No final de junho a MetSul publicou uma análise em que destacou a severidade da seca nos Estados Unidos e alertava que o quadro iria piorar ainda mais com extremos de calor e prejuízos enormes para a agricultura americana. Ontem, o NOAA, órgão oficial de Meteorologia dos Estados Unidos, informou que 54,6% da área territorial continental do país (exceto Alaska e Havaí) enfrenta condição pelo menos moderadas de estiagem, sexto maior percentual desde que se iniciaram os registros meteorológicos em 1895. A última vez que uma área tão extensa do território norte-americano foi afetada por seca foi em dezembro de 1956. Em julho de 1954, o percentual do país sob seca alcançou 60,4%, mas nada comparado aos anos do Dust Bowl com 62,1% em dezsmbro de 1939 e 79,9% em julho de 1934 (mapa abaixo do Índice Palmer de Seca). O Dust Bowl foi uma seca épica nos Estados Unidos que arrasou campos e provocou enormes tempestades de areia, provocando a migração de milhões de pessoas. Esta grande seca de 2012 tende a figurar entre os maiores desastres naturais em prejuízo financeiro da história americana. As estiagens de 1988 e 1980 são, respectivamente, o segundo e terceiro maiores desastres naturais em prejuízo econômico dos Estados Unidos, só atrás do furacão Katrina de 2005.


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O nível dos oceanos no planeta em 2011 quebrou a tendência de aumento contínuo dos últimos anos e caiu. Dois fatores impactam os níveis dos oceanos na Terra, a quantidade de água (derretimento de geleiras) e temperatura, à medida que águas mais quentes têm um volume maior, e as mais frias volume menor, o que se denomina de expansão térmica. Apesar dos oceanos estarem ligados, o nível deles não é uniforme e varia pelo planeta. As áreas em azul escuro no mapa tiveram um aumento de até 20 centímetros e as regiões em marrom apresentaram redução do nível.  Chama atenção no mapa as grandes áreas na cor marrom no Pacífico Leste e na costa Oeste da América do Norte, resultado do episódio de La Niña e da fase negativa da PDO (Oscilação Decadal do Pacífico) em que as águas ficam mais frias e, com isso, cai o nível das águas do oceano.

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Um artigo publicado na última semana pelo jornal inglês Daily Mail destacou um estudo de reconstrução do clima dos últimos dois mil anos na Europa. Como os romanos conseguiram, por exemplo, plantar uvas no Norte da Inglaterra ? Isso porque o clima era mais quente do que se crê. A pesquisa sugere que a Grã-Bretanha experimentou período mais longo de verões quentes que nos dias atuais, entre outras descobertas anunciadas pelos cientistas. Pesquisadores alemães utilizaram a conhecida técnica de anéis de árvores para afirmar que o clima global estava em tendência de resfriamento de dois mil anos até o aquecimento do século XX. Este resfriamento nos últimos dois milênios foi intercalado por intervalos de temperatura mais alta como o Período de Aquecimento Medieval assim como na era do Império Romano, quando a temperatura seria 1ºC mais alta que nos dias atuais, época em que não havia fábricas ou carros.


O chefe da pesquisa científica, o Professor Dr. Jan Esper, da Universidade Johannes Gutenberg, descreve o resultado do estudo concluído: “Descobrimos que as estimativas de aquecimento do planeta durante as idades medieval e romana eram subestimadas”. O dado é relevante porque, pela atual tese do aquecimento global, sustenta-se que o planeta aqueceu 0,6ºC durante todo século XX, e pelo estudo publicado agora a temperatura seria mais de 1º C maior há mil ou dois mil anos que antes se acreditava. Os cientistas encontraram nesta pesquisa uma tendência de resfriamento de 0,6ºC nos últimos dois mil anos, o que, segundo eles, poderia ser atribuído a mudanças na órbita da Terra com um maior distanciamento do Sol. O trabalho levou em conta anéis de árvores fossilizadas na Lapônia da Finlândia, uma das áreas mais frias do planeta e apontada como entre as que mais aqueceu nas últimas décadas em todo o globo pela sua proximidade com o Ártico. Os dados coletados de reconstrução a partir de anéis de árvores datam de 138 AC. Além dos períodos de aquecimento, a pesquisa também acusou as fases de forte resfriamento do planeta, como a Pequena Era do Gelo, como é conhecido o intervalo de 1500 a 1800 em que houve maior atividade vulcânica e reduzida atividade solar, nos chamados Mínimos solares de Maunder e Dalton, o que favoreceu acentuada queda da temperatura planetária.

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No dia 12 de julho houve uma enorme explosão no Sol, de classe X.1, logo na categoria X das mais fortes, que provocou uma ejeção de massa coronal. Na América do Norte, a aurora boreal chegou a ser observada em locais tão ao Sul como a Califórnia. Já no Sul, o fenômeno da aurora austral foi visto na Nova Zelândia e no Sul da Austrália. No dia em que houve a explosão houve um blecaute de rádio pela tempestade geomagnética. No mapa abaixo do NOAA (D-region absorption plot) se observa a região do blecaute de rádio e verifica-se que a área mais afetada no planeta incluiu parte do território do Brasil. Blecautes de radio por tempestade solar podem ter impacto significativo em comunicação por HF (alta frequência) e sistemas de navegação por baixa frequência (LF).


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A imagem acima é da segunda-feira, 9 de julho, e foi feita no sentido da zona Norte de Porto Alegre e a área metropolitana pelo nosso colaborador Leandro de Paula. O que chama a atenção na foto é a nítida camada enegrecida de ar, perto da superfície, sobre a cidade. Poluição !! A sondagem atmosférica por balão meteorológico do Salgado Filho daquele dia indicou inversão térmica tênue a apenas 200 metros de altitude, mas suficiente para ter retido as partículas poluentes. Este é um tema que merece aprofundamento no debate eleitoral que começa em Porto Alegre e região metropolitana. É cada vez mais freqüente o registro de dias com qualidade do ar apenas regular na Grande Porto Alegre à medida que a economia se expande e a frota de veículos aumenta muito. Como estará o ar que respiramos daqui a cinco ou dez anos ? E que faremos, se faremos, como sociedade, para mitigar esta crescente e danosa poluição atmosférica ?

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Cerca de 500 pinguins apareceram mortos no Litoral Norte do Rio Grande do Sul no final da semana passada. O site de humor aqui do Rio Grande do Sul “O Bairrista” não perdeu a oportunidade de brincar, e destacou que eles morreram de frio. Longe de ser  piada, a hipótese dos pingüins terem realmente morrido de frio é real. Pesquisadores da UFRGS acreditam que os animais morreram de causas naturais, de acordo com o relatório preliminar de ontem. O Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) chegou à conclusão pelas condições em que os animais foram encontrados e pela experiência em estudos com a espécie. A maioria dos pinguins encontrados na última semana eram jovens. “Aves que estão no primeiro ano de vida são inexperientes. Todos esses aspectos associados à entrada de frentes frias na última semana são condizentes com o padrão de encalhes no litoral de todos os anos”, destacou o pesquisador Maurício Tavares. Observe no mapa como as águas do Atlântico estiveram muito mais frias que a média nos últimos dias exatamente junto à costa gaúcha com a incursão da gelada Corrente das Malvinas. (foto de Pedro Revillion/Correio do Povo).

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O Aeroporto de Guarapuava (SBGU), no Paraná, reportou em boletim meteorológico da manhã de hoje a ocorrência de chuva congelante ou “freezing rain” em Inglês, que tem o código internacional FZRA. Trata-se de chuva que se precipita de forma líquida, mas ao atingir a superfície congela. Nos parece um grosseiro erro de avaliação. Como o próprio metar assinala, a temperatura era de 7ºC positivos no local. A ocorrência de FZRA requer temperatura negativa em superfície, caso contrário a precipitação não congelaria uma vez no solo. Não temos idéia do que o observador viu, mas chuva congelante garantimos que não foi. No Morro da Igreja, houve relato de grãos de gelo. O cenário era muito difícil à ocorrência de neve, já que, apesar do frio suficiente para o fenômeno em altitudes mais altas (700 hPa) pela passagem de uma baixa fria (cavado) pelo Sul do Brasil, havia uma camada de ar mais quente antes da superfície com os modelos indicando até 3ºC ou 4ºC positivos no nível de 850 hPa (1500 metros). Por isso, grãos de gelo (que se formam pela combinação de flocos de neve e gotas de chuva que congelam).

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O metar acima é do amanhecer de hoje no Aeroporto Internacional de Ezeiza, na Grande Buenos Aires. Observe a temperatura: 4ºC negativos. A mínima na estação foi de 4,8ºC abaixo de zero, valor bastante baixo mesmo para a fria Ezeiza no inverno. Outro detalhe é a presença de nevoeiro na região ao amanhecer. Interessante é que, a despeito da mínima de 4ºC abaixo de zero em superfície, a temperatura em altura, onde normalmente é mais frio, era muito maior. Segundo o modelo americano, a temperatura em 850 hPa (1500 metros na madrugada) era de +4,9ºC. Já pelo modelo Europeu era de 5,1ºC. Tamanha diferença (inversão) favoreceu nevoeiro na região. É um sinal do que nos espera aqui no Rio Grande do Sul nos próximos dias.

A segunda metade da semana será marcada por ar muito seco que passará a cobrir o Rio Grande do Sul, o que vai garantir sequência de dias de sol. Valores muito baixos de umidade relativa do ar são esperados nos próximos dias não só no Sul do Brasil, mas também no Sudeste e no Centro-Oeste, o que fará com que haja mínimas bastante baixas, até as menores do ano até agora em alguns locais do Sudeste e do Centro-Oeste, pelo ar bastante seco em conseqüência do sistema de baixa pressão mais ao Norte que o normal na costa do Sul do Brasil (mapa abaixo com a projeção do modelo GFS de umidade em 700 hPa para a tarde do sábado). Aqui no Rio Grande do Sul, as madrugadas seguirão frias nos próximos dias, mas as tardes aquecem gradualmente com marcas amenas, especialmente na sexta e no sábado.


Não só se projeta uma grande amplitude térmica (diferença de temperatura da noite para o dia) pelo ar seco, mas também acentuadas variações de temperatura mínima por microclimas locais com o frio mais intenso em pontos de menor altitude e em baixadas e vales. As diferenças térmicas serão enormes de um ponto para o outro, até dentro de um mesmo bairro, segundo a altitude.

Haverá ainda inversão térmica com mais frio em superfície que a 1000 ou 1500 metros de altitude, o que deve trazer nevoeiro, até denso em alguns pontos, na segunda metade da semana. Para sexta-feira, por exemplo, o modelo Europeu indica mínima de 4ºC a 6ºC para Porto Alegre, mas com 12ºC a cerca de 1500 metros de altitude sobre a Capital. Isso deve fazer também que pontos altos (cumes de morros) na Serra e nos Aparados possam ter mínimas mais altas que as de bairros quase ao nível do mar em Porto Alegre em algumas madrugadas. Já as baixadas da Serra, Aparados e do Noroeste do Rio Grande do Sul (região de Santa Rosa) deverão registrar algumas mínimas bem baixas (negativas) e com geada mesmo de forte intensidade. (Colaborou Alexandre Aguiar)