
Destruição em Derna é comparada a de uma bomba atômica após inundação catastrófica com muitos milhares de mortos | ABDULLAH MOHAMMED BONJA/AFP/METSUL METEOROLOGIA
A situação em Derna, a cidade portuária da Líbia onde duas barragens romperam no fim de semana com uma enchente catastrófica que teve uma parede de água com vários metros de altura, foi descrita como “um desastre além da compreensão”, já que a Cruz Vermelha e as autoridades locais afirmaram que pelo menos 10 mil pessoas estavam desaparecidas após as inundações devastadoras.
O número de mortos confirmados ultrapassou 5.300, disse Mohammed Abu-Lamousha, porta-voz da administração que controla o Leste da Líbia, a uma agência de notícias estatal. Tariq al-Kharraz, outro representante do governo oriental, disse que bairros inteiros sumiram, com muitos corpos arrastados para o mar.
Centenas de corpos foram empilhados em cemitérios e poucos sobreviventes conseguiram identificá-los, segundo Kharraz, que disse esperar que o número de mortos ultrapasse as 10.000 pessoas – um número também citado pela Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
O prefeito de Derna disse à emissora de TV saudita Al Arabiya que estimou que entre 18 mil e 20 mil morreram quando as duas barragens romperam, liberando um tsunami de água enquanto as pessoas dormiam. A população da cidade era de cerca de 100 mil habitantes. Ele afirmou ao canal que o cálculo do número de vítimas é baseado no número de comunidades destruídas pelas enchentes.
A praia de Derna está repleta de roupas, móveis e brinquedos infantis de casas atingidas. Os corpos não recuperados permanecem sob os escombros ou no mar, aumentando o risco de doenças. “O mar continua devolvendo dezenas de corpos”, disse Hichem Abu Chkiouat, ministro da Aviação Civil e membro do Comitê de Emergência no Leste da Líbia. O meio de comunicação local Derna Zoom postou em rede social que um quarto da cidade foi “completamente aniquilado”. “É como se uma bomba nuclear tivesse caído”, dizia a mensagem.

Um quinto da cidade líbia de Derna, de 100 mil habitantes, desapareceu com a enchente catastrófica que veio com uma onda de água de metros de altura após o rompimento de duas barragens. | AFP/METSUL METEOROLOGIA

Cidade de Derna foi arrasada na enchente que deixa milhares de mortos | AFP/METSUL METEOROLOGIA

Devastação é absoluta e imagens lembram a de uma cidade bombardada | AFP/METSUL METEOROLOGIA

Laterais de edifícios foram arrancadas pela torrente com metros de alttura | AFP/METSUL METEOROLOGIA

Veículo preso na lama deixado pela inundação na cidade líbia de Derna | ABDULLAH MOHAMMED BONJA/ANADOLU AGENCY/AFP/METSUL METEOROLOGIA
A chuva extrema na Líbia foi consequência de sistema de baixa pressão em altos níveis da atmosfera, que recebeu o nome Daniel, e que depois fez a transição para um “medicane”, ou seja, um ciclone tropical mediterrâneo. Este sistema trouxe chuva de até três anos em dias no Centro da Grécia com inundações catastróficas e mortos.
Medicanes são ciclones que se formam sobre o Mar Mediterrâneo durante os meses mais quentes, normalmente no final do verão e no outono. Muitas vezes conseguem assumir algumas das características de ciclone tropical (centro de baixa pressão quente), apesar do pequeno tamanho do Mediterrâneo e da localização em latitudes médias.
Chuva extrema, como a trazida pelo medicane, é muito mais perigosa na Líbia em que em países do outro lado do Mediterrâneo, no Sul da Europa. Isso porque a Líbia é uma região desértica, em que a água tem maior dificuldade de absorção pelo solo, o que acaba gerando torrentes de água muito mais violentas. Está documentado que mesmo chuva de 20 mm ou 30 mm em áreas de deserto podem gerar situações perigosas, mas Daniel provocou acumulados muitíssimo superiores.
O Centro Metrológico Nacional da Líbia disse que emitiu alertas antecipados para a tempestade Daniel, um “evento climático extremo”, 72 horas antes da sua ocorrência, e notificou todas as autoridades governamentais por e-mail e através da mídia, “exortando-as a tomar medidas preventivas”.
De acordo com o centro, a localidade de Bayda registrou um recorde de 414,1 milímetros de chuva de domingo para a segunda-feira. Bayda recebe apenas cerca de 12,5 mm em média em setembro e cerca de 550 mm de chuva em um ano médio.
A cidade portuária devastada de Derna, que tem cerca de 100 mil habitantes, está numa área baixa, o que a torna mais suscetível a inundações. O solo, seco e rachado após um verão longo e quente, não está preparado para absorver grandes quantidades de água. O rompimento das duas barragens tornou a catástrofe ainda maior.