Mudanças climáticas e processo acelerado de savanização da região amazônica pela alteração do regime de chuva e temperatura são a principal ameaça para animais da região como as capivaras | NELSON ALMEIDA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Nenhum animal foi tão falado no Brasil nos últimos dias no Brasil como a capivara. Resultado de um caso que foi parar até na Justiça depois de o Ibama ter aplicado multas por crimes ambientais contra um influencer de redes sociais do estado do Amazonas que publica vídeos com uma capivara e explorando a imagem de outros animais, o que não é permitido pela legislação brasileira.

A capivara é um dos tantos animais ameaçados na região amazônica pelo desmatamento, o garimpo ilegal e as mudanças climáticas. Das onças e jaguatiricas aos tamanduás e capivaras, a maioria dos mamíferos terrestres que vive na Amazônia brasileira está ameaçada pelas mudanças no clima e pela projetada savanização da região. É o que diz um estudo publicado na revista Animal Conservation da Universidade da Califórnia, em Davis.

O estudo constatou que mesmo os animais que usam habitats de floresta e savana, como pumas e tatus gigantes, são vulneráveis a essas mudanças. Também ilustra como espécies e terras protegidas por meio de esforços locais de conservação não são imunes às mudanças climáticas globais.

“Estamos perdendo a floresta amazônica enquanto falamos”, disse o principal autor Daniel Rocha, que conduziu a pesquisa como aluno de doutorado no Departamento de Vida Selvagem, Peixes e Biologia da Conservação da UC Davis.

“A biodiversidade da Amazônia é muito suscetível aos efeitos das mudanças climáticas. Não é apenas local; é um fenômeno global. Não podemos impedir isso apenas pela aplicação da lei, por exemplo. Essas espécies são mais suscetíveis do que imaginávamos, e mesmo as áreas protegidas não podem protegê-las tanto quanto pensávamos.”

O que é ‘savanização? A savana intocada é um bioma único que suporta uma gama diversificada de vida. Mas “savanização” aqui se refere a quando a exuberante floresta tropical dá lugar a uma paisagem mais seca e aberta que se assemelha à savana, mas na verdade é uma floresta degradada. O desmatamento local e as mudanças climáticas globais na temperatura e na precipitação favorecem essa conversão ao longo das bordas Sul e Leste da Amazônia brasileira.

Espécies arbóreas como macacos São claramente afetadas por tais mudanças. Mas os autores do estudo queriam entender melhor como se espera que os mamíferos terrestres se saiam, especialmente aqueles que usam habitats de floresta e savana quando têm acesso a ambos.

Para o estudo, os pesquisadores realizaram pesquisas com armadilhas fotográficas de mamíferos terrestres em quatro áreas protegidas do sul da Amazônia brasileira, que é uma mistura de floresta tropical e Cerrado natural, ou savana. Usando modelos estatísticos, eles quantificaram como 31 espécies foram afetadas pelo habitat de savana. Eles então procuraram diferenças entre as espécies conhecidas por usar principalmente floresta tropical, savana ou ambos os habitats.

Os resultados mostraram que apenas algumas espécies preferem o habitat de savana. Rocha observa que os modelos foram baseados em savana intocada – não degradada –, então os efeitos negativos da savanização entre os animais provavelmente serão ainda maiores. As matas ciliares, que margeiam as margens úmidas de rios e córregos, ajudaram a amortecer os efeitos da savanização até certo ponto.

“Infelizmente, há mais perdedores do que vencedores”, disse Rocha, que atualmente é professor assistente na Southern Nazarene University, em Oklahoma. “A maioria das espécies amazônicas, quando pode escolher entre boas florestas e boas savanas, escolhe a floresta. Isso é verdade mesmo para espécies consideradas “generalistas”, que usam ambos os habitats. À medida que perdemos florestas, eles também sofrem.”

Os resultados indicam que, se a savanização causada pelo clima faz com que as espécies percam o acesso ao seu habitat preferido, reduzindo a capacidade até mesmo das áreas protegidas de proteger a vida selvagem. Os autores dizem que isso deve ser considerado ao avaliar os possíveis efeitos das mudanças climáticas nessas espécies.

O estudo tem como co-autor Rahel Sollmann, ex-orientador de Rocha na UC Davis, que agora está no Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológico e Vida Selvagem em Berlim, Alemanha. O trabalho foi financiado pela CAPES do Ministério da Educação do Brasil, National Geographic Society, Horodas Family Foundation for Conservation Research, The Explorers Club, Alongside Wildlife Foundation e Hellman Foundation. O estudo recebeu apoio logístico do ICMBio.