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Uruguaiana (foto) teve janeiro mais seco em 43 anos e o rio Uruguai estava com parte do seu leito seco no final do mês | JAIRO DE SOUZA/CORREIO DO POVO

Nenhuma região do Rio Grande do Sul está sofrendo com a estiagem tanto quanto o Oeste do estado, em áreas próximas da Argentina, onde no setor Nordeste do país vizinho está o centro da seca excepcional que afeta a região. Os déficits de precipitação acumulados ao longo dos últimos meses são enormes.

O verão atual é o terceiro seguido sob influência do fenômeno La Niña, mas em janeiro de 2020 e 2021 a chuva ficou acima da média histórica em diversos pontos do território gaúcho, o que não se repetiu agora. Em 2023, ao contrário, predominaram os volumes de chuva abaixo da climatologia histórica com que volumes altos muito pontuais e isolados.

Em algumas cidades, o volume total de chuva em janeiro superou a média mensal, como foi o caso de Canguçu, contudo na esmagadora maioria das cidades a chuva fico muito abaixo do normal para o mês. Ocorre que nestes locais em que mais choveu a precipitação mais alta se deu sobre a estação de medição por uma pancada ou temporal localizado enquanto pontos próximos no mesmo município a chuva foi insuficiente.

Dados da rede do Instituto Nacional de Meteorologia mostram a enorme disparidade de acumulados dentro de uma mesma região, como se viu em janeiro no Sul gaúcho. Enquanto Canguçu somou 132,4 mm, na cidade do Rio Grande choveu apenas 33,2 mm (29% da média histórica do mês). A chuva mensal de Canguçu foi resultado de apenas cinco eventos de precipitação em todo o mês, sendo que no dia 13 choveu 64,6 mm e no dia 29 acumulou 30 mm.

O maior acumulado em janeiro no estado foi registrado em Passo Fundo com 149,4 mm, o que significa 86% da média mensal, dos quais 62 mm ocorreram apenas no dia 16. Além disso, foram apenas quatro episódios com precipitação diária de 10 mm (chuva agrícola) em todo o mês.

No outro extremo, Uruguaiana registrou o menor acumulado do mês entre as estações oficiais com míseros 16,8 mm ou apenas 12% da média histórica mensal. Foi o terceiro menor acumulado mensal de janeiro desde de 1961. Em 1980, em janeiro excepcionalmente seco, choveu 7,3 mm e em 1962 o acumulado mensal foi de 14,9 mm. Assim, Uruguaiana enfrentou o janeiro mais seco desde 1980, ou seja, dos últimos 43 anos.

Próximos de Uruguaiana, no Oeste e no Sudoeste do estado, o município de Quaraí teve 42,4 mm e Santana do Livramento 48,8 mm. Já São Borja registrou ínfimos 23,2 mm (18% da média histórica). Os dados servem para ilustrar quão severa é a estiagem à medida que se avança para Oeste no Rio Grande do Sul.

Mapas mostram a evolução da seca na América do Sul semana a semana em janeiro e o agravamento da estiagem para níveis severos no Oeste gaúcho | NOAA

Em Bagé, na Campanha, o acumulado mensal foi de 47,6 mm (35% da média) e foi um dos dez janeiros mais secos desde 1961. Já nas Missões, São Luiz Gonzaga encerrou janeiro com 41,4 mm ou somente 27% da média histórica de precipitação do mês.

Com ou sem estiagem, o Nordeste do estado costuma ter mais chuva que outras regiões na maioria das cidades em razão da maior proximidade de Santa Catarina, da costa e a cobertura vegetal da Mata Atlântica, na Serra. Por isso, vários pontos do Nordeste do Rio Grande do Sul tiveram volumes mais altos.

Em Vacaria, o acumulado mensal foi de 102 mm. Um pouco mais para Oeste nos Campos de Cima da Serra, Lagoa Vermelha somou apenas 49 mm. Em Cambará do Sul, janeiro finalizou com 125,6 mm, valor que corresponde a 70% da média do mês. Em Canela, volume no mês de 199,6 mm que equivale a 71% da média histórica de janeiro.

Na região metropolitana, onde a situação hidrológica era extremamente delicada antes das chuvas de verão do fim do mês que amenizaram um pouco a situação dos rios, Campo Bom experimentou o quinto janeiro mais seco em 39 anos de dados com acumulado de apenas 63,2 mm, o mais baixo desde 2008 que teve 62,9 mm. O recorde de janeiro mais seco ocorreu em 2005 – ano de grande seca – com apenas 50,0 mm. Assim, janeiro em 2023 teve apenas 43% da média histórica mensal de precipitação na cidade do vale que é de 147,0 mm.

Na área da capital, Porto Alegre acumulou 100,8 mm na estação do Belém Novo, na zona Sul da cidade, enquanto que no Jardim Botânico, na zona Leste, choveu apenas 52,4 mm em janeiro. O acumulado mensal no Jardim Botânico foi o menor para o mês desde 2005. A estação da zona Sul teve quase o dobro da chuva por conta de um temporal isolado que despejou 70 mm em somente uma hora na tarde do dia 28.