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Será um começo de novembro como poucas vezes se viu ou talvez nunca tenha se visto. A menos de um mês do começo do verão climático (trimestre dezembro a fevereiro), uma massa de ar frio atipicamente intensa para esta época do ano e de grandes proporções vai avançar pela América do Sul e trazer condições mais típicas de junho e julho em pleno penúltimo mês do ano, o que é absolutamente anormal.

A massa de ar frio atingirá estados do Centro e do Sul do Brasil, além da Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. A trajetória continental do ar frio, pelo interior do continente, chegue até mesmo ao Peru e o Sul da região amazônica, no Norte do Brasil, provocando o fenômeno da friagem em pleno mês de novembro, o que é por demais incomum.

METSUL

Os modelos numéricos indicam que algumas áreas no Centro da América do Sul podem ter a temperatura mais abaixo da média em todo o mundo no primeiro dia do mês de novembro. Os dados projetam para a tarde da segunda-feira no Norte da Argentina, Bolívia, Paraguai e extremo Oeste do Mato Grosso do Sul, onde nesta época do ano predomina o calor, temperatura até 15ºC a 17ºC abaixo do que é normal para o início do mês.

Por isso, a MetSul vem enfatizando que os dados sinalizam uma massa de ar com características de junho e julho em pleno novembro. Apesar de muitos anos terem frio tardio na primavera e mesmo geada não ser incomum em novembro em locais de maior altitude do Sul do Brasil, esta incursão de ar frio, pelos dados dos modelos, excede a força que normalmente se observa em pulsos de ar frio tardios em novembro.


Como faltam quatro a cinco dias para o ingresso desta massa de ar frio, a tendência é que haja ajustes em prognósticos até a chegada do ar polar. O quão ampla será a geada, quais os dias de geada mais ampla e eventuais ocorrências de precipitação invernal, que os modelos há dias estão a indicar, somente devem ficar mais evidentes e precisos durante o fim de semana.

SAIBA MAIS: Veja como acompanhar as projeções de geada

Geada mais ampla e mesmo forte em alguns locais nesta altura do ano é extremamente preocupante pelo seu alto potencial de danos na agricultura. A colheita do trigo ainda não chegou ao fim e muitas áreas já começaram o plantio da safra de verão. Em alguns municípios, o tempo mais frio das últimas semanas ainda impede o plantio porque a temperatura do solo está muito baixa.

Corredor polar escancarado

A chamada Oscilação Antártica ou Modelo Anular Sul ou Meridional é uma das mais importantes variáveis que impacta as condições no Brasil e no Hemisfério Sul, tanto na chuva como na temperatura. Do que se trata? Trata-se de um índice de variabilidade relacionado ao cinturão de vento e de baixas pressões ao redor da Antártida.

A Oscilação Antártica, também chamada de Modo Anular Sul, tem duas fases. A positiva e a negativa. Na positiva, o cinturão de vento ao redor da Antártida se intensifica e se contrai em torno do Polo Sul. Já na fase negativa, o cinturão de vento enfraquece e se desloca para Norte, no sentido do Equador, obviamente sem atingir a faixa equatorial.

UNIFEI

Com a maior ondulação da corrente de jato na fase negativa cresce a chance de que ocorram eventos de frio mais intenso no Cone Sul da América e em outras áreas mais meridionais dos continentes do Hemisfério Sul como o Sul da África, Austrália e Nova Zelândia. Foi o que favoreceu o frio intenso do final de julho do ano passado com a segunda maior nevada neste século no Rio Grande do Sul, quando a AAO apresentou uma forte queda e o ar muito gelado da Antártida avançou até o Sul do Brasil.

UNIFEI

O mesmo padrão foi observado em meados de junho deste ano, o que trouxe alta frequência de dias frios no mês, que foi o mais frio de 2022 no Sul do Brasil. Agora, os modelos indicam que neste final de outubro, a Oscilação Antártica sofrerá uma forte queda, ou seja, vai se abrir, ou melhor, ficar escancarado o corredor polar que favorece o avanço do ar polar. E o destino será a América do Sul.

As fases da Oscilação Antártica influenciam ainda o posicionamento das ciclogêneses (formação de ciclones extratropicais) em todo o Hemisfério Sul. Quando na fase negativa, a que favorece mais frio no Sul do Brasil, os ciclones extratropicais tendem a ocorrer em latitudes mais baixas do que na fase positiva, logo mais distantes da Antártida e mais próximos do Brasil.

Por isso, o ingresso do ar frio será acompanhado de um profundo centro de baixa pressão que pode dar origem a um ciclone extratropical, que trará vento forte a intenso acompanhando o ingresso da massa de ar frio na segunda-feira com muito baixa sensação térmica em diversas cidades da parte meridional do Brasil.

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