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A fase mais forte do episódio de El Niño de 2023-2024 chegou ao fim. Dados analisados pela MetSul Meteorologia mostram que o El Niño passou a ser moderado (anomalias de temperatura da superfície do mar entre 1ºC e 1,4ºC) depois de 28 semanas seguidas com anomalias semanais em patamar de forte ou muito forte intensidade (1,5ºC ou acima).

Uma “língua” de águas mais quentes que a média, característica do fenômeno El Niño, segue presente na faixa equatorial do Oceano Pacífico neste começo de março | NASA

De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, publicado ontem, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central (região Niño 3.4) está em 1,3ºC, portanto dentro da faixa de intensidade moderada.

A última vez em que o Pacífico Equatorial Centro-Leste esteve com valores na faixa de moderada intensidade foi na semana de 16 de agosto do ano passado. Desde então, todas as semanas até 21 de fevereiro apresentaram anomalias de temperatura da superfície do mar na faixa de forte a muito forte (acima de 1,5ºC).

Já o Pacífico Equatorial nos litorais do Peru e do Equador, a denominada região Niño 1+2, estava neste final de fevereiro com anomalia de +0,79ºC. Anomalia positiva nesta área do Pacifico favorece mais chuva no Sul, mas esta região chegou a ter anomalias de 3ºC em julho do ano passado.

O fenômeno El Niño foi declarado no começo de junho do ano passado depois de três anos seguidos sob La Niña. O seu pico ocorreu em novembro com a maior anomalia semanal de temperatura da superfície do mar observada na região Niño 3.4 na semana de 22 de novembro. Foram cinco semanas no final do ano passado com anomalias de 2ºC ou mais, ou seja, em patamar de Super El Niño.

28 semanas em patamar de El Niño forte

O El Niño esteve pela última vez com intensidade moderada no último mês de agosto. Desde então e até o final de fevereiro deste ano todos os boletins semanais da NOAA indicaram anomalias de temperatura da superfície do mar de 1,5ºC ou mais, portanto em patamar de El Niño forte ou muito forte. Veja as anomalias nas 28 semanas em que o Pacífico esteve em patamar de El Niño forte.

23/08/2023: 1,5ºC
30/08/2023: 1,6ºC
06/09/2023: 1,6ºC
13/09/2023: 1,6ºC
20/09/2023: 1,7ºC
27/09/2023: 1,5ºC
04/10/2023: 1,5ºC
11/10/2023: 1,5ºC
18/10/2023: 1,6ºC
25/10/2023: 1,6ºC
01/11/2023: 1,8ºC
08/11/2023: 1,8ºC
15/11/2023: 1,9ºC
22/11/2023: 2,1ºC
29/11/2023: 2,0ºC
06/12/2023: 1,9ºC
13/12/2023: 2,0ºC
20/12/2023: 2,0ºC
27/12/2023: 2,0ºC
03/01/2024: 1,9ºC
10/01/2024: 1,9ºC
17/01/2024: 1,7ºC
24/01/2024: 1,7ºC
31/01/2024: 1,8ºC
07/02/2024: 1,7ºC
14/02/2024: 1,5ºC
21/02/2024: 1,5ºC

O período de maior aquecimento, assim, se deu no final do ano passado, nos meses de novembro e dezembro. Entre janeiro e fevereiro, o El Niño começou a perde intensidade, embora seguisse ainda com anomalias semanas na faixa de forte intensidade.

Fenômeno segue ainda por algumas semanas 

As condições quentes no Pacífico ainda devem permanecer por mais algum tempo. Segundo a última projeção da Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, as probabilidades indicam a persistência do fenômeno El Niño nestes últimos dias do verão, uma transição para fase de neutralidade ao longo do outono e o retorno do fenômeno La Niña no final do outono ou durante o inverno.

Probabilidade de La Niña aumenta muito no inverno | IRI

As projeções de probabilidade da Columbia apontam no trimestre de março a maio 83% de El Niño, 17% de neutralidade e 0% de La Niña. Para o trimestre abril a junho, 27% de probabilidade de El Niño, 72% de neutralidade e 1% de La Niña. No trimestre de maio a julho, 9% de El Niño, 71% de neutro e 20% de La Niña.

No trimestre de inverno, junho a agosto, 5% de El Niño, 46% de neutralidade e 49% de La Niña. No trimestre julho a setembro, 3% de El Niño, 26% de neutralidade e 71% de La Niña. Finalmente, no trimestre de primavera, de setembro e novembro, 5% de El Niño, 27% de neutralidade e 68% de La Niña.

O que é El Niño

Um evento do fenômeno ocorre quando as águas da superfície do Pacífico Equatorial se tornam mais quente do que a média e os ventos de Leste sopram mais fracos do que o normal na região. A condição oposta é chamada de La Niña. Durante esta fase, a água está mais fria que o normal e os ventos de Leste são mais fortes. Os episódios de El Niño, normalmente, ocorrem a cada 3 a 5 anos.

El Niño, La Niña e neutralidade trazem consequências para pessoas e ecossistemas em todo o mundo. As interações entre o oceano e a atmosfera alteram o clima em todo o planeta e podem resultar em tempestades severas ou clima ameno, seca ou inundações. Tais alterações no clima podem produzir resultados secundários que influenciam a oferta e os preços de alimentos, incêndios florestais e ainda criam consequências econômicas e políticas adicionais. Fomes e conflitos políticos podem resultar dessas condições ambientais mais extremas.

Ecossistemas e comunidades humanas podem ser afetados positiva ou negativamente. No Sul do Brasil, La Niña aumenta o risco de estiagem enquanto El Niño agrava a ameaça de chuva excessiva com enchentes. Historicamente, as melhores safras agrícolas no Sul do país se dão com El Niño, embora nem sempre, e as perdas de produtividade tendem a ser maiores sob La Niña. O aquecimento do Pacífico, historicamente, agrava o risco de seca no Norte e no Nordeste do Brasil enquanto La Niña traz mais chuva para estas regiões.

A origem do nome do fenômeno data de 1800, quando pescadores na costa do Pacífico da América do Sul notavam que uma corrente oceânica quente aparecia a cada poucos anos. A captura de peixes caía drasticamente na região, afetando negativamente o abastecimento de alimentos e a subsistência das comunidades costeiras do Peru. A água mais quente no litoral coincidia com a época do Natal.

Referindo-se ao nascimento de Cristo, os pescadores peruanos, então, chamaram as águas quentes do oceano de El Niño, que significa “o menino” em espanhol. A pesca nesta região é melhor durante os anos de La Niña, quando a ressurgência da água fria do oceano traz nutrientes ricos vindos do oceano profundo, resultando em um aumento no número de peixes capturados.

O último episódio intenso de aquecimento se deu entre 2015 e 2016 e foi de muito forte intensidade, o que rendeu a expressão Super El Niño e o apelido de “Godzilla”. Este evento foi responsável por grandes enchentes no Sul do Brasil e alguns dos maiores picos de cheia do Lago Guaíba, em Porto Alegre, desde 1941.

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