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O El Niño pode ter seu começo declarado já agora em junho ou no máximo até meados de julho, segundo a análise da MetSul Meteorologia. As condições oceânicas e atmosféricas atuais e as que se prevê em curto e médio prazos sugerem que o fenômeno já pode estar plenamente configurado nas próximas semanas.

A cada dia que passa as sinalizações dos dados correntes apontam cada vez mais para uma condição de El Niño no Pacífico equatorial. No mar, a temperatura da superfície oceânica atingiu a anomalia mínima de +0,5ºC e a tendência é de aquecimento nas próximas semanas. Na atmosfera, os indicadores são crescentemente o que se observa sob El Niño, apontando para um acoplamento das condições oceânicas e atmosféricas.

O Oceano Pacífico segue oficialmente em condições de neutralidade (ausência de El Niño e La Niña), mas, como a MetSul Meteorologia já destacou, são evidentes os sinais de que um evento de El Niño começa a se formar no Pacífico. Os mais recentes dados atmosféricos reforçam ainda mais esta percepção.


Conforme o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, que saiu na segunda, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 0,5ºC pela segunda semana seguida na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global.

O valor está exatamente no limite da neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC) com El Niño fraco (+0,5ºC a +0,9ºC), ou seja, pela primeira vez em anos a região de referência para se aferir a condição do Pacífico está em território de El Niño por duas semanas seguidas. A anomalia semanal da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 (5°S-5°N, 170-120°W) de +0,5°C foi a mais alta nesta região em pouco mais de três anos (desde a semana centrada em 22 de abril de 2020).

Anomalias positivas de ao menos 0,5ºC no Pacífico Equatorial Centro-Leste são necessárias para a caracterização de um El Niño, contudo por si só não são suficientes. São necessárias várias semanas consecutivas com aquecimento de no mínimo 0,5ºC nesta parte do Pacífico para que se declare um El Niño, o que se espera seja alcançado agora entre junho e julho.

Como o El Niño é um fenômeno oceânico-atmosférico é preciso ainda que a atmosfera na região passe a se comportar como em El Niño. Até recentemente, não havia qualquer sinal de que a atmosfera estava migrando para uma fase do fenômeno, mas agora em maio surgiram os principais sinais de acoplamento oceano e atmosfera.

O chamado Índice de Oscilação Sul (ou SOI em Inglês) mergulhou agora em maio. O indicador esteve perto da média com -1,8 em março e -1,2 em abril, logo nem perto de estar em sinal de El Niño. Nos últimos dias, entretanto, os valores já ingressam em patamar de fase quente do Pacífico. A SOI média dos últimos 30 dias neste 25 de maio está em -12.

O Índice de Oscilação Sul (SOI) é uma medida da intensidade ou força da Circulação de Walker. É um dos principais índices atmosféricos para medir a força dos eventos El Niño e La Niña e seus impactos potenciais. A SOI mede a diferença na pressão atmosférica em superfície entre o Taiti e Darwin (Austrália).

Quanto mais positivo o sinal da variável, maior é o sinal de La Niña. Quanto mais negativo for, maior o sinal de El Niño. Valores da SOI positivos sustentados acima de +8 indicam um evento La Niña enquanto valores negativos sustentados abaixo de -8 indicam um El Niño.

As previsões de precipitação para as próximas semanas ainda reforçam a ideia de um evento de El Niño próximo. Observando-se tendência semanal de chuva para a segunda metade de junho enxerga-se claramente uma faixa de precipitação acima da média na área equatorial do Oceano Pacífico, que é muito característica de El Niño.

O fenômeno El Niño deve provocar um significativo aumento da chuva no Sul do Brasil no segundo semestre. Após três anos de La Niña com sucessivas estiagens, o El Niño deve trazer uma sequência de meses de chuva acima a muito acima da média no Sul do país, em particular no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Podem ocorrer eventos extremos de precipitação com inundações, enchentes e deslizamentos de terra. Algumas enchentes podem ser de maiores proporções.

No Norte e no Nordeste do Brasil, ao contrário, o El Niño traz uma redução significativa da chuva e favorece secas no território nordestino. Modelos indicam uma marcada redução da chuva no Norte do país nos próximos meses. Trata-se de um cenário especialmente preocupante para a região amazônica.

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