Com lama até os joelhos e pouca esperança, dezenas de bombeiros seguem buscando com a ajuda de voluntários sobreviventes de um deslizamento de terra que matou pelo menos oito pessoas na Grande São Paulo. No total, o Corpo de Bombeiros registrou 24 mortos no estado de São Paulo, entre eles oito crianças, como consequência das fortes precipitações que começaram na sexta-feira.
Ao contrário do que ocorreu no domingo em Franco da Rocha, o município da região metropolitana onde ocorreu a tragédia, os socorristas já não conseguem ouvir os pedidos de ajuda dos sobreviventes enterrados sob a lama e os escombros. Contudo, ainda mantinham alguma esperança de encontrar desaparecidos.
As equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e saúde permanecem trabalhando nas buscas da tragédia da São Carlos, no Parque Paulista. Foram resgatadas 6 vítimas com vida e 8 pessoas foram achadas sem vida, já removidas do soterramento. Os desaparecidos no deslizamento podem chegar a 10.
Segundo informações preliminares das equipes de saúde da Prefeitura, são 5 homens, 2 mulheres e 1 criança identificados como Diego dos Santos, sem informação de idade; Cleber Bonfim, 37 anos; Anderson da Costa, 26 anos; Vinicius, 13 anos; Amanda Sales, 25 anos; José Ailton Vitor Silva, 30 anos; Adriana da Silva Santos, 33 anos e Oziel Vitor, 2 anos (os últimos três são da mesma família).
As imagens são impactantes. Na encosta de uma colina, o escorregamento de terra criou um enorme rio de lama e devastou tudo em seu caminho. Dos dois lados da cratera, há casas totalmente destruídas ou à beira do colapso. Mais adiante, outras residências estão muito próximas do abismo e podem despencar. O chão está repleto de tijolos, ferros retorcidos e pedaços do que foram paredes no passado.
Uma equipe dos bombeiros escavava em busca de vítimas no meio da terra e da lama, prosseguindo com seu trabalho minucioso, apesar de a esperança de encontrar alguém com vida se esvair com o passar do tempo. Em volta dos oficiais, dezenas de voluntários formam uma longa corrente para passar baldes cheios de barro e ajudar os bombeiros a remover a lama.
“Perto da casa do meu vizinho, em um barranco, atrás de um muro, tem três corpos. Podemos ver um pai e seu filho abraçados. Vamos ter que quebrar o muro para tirar eles de lá”, contou Julio Bezerra da Silva, morador de 57 anos do Parque Paulista, local onde ocorreu o desastre.
A maioria dos deslizamentos de terra que resultam em mortes no Brasil ocorre em áreas consideradas de risco, com residências construídas de maneira precária e em encostas de morros, como em Franco da Rocha. “Eles [os bombeiros] estão desconfiados que tem gente ali… Deus ajude que estejam vivos. Ontem alguém estava pedindo socorro, hoje já não está mais. Estão tentando tirar o corpo de lá. Com vida ou sem vida”, lamentou Bezerra da Silva.
De acordo com a Prefeitura de Franco da Rocha, a represa Paiva Castro que chegou a causar medo na comunidade está operando dentro da cota de segurança com 68,9% da capacidade e, neste momento, não há risco de abertura das comportas. Não há mais pontos de alagamento no município e 350 funcionários da Prefeitura atuam na limpeza e desobstrução das vias com 80 máquinas. As principais vias da cidade e o viaduto Donald Savazoni foram liberados.
A Defesa Civil Municipal interditou, até o momento, 61 imóveis. Mais de 470 chamados foram notificados pelas equipes nas últimas 48 horas. Famílias desalojadas pela chuva estão sendo acolhidas em casa de passagem do Município.
O governador de São Paulo, João Doria, destinou 15 milhões de reais para ajudar os dez municípios mais atingidos no estado. Mais de 1.500 famílias tiveram que deixar suas casas por consequência das fortes chuvas, informou o governo estadual. Desde o início da temporada de chuvas em outubro, diversos estados brasileiros vêm sendo atingidos por fortes precipitações, especialmente a Bahia, onde morreram 24 pessoas, e Minas Gerais, onde houve ao menos 19 óbitos e milhares de desalojados.