Mês de abril é tipicamente de “meia estação”, marca um aumento do número de dias de temperatura agradável no Sul do Brasil e tem aumento na queda das folhas pelo avanço do outono | FERNANDO OLIVEIRA

Abril tem um clima já típico de outono ao passo que março, que está terminado, e que marca o início da estação das folhas, ainda guarda mais características de verão. Por isso, dias de calor são comuns em março enquanto em abril são menos frequentes, embora ainda ocorram.

Os dias com madrugadas amenas ou frias também aumentam em abril pela climatologia e em alguns anos ocorrem até episódios de frio muito intenso. Em 1999, por exemplo, chegou a nevar no começo da segunda quinzena de abril por conta de uma intensa massa de ar frio associada a um poderoso ciclone que trouxe enorme ressaca e danos na costa gaúcha.

Outra característica do mês de abril é o aumento da frequência de dias com registro de nevoeiro e neblina entre a madrugada e o período da manhã à medida que cresce o número de madrugadas de temperatura mais baixa. Em algumas ocasiões, o nevoeiro pode ser denso e perdurar por várias horas.

Abril em 2022 vai transcorrer sob condição oficialmente de neutralidade no Oceano Pacífico após três anos com La Niña, mas no Pacífico Leste já se instala um evento de El Niño costeiro com enorme aquecimento das águas nos litorais do Peru e do Equador.

De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 0,0ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há El Niño ou La Niña. O valor está na neutralidade absoluta faixa neutra de -0,4ºC a +0,4ºC.

Por outro lado, a região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, que costuma impactar as precipitações e a temperatura no Sul do Brasil em qualquer época do ano, estava com anomalia de +2,0ºC, portanto em nível de El Niño costeiro forte a muito forte como não se via desde 2017 nesta época do ano.

Mês de clima de “meia estação”

Em nenhum mês do ano a expressão “clima de meia estação” costuma ser tão verdadeira quanto em abril. Março ainda tem muitos dias de calor e maio já costuma registrar algumas jornadas gélidas. Com efeito, na primavera, setembro tem extremos de frio e calor enquanto outubro não raro apresenta dias muito quentes e alta incidência de temporais.

Assim, abril é o mês do ano em que o padrão de temperatura é o menos extremado entre todos os meses do ano. Dias de muito frio ou de muito calor são muito menos comuns que em qualquer outro mês do calendário. Portanto, o predomínio é de dias agradáveis e isso determina que muita gente goste desta época do ano.

Porto Alegre, por exemplo, tem em abril médias históricas de temperatura que oferecem um grande conforto térmico. A temperatura média mensal era de 20,1ºC na série 1961-1990 e subiu para 20,5ºC nas normais do período 1991-2020. A mínima média na série 1961-1990 foi de 16,3ºC ao passo que no intervalo 1991-2020 se elevou para 16,8ºC.

A máxima média em Porto Alegre nas normais 1961-1990 foi de 25,0ºC e nas normais 1961-1990 se elevou para 26,4ºC. Assim, abril ficou mais quente nos últimos 30 anos na capital gaúcha, o que acompanha uma tendência de grande parte do mundo que se tornou mais quente durante as últimas décadas.

Abril não costuma ter extremos de chuva

O Rio Grande do Sul não tem uma estação seca ou chuvosa como ocorre no Brasil Central, Amazônia ou parte do Nordeste. Entre o mês mais chuvoso e o menos chuvoso as médias de precipitação não variam muito.

Com efeito, abril e maio costumavam ser os meses com as menores médias de precipitação do ano. No caso de Porto Alegre, a média histórica de chuva de abril na série 1961-1990 era de apenas 86,1 mm. Nas normais 1991-2020, a média mensal de precipitação na capital gaúcha se elevou para 114,4 mm.

Com isso, abril que na série 1961-1990 era o mês menos chuvoso do ano passou a ser o sexto menos chuvoso do calendário. Portanto, abril é um mês que, historicamente, era menos chuvoso e que nas últimas três décadas experimentou um aumento nos índices de precipitação. Mesmo assim, muitos dias de abril tendem a ser mais luminosos com a maior presença do sol.

Paradoxalmente, a maior enchente ocorrida em Porto Alegre, no ano de 1941, se deu pelo volume extraordinário de chuva que ocorreu em abril daquele ano. Ocorre que em 1941 atuava um episódio fortíssimo de El Niño, um dos mais intensos da história e com valores extraordinários da Oscilação Decadal do Pacífico (PDO). No começo de 1941, os dados da NOAA indicam que a PDO atingiu quase +3 enquanto no começo de 2023 era de -1,7.

O que esperar da chuva em abril

A maioria esmagadora dos modelos de clima analisados pela MetSul Meteorologia indica que o mês que começa não será muito chuvoso. Ao contrário, quase todos indicam um abril de chuva abaixo da média na maior parte do Centro-Sul do Brasil.

O mapa acima mostra a projeção de anomalia (desvio da média) da chuva em abril, de acordo com o modelo norte-americano CFS (Climate Forecasting System). Este e outros modelos podem ser acessados pelo assinante na seção de mapas do site.

A sinalização do CFS é de um mês com chuva abaixo das normais históricas na maior parte do Centro-Sul do Brasil. Sinalização semelhante se dá pelo NMME (North American Multi-Model Ensemble), que reúne modelos de clima norte-americanos e canadenses.

Embora a maioria dos modelos indique um abril seco quase generalizado no Sul do Brasil, este não é o prognóstico da MetSul. Tal como já ocorreu em março, quando modelos projetavam chuva abaixo da média em praticamente toda a região, e o mês termina com áreas em que a precipitação está acima da média, a nossa previsão é que o mês registre chuva próxima ou acima da média em pontos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

A chuva terá variabilidade regional no Sul do Brasil com precipitação abaixo, perto e acima da média dependendo da área de cada estado. Setores mais ao Sul do Rio Grande do Sul e ao Norte do Paraná têm maior probabilidade de chuva abaixo da média. Pontos do Leste catarinense e da Metade Norte gaúcha têm maior chance de chuva superior à média.

No Sudeste do Brasil, áreas perto da costa em São Paulo e o Rio de Janeiro podem ter chuva acima da média pelo maior transporte de umidade do oceano, mas, no geral, grande parte do Sudeste terá um mês de abril com precipitação abaixo da climatologia histórica.

E a temperatura?

Há um razoável consenso entre os modelos de clima que este mês não será marcado por grandes extremos. O que os dados mostram é uma tendência de predomínio de dias com temperatura agradável, o que não impede que em alguns faça calor. O que não aparece nas projeções no caso do Sul do Brasil são períodos prolongados de calor e excessivo.

O mapa acima com a tendência para abril do modelo climático principal dos Estados Unidos (CFS), igualmente disponível na seção de mapas para até seis meses a frente, aponta que abril seria de temperatura acima do normal na maioria dos locais do Centro-Sul do Brasil. Tendência semelhante é indicada no mapa abaixo pelo modelo NMME.

No Brasil Central, a tendência é de temperatura acima a muito acima da média com reflexos em muitas áreas do Sudeste e do Centro-Oeste. Espera-se, assim, um mês com temperatura acima dos padrões históricos em grande parte do Centro-Sul do Brasil.

No caso do Sul do Brasil, na segunda quinzena de abril se espera que ar mais ameno a frio atue em maior número de dias na região, mas por ora nenhum dado sinaliza uma incursão de ar frio de maior intensidade. Com isso, a primeira quinzena deve ter maior número de dias quentes e a segunda uma maior frequência de jornadas amenas ou agradáveis.