O inverno que começa neste 21 de junho às 7h07 não repetirá o padrão de 2017 que foi de poucos períodos frios e muitos dias amenos ou quentes, antecipa a MetSul. Isso não implica um inverno rigoroso, mas uma estação que neste ano estará mais perto dos padrões históricos na temperatura, muito em consequência das condições do Pacífico. O inverno tem início e transcorrerá integralmente ou em grande parte sob neutralidade no Pacífico Equatorial, logo sem influência de El Niño ou La Niña. O Pacífico Equatorial Leste, perto da América do Sul, apresenta águas mais frias do que o normal, o que favorece períodos frios no Rio Grande do Sul e reduz a chuva no Centro-Sul do Brasil. Dados indicam a possibilidade de El Niño no último trimestre deste ano, porém ainda não se pode afirmar esta tendência. No ano passado, nesta mesma época, havia modelos indicando entre neutralidade e El Niño para o final de 2017 e o que se viu foi a instalação de um evento de La Niña. Se ocorrer aquecimento do Pacífico será mais tardio, o que não vai influenciar todo ou a maior parte do inverno. Entre março e junho ocorre o que a literatura técnica descreve como “barreira de previsibilidade” em que as projeções ENOS (Pacífico) têm baixa confiabilidade (skill).

Mapa de anomalias da temperatura da superfície do mar mostra o Pacífico Equatorial em neutralidade e a região próxima da América do Sul com águas mais frias do que a média .

O inverno marca o período mais frio do ano no Rio Grande do Sul. As jornadas mais frias costumam ocorrer sob influência de ciclones extratropicais intensos no Atlântico Sul e que são responsáveis por impulsionar massas de ar muito gelado para o Estado. Quando o frio está acompanhado de um ciclone potente, é comum os gaúchos terem o vento Minuano, sensação térmica negativa, minimas muito baixas, geada ampla e em alguns casos neve. Ocorre que mesmo no inverno são normais dias com calor em qualquer mês da estação, especialmente durante agosto e setembro.

A transição de períodos amenos ou quentes para frios pode se dar bruscamente com alto risco de tempo severo na forma de temporais com vento forte e granizo, até com tornados, especialmente se estiver presente um fenômeno conhecido como corrente de jato de baixos níveis, que traz ar quente e vento Norte com forte intensidade antecedendo a chuva e os temporais. Essas correntes de vento quente a cerca de 1500 metros de altitude são comuns horas antes da chegada de frente fria intensa associada a um grande ciclone. Foi exatamente o cenário responsável pela onda de tempestades com tornados no dia 11 de junho.

Tempestades severas como as registradas no dia 11 de junho no Norte gaúcho tendem a voltar a ocorrer durante o inverno

Em todos os anos se verifica este tipo de cenário em nos casos mais extremos houve formação de tornados, sobretudo em localidades da Metade Norte, como Planalto, Serra e dos Aparados, onde costuma atuar a corrente de jato em baixos níveis com maior força. Em agosto cresce o risco de granizo e setembro tem uma maior propensão a vendavais fortes, uma vez que as incursões de ar quente se tornam mais freqüentes e o encontro de massas de ar frio e quente produz tempo severo em períodos de transição.

A chuva no inverno de 2018 deve apresentar grande variabilidade regional sem excessos generalizados como em 2015, ano de Super El Niño. Haverá regiões do Estado que vão terminar o inverno com chuva abaixo da média enquanto outras regiões gaúchas tendem a ter precipitações próximas ou acima da média, especialmente no Oeste, Centro e o Sul do Estado. O fato de o Pacífico estar em modo de neutralidade, contudo, não impede que se registrem eventos de chuva muito volumosa, porém estes tendem a ser mais pontuais e regionalizados.

No geral, a chuva alterna períodos mais secos sob influência de ar polar com outros mais chuvosos. Os episódios de chuva mais volumosa ocorrem com as frentes frias e quentes, e centros de baixa pressão. O Rio Grande do Sul deve ser o estado em que devem ser anotados os maiores volumes de chuva no Sul do país no trimestre de inverno climático de junho a agosto enquanto mais ao Norte da região, principalmente no Paraná, deve chover menos.

Projeção da Universidade de Columbia dos Estados Unidos baseada em mais de 20 modelos climáticos internacionais dinâmicos e estatísticos aponta para os trimestres junho a agosto e julho a setembro chuva abaixo a muito abaixo da média em quase todo o Sul do Brasil. Consideramos o viés seco desta projeção excessivo e acreditamos em áreas com chuva acima da média, sobretudo em parte do Rio Grande do Sul.

O inverno começa agora na segunda metade de junho apenas pelo critério da Astronomia porque, na prática, o clima não respeita calendário e o frio chegou muito mais cedo, como ocorre em todos os anos. É o chamado inverno climático que se inicia na segunda metade de maio. Tanto que esse junho deve ser o mês mais frio deste inverno climático, mesmo com 20 dias de outono e apenas 10 de inverno astronômico. Até 20 de junho foram 16 dias com temperatura negativa neste ano no Rio Grande do Sul.

Junho até agora tem temperatura muito abaixo da média no Sul e no Oeste do Brasil devido aos sucessivos e fortes pulsos de ar de origem polar

A tendência para a MetSul Meteorologia não é de um inverno de frio rigoroso e continuado, mas que deve apresentar variabilidade entre períodos amenos/quentes e frios. Julho não deve ser tão gelado como está sendo junho, mas ainda terá maior frequência de massas de ar frio. Ao menos uma a duas incursões polares devem ser fortes em julho. Há modelos que indicam pra segunda metade de julho a possibilidade de um período significativamente frio. Agosto e setembro devem ter dias frios, com períodos até gelados, mas o número de jornadas de temperatura amena ou de calor aumentará. Tradicionalmente os dois meses registram dias de forte calor e em 2018 não deve ser diferente. A alternância de calor e frio é maior em agosto e setembro, o que leva a bruscas mudanças de temperatura com vento e não raro com tempestades severas.

Projeção do modelo estatístico do Inmet que reflete muito bem nossa ideia quanto ao inverno em termos de temperatura mostra marcas próximas da média no Rio Grande do Sul entre junho e agosto e acima da média na maior parte do país. Dias ou períodos mais quentes em julho e agosto podem compensar o junho de temperatura abaixo da média.  

A história do clima gaúcho mostra muitos invernos que não chegaram a ser rigorosos, mas tiveram uma ou duas ondas de frio poderosas, até com grandes nevadas, caso de agosto de 1965. No ano passado, por exemplo, que muitos afirmam “não ter tido inverno” pela temperatura média elevada, uma massa de ar polar no começo da segunda quinzena de julho trouxe neve pro Sul do Brasil e marcas muito abaixo da zero em diversas localidades com geada forte em grande número de cidades.

Sempre enfatizamos em nossas projeções de clima de longo prazo que médias escondem extremos. Um mês pode ter uma primeira quinzena fria e uma segunda metade do mês de temperatura muito alta, terminando com temperatura acima da média. Um mês pode ser a maior parte do tempo muito seco e em apenas dois dias chover excessivamente e acabar com chuva acima da média.

O fato dos modelos estarem indicando um inverno em 2018 de chuva predominantemente abaixo da média e temperatura perto ou acima da média não significa que deixará de ter frio e em vários dias de forte intensidade assim como não implica que deixarão de ocorrer eventos de chuva forte com altos volumes em curto período. Esses eventos, de frio e calor, chuva e tempo seco, estão no terreno da previsão de curto prazo (até 15 dias) e não são previsíveis com precisão meses à frente.