A MetSul adverte que um ciclone extratropical se forma sobre o Uruguai e parte do Sul do Brasil entre quinta e a sexta-feira, o que vai trazer chuva e dar origem a uma linha de instabilidade com potencial de gerar fenômenos localmente severos nos três estados do Sul e nos países vizinhos.

Projeção de nebulosidade do modelo europeu para sexta-feira com o ciclone extratropical na costa | ECMWF

Uma área de baixa pressão deve avançar do Centro da Argentina para o Uruguai e o Extremo Sul gaúcho na quinta-feira, gerando chuva localmente forte e tempestade fortes a severas isoladas em províncias do Centro argentino e em diversos departamentos uruguaios.

A baixa pressão se aprofunda com valores abaixo de 1000 hPa ainda na quinta, mas tende a se intensificar mais na sexta, sobre o Oceano Atlântico, quando estiver a Sudeste do Chuí e com tendência de deslocamento para Leste, afastando-se do continente. A pressão atmosférica no centro do ciclone, a esta altura já organizado, deve cair a valores de apenas 994 hPa ou 995 hPa.

No decorrer do fim de semana, o ciclone se afasta da área continental da América do Sul com a tempestade em mar aberto a uma grande distância do território brasileiro. O afastamento tende a se dar rapidamente e no domingo o centro de baixa pressão já estará a cerca de 1,5 mil quilômetros a Sudeste de Porto Alegre a 40ºS e 35ºW.

Ciclone deve trazer temporais

A principal preocupação na atuação deste ciclone será a ocorrência de temporais. Uma linha de instabilidade deve se formar no ambiente ciclogenético (de formação do ciclone) ao longo da quinta-feira e atingir inicialmente o Rio Grande do Sul. Após, a linha avança para Santa Catarina e o Paraná.

A linha de instabilidade começa a ingressar pelo Oeste e o Sul gaúcho entre o final da madrugada e a manhã da quinta-feira. Até o meio da tarde atinge grande parte do Rio Grande do Sul.

Logo a seguir, a linha alcança várias áreas de Santa Catarina e do Paraná entre o fim da tarde e a noite da quinta, atingindo até a madrugada da sexta setores mais a Nordeste do território catarinense e do Leste paranaense.

Os mapas do modelo WRF hora a hora de evolução da instabilidade e outros, como de precipitação e vento, estão disponíveis para o assinante na seção de mapas e gráficos da nossa página.

A chegada da linha deve ser precedida por uma corrente de jato em baixos níveis, uma espécie de corredor de vento forte com ar seco e quente a cerca de 1.500 metros de altitude que traz vento do quadrante Norte e aquecimento em superfície.

Este aporte de ar quente contribuirá para a formação de nuvens de maior desenvolvimento vertical ao longo da linha de instabilidade e há potencial para a ocorrência de supercélulas de tempestade localizadas.

Com isso, ao se deslocar pelo Sul do Brasil, a linha organizada de nuvens carregadas vai trazer chuva generalizada e que em diferentes pontos será forte a intensa com possibilidade de altos volumes em curto período em alguns pontos. O seu rápido deslocamento para Norte sugere ainda o risco de vendavais que, isoladamente, podem ter rajadas acima de 100 km/h com danos. Há possibilidade ainda de granizo isolado.

A chuva neste evento do final da semana será muito irregular. Haverá muitos locais em que os volumes não devem ser altos nos três estados do Sul. A probabilidade é que os mais altos acumulados de precipitação se concentrem no Oeste da região.

Há risco de tornados?

Sempre que uma linha de instabilidade frontal ou pré-frontal se desloca em um ambiente de formação de um ciclone extratropical com uma corrente de jato de baixos níveis na dianteira há um padrão de vento divergente (cisalhamento) acentuado.

Por isso, a MetSul Meteorologia destaca que não se pode descartar a possibilidade de ocorrência de tornado no deslocamento da linha de instabilidade, mesmo que o risco seja marginal e muito inferior a de outras situações similares na região no passado recente.

Tornados são fenômenos de microescala, atingindo em regra poucas centenas de metros, não sendo possível antecipar com antecedência exceto de poucos minutos onde vão se formar exatamente. Nesta época do ano, pela climatologia histórica, em situações sinóticas semelhantes do passado, o risco foi maior em cidades de mais alta altitude da Metade Norte gaúcha e do Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina.

Haverá vento ciclônico?

Quando há um ciclone extratropical é comum que ocorram rajadas de vento forte por muitas horas consecutivas, o que se denomina de vento ciclônico. Quando sopram, as rajadas são mais fortes no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul, incluindo a região de Porto Alegre.

A MetSul destaca, contudo, que não há expectativa de vento ciclônico intenso neste episódio. O vento pode ser forte pela corrente de jato em baixos níveis (vento Norte) que se intensificará no ambiente ciclogenético (formação do ciclone) e durante a passagem da frente fria associada ao sistema.

Na sexta, o tempo pode ficar mais ventoso no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul assim como em pontos do Leste catarinense enquanto nas demais áreas será predominantemente fraco a moderado. Normalmente, vento intenso ciclônico ocorre com sistemas mais profundos em que há grande gradiente de pressão atmosférica com sistemas de alta associados a massas de ar frio de maior força, o que não se verificará neste episódio.

Não é um ciclone bomba

O ciclone que vai se formar no final desta semana não será bomba. Configura-se um sistema de bomba meteorológica quando a pressão atmosférica central cai ao menos 24 hPa em intervalo de 24 horas, o que não vai ocorrer neste episódio.

Por fim, cabe recordar que ciclones extratropicais são recorrentes no Atlântico Sul. Ocorrem em qualquer época do ano e em todas as estações. Os mais intensos se dão nos meses mais frios do ano, geralmente acompanhando fortes massas de ar polar com altos valores de pressão atmosférica.