Selo verde da União Europeia para energia nuclear e plantas a gás natural gerou fortes críticas e acusação de hipocrisia | JEAN-PHILIPPE KSIAZEK/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Parlamento Europeu aprovou, em sessão plenária, a atribuição do selo “verde” da União Europeia (UE) ao gás e à energia nuclear, duas fontes de energia reconhecidas como necessárias para enfrentar os efeitos da mudança climática. O polêmico texto, que havia sido anunciado em janeiro pela Comissão Europeia, considera “sustentáveis” os investimentos em centrais nucleares, ou a gás, para a produção de energia elétrica, desde que utilizem as tecnologias mais avançadas.

Essa classificação (ou “taxonomia”, conforme o termo usado nas instituições da UE) deve ajudar a mobilizar fundos privados para esses projetos. A iniciativa é parte do objetivo da UE de alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Na plenária do Parlamento em Estrasburgo, na França, o apoio ao texto recebeu 328 votos a favor, e 278, contra, com 33 abstenções.

O primeiro-ministro da República Checa, Petr Fiala, cujo país detém a presidência rotativa semestral do Conselho Europeu, lançou um apelo aos legisladores para que apoiassem a polêmica medida. “Peço que não rejeitem este frágil acordo, que foi negociado muito cuidadosamente”, disse.

Para Fiala, alguns países da União Europeia “poderão alcançar suas metas climáticas unicamente como resultado destes critérios”. O projeto enfrentou a forte resistência de vários países do bloco e de uma parte importante dos legisladores. “Como podemos pedir a outros países que reduzam seu uso de combustíveis fósseis e sua quantidade de dejeto nuclear, se nós classificamos como verdes?”, perguntou o eurodeputado holandês Bas Eickhout na sessão. O projeto tem grande apoio da França (amplamente dependente da energia nuclear) e da Alemanha (que precisa do gás).

As reações críticas foram imediatas. Na opinião de Ariadna Rodrigo, da organização ambientalista Greenpeace, a iniciativa é produto da “política suja, e o resultado é escandaloso”. “Vamos enfrentar isso nos tribunais”, acrescentou. A jovem ativista sueca Greta Thunberg afirmou, por sua vez, que esta iniciativa “atrasará a transição sustentável, desesperadamente necessária”, e aprofundará a dependência de combustíveis russos. “Hipocrisia é impressionante, mas infelizmente não surpreende”, disse.

O governo de Luxemburgo emitiu uma nota para “lamentar” a decisão do Parlamento. “Uma transição real para a neutralidade climática deve prescindir tanto dos combustíveis fósseis quanto da energia nuclear, uma tecnologia cara e altamente perigosa”, reagiu.

Já a Comissão Europeia comemorou a votação favorável à concessão do selo verde ao gás e à energia nuclear. “A votação é um reconhecimento importante da nossa abordagem pragmática e realista para ajudar muitos Estados-membros [do bloco] em seu caminho de transição para a neutralidade climática”, declarou a Comissão, em uma nota oficial.