O fenômeno El Niño está ao redor do seu pico, mas ainda não é possível determinar que tenha atingido o seu máximo de intensidade neste evento de 2023-2024, embora seja possível que tenha ocorrido. Isso porque as anomalias de hoje estão perto do máximo já observado neste evento e, por flutuações semanais, há possibilidade ainda de o pico observado ser novamente alcançado ou superado até o começo de janeiro.
O último boletim semanal sobre o estado do Pacífico da agência climática dos Estados Unidos, publicado nesta segunda-feira, indicou que a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 1,9ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Centro-Leste.
Esta região é a usada oficialmente na Meteorologia como referência para definir se há El Niño e ainda avaliar qual a sua intensidade. O valor positivo de 1,9ºC está na faixa de transição de El Niño forte (+1,5ºC a +1,9ºC) a muito forte (igual ou acima de 2,0ºC).
Assim, a denominada região Niño 3.4 esteve com anomalias em patamar de Super El Niño por apenas duas semanas com registros de +2,1ºC na semana de 22 de novembro e +2,0ºC na semana de 29 de novembro.
Por outro lado, a região Niño 1+2, está com anomalia de +1,3ºC. Trata-se do menor valor de anomalia da temperatura da superfície do mar nos litorais do Peru e do Equador desde o boletim de 1º de março deste ano e a primeira vez que cai abaixo de 2ºC de desvio positivo desde o boletim de 17 de maio.
O El Niño costeiro junto aos litorais do Peru e Equador teve início no mês de fevereiro e atingiu o seu máximo de intensidade durante o inverno. A maior anomalia de El Niño costeiro na região Niño 1+2 neste ano se deu na semana de 19 de julho com 3,5º C. Desde o fim de agosto, esta parte do Pacífico apresenta anomalias entre 2ºC e 3ºC em todas as semanas.
Conforme o boletim de hoje, a anomalia no Pacífico Centro-Leste está apenas 0,2ºC abaixo do pico de 2,1ºC de 22 de novembro, que pode ter sido o máximo deste evento do El Niño de 2023-2024, mas ainda não é possível dizer definitivamente que se tratou do pico.
Isso porque, como se vê no gráfico acima, haverá ventos de Oeste mais forte durante a segunda metade deste mês ao redor da Linha Internacional da Data, abrindo margem para pequeno aquecimento. E, se ocorrer, não deve ser significativo. Assim, é quase certo que o El Niño está ao redor de seu pico, uma vez que a partir de janeiro espera-se o seu decaimento.
El Niño menos intenso que eventos fortes recentes
O El Niño neste momento não é tão intenso quanto outros eventos nesta época do ano, mostram dados semanais da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, a agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos.
No final de 1982, no Super El Niño de 1982-183, a anomalia no Pacífico Centro-Leste chegou a +2,6ºC ao redor do Natal. No fim de 1997, no Super El Niño de 1997-1998, a anomalia bateu em +2,3ºC. Já no Super El Niño de 2015-2016, a maior anomalia em dezembro de 2015 foi de 2,5ºC, após ter alcançado +3,0ºC em semana de novembro daquele ano.
Com base no índice ONI (Oceanic Niño Index), mantido pela NOAA, que é a referência para análise trimestral das condições do Pacífico ao usar anomalias da região Niño 3.4 (Pacífico Equatorial Centro-Leste), o atual evento de El Niño ainda não teve um trimestre em condições de Super El Niño e dificilmente deve ter. O último dado disponível, referente ao trimestre entre setembro e novembro de 2023, indicou +1,8ºC.
Já no Super El Niño de 2015-2016 foram seis trimestres seguidos com anomalia de ao menos 2ºC, sendo o primeiro entre agosto e outubro de 2015 com 2,2ºC e o último janeiro a março de 2016 com 2,1ºC. O máximo trimestral foi 2,6ºC nos trimestres outubro a dezembro de 2015, novembro de 2015 a janeiro de 2016, e dezembro de 2015 a fevereiro de 2016.
No Super El Niño de 1997-1998 houve cinco semestres com anomalias acima de 2ºC, de agosto a outubro de 1997 a dezembro de 1997 a fevereiro de 1998. Os trimestres mais quentes tiveram anomalia de 2,4ºC, em outubro a dezembro de 1997 e novembro de 1997 a janeiro de 1998.
Já no Super El Niño de 1982-1983, o Pacífico Equatorial Centro-Leste esteve em patamar de Super El Niño, assim com anomalias trimestrais de 2ºC ou mais, em quatro trimestres: setembro a novembro de 1982 (2,0ºC); outubro a dezembro de 1982 (2,2ºC); novembro de 1982 a janeiro de 1983 (2,2ºC); e dezembro de 1982 a fevereiro de 1983.
Portanto, embora um El Niño forte, a sua intensidade não supera os dos três eventos recentes de Super El Niño. Isso, porém, não significa que os seus efeitos sejam menores que os dos eventos mais fortes anteriores. Os impactos no clima não são lineares com a magnitude das anomalias do Pacífico.
Até quando o El Niño?
O fenômeno El Niño ainda deverá influenciar o clima em grande parte do primeiro semestre de 2024, projeta a MetSul. A tendência é que comece a enfraquecer a partir de janeiro e fevereiro, mas mesmo mais fraco a tendência é que ainda gere reflexos na chuva e na temperatura no outono.
De acordo com as projeções do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (gráfico acima), o El Niño chegaria ao fim e o Pacífico passaria para um estado de neutralidade em meados do outono, em torno de abril ou maio. A segunda metade do outono e o começo do inverno de 2024 se dariam sob um estado de neutralidade (sem El Niño ou La Niña).
Recordamos que em alguns eventos de El Niño, o outono do ano seguinte ao começo do evento registrou grandes excessos de chuva no Sul do Brasil. Foi o caso de abril e maio de 1941, quando Porto Alegre e muitas outras cidades do estado enfrentaram as suas maiores enchentes da história.
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