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Os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados no mundo, especialmente em grande parte da Europa Ocidental, Oriente Médio, Ásia Central e o Noroeste da África, de acordo com um relatório europeu publicado na terça-feira pelo sistema meteorológico e ambiental Copernicus, da União Europeia.

Durante o período 2015-2022, cada ano registrou no mínimo uma anomalia de 1ºC em sua temperatura média anual em comparação com a média pré-industrial. O ano de 2022 foi o quinto mais quente de que se tem nos registros, com uma média de 1,2 ºC acima da média pré-industrial, segundo o relatório do programa europeu sobre mudanças climáticas Copernicus (C3S).

Nesses oito anos, o mundo viveu secas e inundações excepcionais e o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, principal causa das mudanças climáticas. A América Latina e o Caribe ficaram relativamente de fora desses registros, durante um ciclo basicamente dominado pelo fenômeno La Niña no Oceano Pacífico, que gera um certo resfriamento.

O Brasil e a Austrália, em particular, chamam atenção pelo ano com temperatura abaixo da média em muitas áreas dos dois países continentais pela La Niña. No Brasil, em maio geou em Brasília e no Sul da região amazônica enquanto na primavera nevou duas vezes, sendo uma em novembro, fato inédito. O Leste da Austrália teve chuva excessiva e Sydney o ano mais chuvoso em 170 anos de registros.

Na Europa, porém, a La Niña não atenuou o aquecimento. Muito pelo contrário: 2022 em particular foi “o segundo ano mais quente” pelos registros oficiais. Os meses de verão bateram recordes no Reino Unido, enquanto França, Portugal e Espanha sofreram severas secas.

Em nível global, o Paquistão sofreu enchentes históricas, o Centro e o Leste da China foram submetidos a fortes ondas de calor, e a Nigéria padeceu com dilúvios. La Niña levou temperaturas mais baixas do que o habitual para o Leste da Austrália, além de chuvas intensas.

E mais ao Sul, “a extensão do gelo do mar antártico atingiu um nível mínimo recorde ou quase recorde”. Em fevereiro de 2022, foi registrada a extensão de gelo mais precária “em 44 anos de observação por satélite”.

Em escala planetária, 2022 foi o 5º ano mais quente, mas do 4º ao 8º anos mais quentes os valores anuais estão muito próximos. A temperatura média anual global ficou 0,3°C acima do período de referência de 1991-2020, o que equivale a aproximadamente 1,2°C acima do período de 1850-1900

A Europa teve seu segundo ano mais quente já registrado, apenas atrás de 2020 e ligeiramente mais quente que 2019, 2015 e 2014. O continente teve o verão mais quente já registrado. O outono na Europa foi o terceiro mais quente já observado. Ondas de calor prolongadas e intensas afetaram o Oeste e o Norte europeu. Pouca chuva e altas temperaturas, dentre outros fatores, levaram a condições de seca generalizada.

As emissões totais de incêndios florestais no verão (junho-agosto) estimadas para a União Europeia mais o Reino Unido foram as maiores nos últimos 15 anos. França, Espanha, Alemanha e Eslovênia tiveram as maiores emissões de incêndios florestais no verão nos últimos 20 anos

Segundo Samantha Burgess, diretora-adjunta do C3S, “2022 foi um ano de fenômenos climáticos extremos” que “demonstram que já estamos sofrendo as consequências devastadoras do aquecimento do nosso planeta”.

Esses dados “demonstram claramente que, para evitar as piores consequências, a sociedade terá que reduzir urgentemente as emissões de CO2 e se adaptar rapidamente às mudanças climáticas”, acrescentou.

O relatório confirma as previsões da Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicadas em novembro e descritas como uma “crônica do caos climático” pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

Enquanto isso, a atividade humana segue tendo seu impacto. “A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou em cerca de 2,1 partes por milhão (ppm), uma porcentagem semelhante à dos últimos anos”, explica o programa europeu.

As concentrações de metano, um gás de efeito estufa mais intenso, mas de vida mais curta, cresceram cerca de 12 partes por bilhão (ppb), “o que está acima da média, mas abaixo dos recordes dos últimos dois anos”, acrescenta o texto.

Segundo o Acordo de Paris de 2015 de combate às mudanças climáticas, o ser humano precisa reduzir suas emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2050 para manter o aumento da temperatura média em no máximo 2 ºC, de preferência 1,5 ºC.