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A última semana terminou com um episódio de instabilidade entre a Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul. No território argentino, a instabilidade foi responsável por trazer chuva com altos volumes em cidades que não registravam precipitação por semanas e que estavam sob seca severa a excepcional.

No Rio Grande do Sul, o aumento da umidade causou chuva e temporais na maioria das áreas do estado no sábado. Os temporais, que atingiram a Grande Porto Alegre, chegaram a deixar no pico da falta de luz cerca de 110 mil clientes sem energia, ou cerca de 400 mil pessoas sem o serviço essencial.

A combinação de umidade mais elevada com temperatura alta proporciona que as condições se tornem propícias para a ocorrência de temporais isolados de chuva torrencial com elevados volumes em curto intervalo, vento forte e granizo nesta época do ano.

Quanto mais quente e atmosfera e menor a pressão atmosférica, maior é o potencial para haja a formação de nuvens muito carregadas e mais alta a probabilidade de temporais localizados de maior severidade. O ar quente e a umidade são os combustíveis para tempo severo e dias de calor mais intenso apresentam maior probabilidade de tempestades se a atmosfera não estiver muito seca.


O ar mais quente e úmido que cobria a região, entretanto, já era. Intenso ciclone extratropical no Atlântico Sul, com pressão mínima central de 983 hPa na manhã de hoje, fez com que o ar mais úmido avançasse para o Norte e retornasse para o Paraná, o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil.

A imagem do canal visível do satélite GOES-16 da manhã desta segunda-feira mostrava a grande extensão do ciclone extratropical sobre o Atlântico Sul, a Leste da Argentina, enquanto o tempo estava aberto na maior parte do território argentino com um dia de céu azul na cidade de Buenos Aires.

Como é comum na atuação de ciclones extratropicais sobre o Atlântico na América do Sul, ar mais seco avança pelo setor a Oeste do ciclone de Sul para Norte enquanto ar úmido se desloca de Norte para Sul à direita do sistema.

Por isso, quando há um grande ciclone extratropical sobre o Atlântico Sul, o resultado é que a atmosfera fique mais seca em um amplo setor do continente a Oeste do ciclone. Justamente o que se observa nesta segunda-feira. Os modelos indicam baixa umidade à tarde numa extensa área da Argentina, Uruguai e o Rio Grande do Sul.

Com a atuação do ar mais seco, duas consequências se operam. Primeiro, as condições são mais favoráveis para uma maior elevação da temperatura e o calor aumentará ainda mais. Segundo, as condições ficam menos favoráveis para a chuva em uma época do ano em que as precipitações são dependentes de calor e umidade.

Com efeito, os gaúchos terão uma semana em grande parte marcada por sol e calor intenso à medida que ar ainda mais quente toma conta do território gaúcho. Calor intenso e ausência de chuva volumosa generalizada acabam por agravar a estiagem, uma vez que o solo perde umidade mais aceleradamente. O efeito é mais perdas para a agricultura.

As pancadas e temporais de verão no Sul do Brasil ocorrem onde há mais umidade, no caso em Santa Catarina e no Paraná. No Rio Grande do Sul, não deixa de chover, mais muito isoladamente e mais em pontos da Metade Norte que têm mais umidade presente na atmosfera.

À medida que o ciclone se afasta do continente, a umidade deve gradualmente retornar para o território gaúcho. Por isso, na segunda metade da semana, sob calor muito intenso, aumentarão as pancadas de chuva e crescerá o risco de temporais, que, entretanto, seguirão com caráter isolado. Apenas que as pancadas localizadas vão atingir um maior número de localidades em comparação a este começo de semana.

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