O fenômeno El Niño, que foi declarado no último mês, segue presente no Oceano Pacífico e vai persistir até ao menos o começo de 2024. Os dados de temperatura da superfície do mar na faixa equatorial mostram gradual e constante intensificação do aquecimento que marca o El Niño.
Conforme o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 1,1ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global. O valor está na faixa de El Niño moderado (+1,0ºC a +1,4ºC).
Por outro lado, a região Niño 1+2, estava com anomalia de +3,4ºC, em nível de El Niño costeiro muito intenso junto ao Peru e Equador, aquecimento intenso na região que persiste desde o mês de fevereiro. Os valores nesta parte do Pacífico na última semana foram os mais altos em quase 25 anos.
A tendência para os próximos meses é que o El Niño siga ganhando força no Pacífico. A maioria dos modelos de clima indica um evento forte durante a primavera e algumas simulações insistem em um evento muito forte a intenso com configuração de um Super El Niño.
O atual episódio do El Niño, que está em seus momentos iniciais, contudo, é muito diferente de qualquer outro. Em outros eventos, mesmo intensos como os de 1982-1983 ou 1997-1998, o El Niño era a principal área de aquecimento anômalo dos oceanos no mundo na faixa equatorial do Pacifico.
Isso não ocorre em 2023. Neste momento, além do forte aquecimento do Pacífico, as águas dos oceanos estão superaquecidas em várias partes do mundo com grandes ondas de calor marinhas atingindo diversos oceanos ao redor do planeta. Há grande anomalias positivas de temperatura do mar no Atlântico Norte, no Mediterrâneo e no Pacífico Norte.
O Atlântico Norte, por exemplo, jamais esteve tão quente com recordes diários de anomalia de temperatura da superfície do mar desde 1º de março. A temperatura oceânica nesta parte do planeta desvia e muito da climatologia histórica neste verão setentrional, o que tem contribuído para ondas de calor atmosféricas brutais no Hemisfério Norte.
O El Niño mexe com a circulação geral da atmosfera e interfere no clima no mundo inteiro. Nas vezes passadas, falando de forma muito clara e simples, o fenômeno era o “dono do campinho”. Era ele o grande motor das alterações no clima. Quase só o Pacífico Equatorial estava superaquecido. Agora, há outros jogadores em campo, com outras partes dos oceanos do planeta também superaquecidas.
Mapas publicados pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, dos Estados Unidos, a NOAA, ilustram bem este cenário. Atente como estavam os oceanos do planeta em junho no evento de Super El Niño de 1997-1998 e agora em junho de 2023. Em ambos se observa a língua de águas quentes no Pacífico do El Niño, mas em 2023 as águas dos oceanos globais estão muito mais aquecidas que no evento do final da década de 90.
Os cientistas da NOAA especulam que isso pode atenuar ou interferir na resposta da atmosfera ao aquecimento do Pacífico, mas confessam ainda não saber como será esta interferência e descrevem um cenário de confusão.
“Um resultado potencial é uma resposta atmosférica mais fraca do que poderíamos esperar. A força da resposta atmosférica está relacionada com o padrão de temperatura da superfície do mar ao longo dos trópicos. Quando o El Niño é claramente a voz mais alta na sala, como foi durante o El Niño de 1997-98, a resposta atmosférica é clara. No entanto, quando o Pacífico ocidental e o restante dos trópicos também são quentes a resposta pode ser mais confusa”, observou a NOAA em comunicado.
Independente deste cenário mais confuso em 2023, a MetSul segue projetando que os efeitos devem começar a ser mais sentidos no Sul do Brasil com sua resposta típica de chuva e temperatura acima da média com excessos de precipitação a partir do fim do inverno e, em especial, durante a primavera.
Os últimos três a quatro meses do ano podem ter grandes excessos de chuva no Sul do Brasil, em particular no Rio Grande do Sul, com enchentes e temporais frequentes, exatamente o que poderia se esperar sob El Niño e que deve estar com intensidade forte a muito forte durante o último trimestre deste ano.