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O ano de 2023 começa ainda com a presença do fenômeno La Niña no Oceano Pacífico. Trata-se do terceiro ano consecutivo em que janeiro se dá com o fenômeno de resfriamento das águas do Pacífico Equatorial presente, o que explica mais um verão em que o Rio Grande do Sul sofre os efeitos de estiagem.

A La Niña, contudo, não terá muito mais tempo presente no Pacífico. Rodada após rodada se enxerga nos modelos de clima um aumento da probabilidade retorno neste ano do temido El Niño. São crescentes os indicativos entre os modelos computadorizados de clima que a fase fria (Niña) do Pacífico Equatorial pode chegar ao fim depois de três anos e que e se instalar uma fase quente (Niño), o que traria impactos no clima não só do Brasil como do resto do mundo.

De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de -0,8ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada para definir se há El Niño ou La Niña. O valor está na faixa de fraca intensidade de -0,5ºC a -0,9ºC.


Por outro lado, a região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, que costuma impactar as precipitações mais no verão e a temperatura no Sul do Brasil em qualquer época do ano, que chegou a ter uma anomalia de -2,0ºC em outubro, estava também com -0,8ºC neste começo de ano, valor na faixa de fraca intensidade.

Tal área do Pacífico tem grande correlação com a chuva no Sul do Brasil durante os meses do final do final da primavera e do verão com maior probabilidade de estiagem se estiver em território negativo e maior chance de chuva perto ou acima da média se estiver em terreno positivo. Se negativa, tende a favorecer mais incursões frias no Sul do país e tardias na primavera.

A forte anomalia negativa da primavera e agora negativa neste começo de ano acarretou na última estação temperatura abaixo da média em muitas áreas com eventos de neve tardia. Outra consequência, mais grave, é a estiagem. Porto Alegre, por exemplo, soma seis meses seguidos de precipitação abaixo da climatologia histórica.

La Niña ainda vai seguir por um tempo

O atual episódio de La Niña ainda vai nos acompanhar por mais um pouco. O fenômeno seguirá atuando neste início de ano e vai se estender até meados deste verão de 2023. Os modelos de clima estão em razoável acordo com as condições de La Niña devem seguir até ao menos ou fevereiro ou março.

Entre a segunda metade do verão e o começo do outono a tendência é que o Oceano Pacífico Equatorial ingresse numa fase de neutralidade. Isso, contudo, não significará que os efeitos da La Niña no clima cessem de imediato.

Muitas vezes neutralidade no sinal das águas do Pacífico é confundida com normalidade, mas são situações distintas. Neutralidade não é normalidade. Quando o Pacífico Equatorial está neutro, podem ocorrer extremos comuns aos sinais tanto de El Niño como de La Niña. E saindo de um evento de três anos de resfriamento, a tendência nos momentos iniciais da fase neutra é de um padrão ainda mais perto de La Niña.

Sinais de El Niño entre o outono e o inverno de 2023

As projeções crescentemente indicam a probabilidade de El Niño se instalando no decorrer de 2023 no Oceano Pacífico Equatorial. A grande maioria dos modelos sinaliza o fenômeno para o segundo semestre, mas alguns já indicam a formação da “língua” de águas mais quentes no Pacífico Equatorial ainda entre o outono e o inverno.

De acordo com as últimas estimativas de probabilidade da NOAA e da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, no trimestre de janeiro a março, importante para a cultura de soja, as probabilidades são de 36% de La Niña e 63% de neutralidade. Por sua vez, no trimestre de fevereiro a abril, quando do começo da colheita da safra de verão, a estimativa atual é de 14% de probabilidade de La Niña e 82% de neutralidade.

No trimestre de março a maio, o de outono, que marca o auge da colheita, 4% de La Niña, 82% de neutralidade e 14% de El Niño. No trimestre de abril a junho, quando ainda há colheita, 2% de probabilidade de La Niña, 67% de neutralidade e 31% de El Niño. No trimestre de maio a julho que encaminha o inverno de 2023, 3% de chance de La Niña, 48% de neutro e 49% de El Niño.

Por fim, no trimestre de inverno de junho a agosto de 2023, as probabilidades indicadas pela NOAA e a Universidade de Columbia são de 3% de La Niña, 37% de neutralidade e 60% de El Niño. No trimestre de agosto a outubro, 5% de La Niña, 29% de neutralidade e 66% de El Niño.

Chama atenção como cresce cada vez mais a probabilidade de El Niño em 2013 a cada nova atualização dos modelos climáticos. Pela primeira vez, no inverno de 2023, o El Niño apareceu com probabilidade maior que neutralidade nas atualizações agora de dezembro. No momento, as chances de El Niño na próxima primavera são tão altas quando a de La Niña daqui a apenas um mês.

Embora a NOAA e a Universidade de Columbia em suas projeções apontem chance de El Niño a partir do inverno ou começo da primavera de 2023, a MetSul Meteorologia projeta que o fenômeno virá antes e pode se instalar ainda no outono de 2023 numa transição rápida de La Niña para El Niño com pequeno intervalo de meses sob neutralidade.

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