Um ciclone extratropical intenso vai se formar junto à costa da Argentina entre esta sexta e o sábado, o que vai impactar as condições do tempo em parte do território argentino, Uruguai e o Brasil no final desta semana e durante o fim de semana. Os impactos, entretanto, devem ser mais sentidos em países do Prata.
O que vai ocorrer? Uma área de baixa pressão alongada deve começar a se aprofundar muito nesta sexta-feira entre a costa da província de Buenos Aires e a foz do Rio da Prata. Ao longo desta sexta, com o aprofundamento da baixa, começa a se formar um ciclone extratropical.
No sábado, em situação muito interessante, o ciclone vai ter dois centros de menor pressão à medida que se intensifica sobre o Oceano Atlântico, que no fim do dia vão se converter em apenas um e bastante profundo de 978 hPa.
No domingo, o ciclone vai ficar quase estacionária sobre o Atlântico Sul nas coordenadas 42ºS e 50ºW com grande intensidade, apresentando pressão atmosférica central mínima de até 975 hPa, portanto sendo um sistema intenso sobre o mar.
Na segunda-feira, o ciclone extratropical se afasta e enfraquece à medida que se espera uma redução do diferencial de pressão atmosférica com a formação de um segundo ciclone que vai atuar junto à costa da Patagônia.
Por isso, o cenário deve ser de maior instabilidade nas latitudes médias da América do Sul nos próximos sete dias com duas frentes frias alcançando o Sul do Brasil com chuva e risco de alguns temporais isolados. O Uruguai, que sofre uma crise hídrica, terá acumulado de chuva em algumas cidades como não observa há meses.
A trajetória do ciclone
Ciclone vai se formar na costa atlântica da província de Buenos Aires, assim o cenário é muito diferente dos ciclone de junho e julho que impactaram duramente o Rio Grande do Sul e vários estados brasileiros com 24 mortos. Em junho, o sistema se formou junto à costa gaúcha. Em julho, sobre o Rio Grande do Sul.
Desta vez, o sistema na área mais propensa da América do Sul em seu setor atlântico para este tipo de tempestade, ou seja, da região do Rio da Prata para o Sul, na costa da Argentina. Os mapas a seguir mostram as projeções do modelo meteorológico europeu ECMWF para este ciclone.
Como se observa, o aprofundamento do centro de baixa pressão vai se dar muito ao Sul e longe do Rio Grande do Sul com a ciclogênese (formação do ciclone) ocorrendo mais de mil quilômetros ao Sul de Porto Alegre entre esta sexta e o sábado.
No fim de semana, o ciclone – desta vez mais intenso – vai avançar muito lentamente da costa de Buenos Aires para Leste e acelerará o seu afastamento da área continental da América do Sul entre o domingo e a segunda-feira.
Impacto maior no Uruguai e Argentina
Os impactos mais fortes deste ciclone extratropical devem ser sentidos com muito vento e chuva intensa na costa atlântica da província de Buenos Aires e no Uruguai, embora sejam previstos efeitos do sistema no Sul do Brasil tanto na atmosfera quanto no mar.
A costa de Buenos Aires deve sofrer com os ventos mais fortes deste sistema. As áreas de Mar del Plata, Miramar e Necochea deve ser as mais afetadas com chuva por vezes torrencial e rajadas em pontos da costa perto ou acima de 100 km/h, sobretudo no sábado. A cidade de Buenos Aires terá também tempo ventoso no sábado com rajadas que podem passar dos 60 km/h ou 70 km/h.
No Uruguai, a influência do ciclone será maior em cidades perto do Rio da Prata e do oceano, no Sul e no Leste do país. Em Montevidéu, o vento se intensifica nesta sexta e atinge seu pico no sábado com rajadas de 60 km/h a 80 km/h.
Os departamentos uruguaios mais afetados pelo vento devem ser Colonia, Montevidéu, San José, Canelones, Maldonado e Rocha. Maldonado, em particular, deve ser o departamento com mais vento com rajadas que na área de Punta del Este podem ficar entre 80 km/h e 100 km/h. Rocha deve ter vento mais forte no Sul do departamento.
Com isso, o vento forte a muito intenso pode trazer transtornos e alguns danos na Argentina e Uruguai, especialmente no sábado, embora ainda vente forte no começo do domingo. Há risco de queda de árvores, alguns danos estruturais e cortes de energia elétrica, especialmente em áreas costeiras. As águas do Rio da Prata devem ficar muito agitadas.
Menos vento e risco de ressaca no Rio Grande do Sul
Os efeitos deste ciclone em termos de vento não devem ser significativos no Rio Grande do Sul. O Litoral Sul, especialmente entre o Chuí e Rio Grande, deve ter as rajadas fortes, em média de 50 km/h a 70 km/h. Isoladamente, o vento pode atingir velocidades maiores.
Mais ao Norte, pela maior distância do campo de vento intenso, não são esperadas rajadas de vento intensas. Por isso, Porto Alegre e o Litoral Norte terão tempo ventoso no final da sexta e no fim de semana, sobretudo no sábado, mas as rajadas não devem ser suficientemente fortes para causar maiores problemas.
Por outro lado, o campo de vento muito intenso sobre o mar no Atlântico Sul será bastante extenso e o ciclone deve permanecer quase estacionário a Leste da Argentina por cerca de 24 a 30 horas. Isso vai gerar uma grande agitação marítima e swell que deve alcançar a costa do Rio Grande do Sul com provável ressaca do mar na costa gaúcha no fim de semana e no início da semana que vem.