dirigir para o mês de julho mais quente já registrado.

Um menino se refresca no rio Nilo durante uma onda de calor em al-Qanater al-Khayreya, nos arredores do Cairo | KHALDED DESOUKI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Enquanto os recordes de temperatura caíam em três continentes, especialistas apontaram o dedo para a mudança climática causada pela queima de combustíveis fósseis, dizendo que o aquecimento global teve um papel fundamental no clima destrutivo. Os governos e a Organização Mundial da Saúde emitiram alertas enquanto as partes vulneráveis da população sofriam.

Na Grécia, dois incêndios florestais, alimentados por fortes ventos, ocorreram a Oeste de Atenas, e outro na ilha turística de Rodes, onde os moradores tiveram que decidir se deveriam fugir. “Não vou embora. Comecei a construir esta casa sozinho quando tinha 27 anos”, disse Dimitris Michaelous, morador da cidade ameaçada de incêndio de Pournari.

O governo da Grécia disse que Romênia, Eslováquia e Polônia enviariam cerca de 230 bombeiros para ajudar a combater as chamas. Os bombeiros poloneses disseram que 149 bombeiros estavam a caminho da Grécia – a 2.000 quilômetros (1.250 milhas) de distância – a bordo de 49 veículos.

A França registrou temperaturas de até 40ºC no sul do país, inclusive na ilha mediterrânea da Córsega. Pequim quebrou um recorde de 23 anos com 27 dias consecutivos de temperaturas acima de 35ºC. Phoenix, nos Estados Unidos, teve a maior mínima de sua história com 36,1ºC e bate o recorde de 20 dias seguidos com mais de 43ºC.

“Ao meio-dia, parece que o sol está queimando minhas pernas, parece que minha pele está queimando”, disse Qiu Yichong, um estudante chines de 22 anos. Han Weili, motorista de entrega, disse à AFP: “Às vezes, quando está muito calor, sinto-me um pouco confuso ou tonto”.

O governo de Pequim instou os idosos a ficarem em casa e as crianças a encurtar o tempo de brincadeira ao ar livre para reduzir a exposição ao calor e à poluição do ozônio no nível do solo. As pessoas estavam ligando o ar-condicionado, levando a um aumento na demanda de energia.

Pessoas sentam em frente a um refrigerador na rua enquanto esperam por assentos em um restaurante durante a onda de calor em Pequim | GREG BAKER/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Um turista se refresca antes de entrar no Coliseu durante A onda de calor em Roma. Capital italiana bateu recorde absoluto de temperatura máxima. | TIZIANA FABI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A Organização Mundial da Saúde disse que o calor extremo está sobrecarregando os sistemas de saúde, atingindo com mais força os menos capazes de lidar com a situação – idosos, bebês e crianças. A OMS afirmou estar particularmente preocupada com pessoas com doenças cardiovasculares, diabetes e asma.

Nas Ilhas Canárias, cerca de 400 bombeiros combateram um incêndio que devastou 3.500 hectares de floresta e forçou a evacuação de 4.000 moradores, com as autoridades alertando as pessoas para usarem máscaras do lado de fora devido à má qualidade do ar.

As temperaturas também foram ferozes em outras partes da Espanha, com três regiões em alerta vermelho. As águas costeiras da Espanha atingiram uma temperatura recorde nesta época do ano, informou o escritório nacional de meteorologia nesta quarta-feira.

Prevê-se que as ilhas italianas da Sardenha e da Sicília possivelmente ultrapassem o recorde continental de 48,8°C registrado na Sicília em agosto de 2021. Em Lanusei, perto da costa Leste da Sardenha, um acampamento de verão para crianças estava restringindo as visitas à praia ao início da manhã e proibindo esportes, disse à AFP a professora Morgana Cucca.

Muitos em toda a Itália buscaram escapar pelo mar, inclusive fora de Roma, onde o calor atingiu 40°C. “Você pode pelo menos pegar um pouco de vento do mar”, disse Virginia Cesario, 30, na praia de Focene, perto da capital. “Isso se tornou o novo normal”, disse Fabrizio Carozza, um funcionário de escritório de 26 anos da Bélgica.

Termômetro marca 118ºF (47,7ºC) em Phoenix, estado do Arizona, nos Estados Unidos. Cidade enfrenta calor extraordinário por 20 dias seguidos e registra mortes. | PATRICK FELLON/ AFP/METSUL METEOROLOGIA

Enquanto isso, na América do Norte, dezenas de milhões de pessoas acordaram para outra quarta-feira escaldante, tendo experimentado um calor perigoso no dia anterior. Na cidade de San Angelo, Texas, onde se esperava que as temperaturas chegassem a 42ºC, o Serviço Nacional de Meteorologia disse que estava “ficando sem meios de dizer que vai fazer calor lá fora hoje”. “Imploramos que você continue a praticar a segurança térmica”, disse a agência no Twitter.

Crianças brincam e se refrescam em meio à onda de calor que traz cortes de energia na cidade de Gaza, na Palestina | MOHAMMED ABED/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Mesmo o Iraque, acostumado a temperaturas médias de cerca de 32°C em julho, achou difícil lidar com a onda de calor, levando o prefeito de Basrah, no Sul, a dar aos funcionários públicos um dia de folga na quinta-feira, quando a previsão é de 50°C ou mais.

O mundo está a caminho de seu mês de julho mais quente desde o início das medições, disse o observatório climático da União Europeia à AFP na quarta-feira. “Os primeiros 15 dias de julho foram os 15 dias mais quentes já registrados”, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus Climate Change Service (C3S).

As ondas de calor na Europa e no mundo “não são um único fenômeno, mas vários agindo ao mesmo tempo”, disse Robert Vautard, diretor do instituto climático francês Pierre-Simon Laplace. “Mas todos eles são fortalecidos por um fator: a mudança climática.”