Chuva intensa e temporais com nuvens de tempestade são um alto risco nesta quarta-feira e na quinta com frente fria associada a um ciclone na Argentina | NATHALIA MATOS/ARQUIVO

A MetSul Meteorologia alerta para um cenário de alto risco meteorológico no Rio Grande do Sul, no Paraguai e nas províncias argentinas de Corrientes e Misiones nesta quarta e na quinta-feira ante a perspectiva de chuva volumosa a excessiva em diversas áreas e a probabilidade muito alta de episódios de tempo severo como vendavais e queda de granizo que podem causar danos em alguns pontos.

Trata-se de um complexo cenário meteorológico, mais comumente observado em meses de final do outono e do inverno, em que no momento inicial a instabilidade será consequência de uma frente quente e, depois, por uma frente fria associada a um ciclone extratropical na Argentina e no Rio da Prata.

Uma área de baixa pressão térmica vai organizar uma frente quente sobre o Rio Grande do Sul durante a quarta-feira enquanto na Argentina uma área de baixa pressão começa a se aprofundar. Na quinta, a baixa pressão se aprofunda muito rapidamente sobre a província de Buenos Aires e dá origem a um ciclone extratropical.

O ciclone migrará, na sequência, para a área do Rio da Prata entre as cidades de Montevidéu e Buenos Aires. Ao mesmo tempo, a frente fria associada ao ciclone avançará pelo Rio Grande do Sul, o Nordeste da Argentina, Paraguai e demais estados do Sul do Brasil com chuva e tempo severo.

A frente fria, ao encontrar a massa de ar quente trazida por uma corrente de jato em baixos níveis sobre o Sul do Brasil gerada pelo ciclone na Argentina, vai gerar nuvens de grande desenvolvimento vertical. Estas nuvens vão trazer precipitação com volumes elevados e ainda os temporais.

O tempo já começa a mudar nesta terça com aumento de nuvens e chuva no Oeste, no Centro e em parte do Sul gaúcho. No decorrer da quarta e no começo da quinta, a instabilidade vai se generalizar com chuva e temporais. Ainda na quinta, o tempo começa a melhorar a partir do Oeste e do Sul enquanto na sexta o tempo estará firme em grande parte do Rio Grande do Sul sob ar mais seco.

Volumes elevados de chuva

Todos os dados analisados pela MetSul convergem para um cenário de chuva muito volumosa em parte do Rio Grande do Norte, no Sul do Paraguai, na província argentina de Misiones e no Norte de Corrientes, também na Argentina. Os acumulados de precipitação serão expressivos em diversas cidades devem superar a média de todo o mês de março em apenas dois dias.

Os dados indicam 50 mm a 100 mm em muitos municípios gaúchos e das áreas de chuva intensa dos países vizinhos, mas a preocupação é com o indicativo das simulações computadorizadas que em apenas dois dias pode chover 100 mm a 150 mm em diferentes pontos com acumulados localizados de 150 mm a 200 mm.

O mapa acima mostra a projeção de chuva do modelo WRF da MetSul a partir da rodada da 0Z de hoje com os totais de precipitação previstos para 72 horas em que se observa a tendência de chover excessivamente em algumas áreas. O mapa abaixo traz a projeção de chuva do modelo meteorológico alemão Icon que indica tendência muito semelhante. Ambos os modelos estão disponíveis ao assinante na seção de mapas com duas a quatro atualizações diárias, respectivamente.

O cenário indicado pelos modelos aponta para a alta probabilidade que ocorram períodos de chuva torrencial nas áreas com os maiores volume com registros de acumulados muito altos de precipitação em curto período. Mesmo que Porto Alegre e região metropolitana não apareçam nos mapas na zona de maior risco de chuva intensa, a grande proximidade com a faixa de chuva excessiva nos faz alertar para o risco de chuva volumosa na área metropolitana.

Ante a perspectiva de precipitações excessivas, a MetSul Meteorologia faz a advertência de alta probabilidade de transtornos. Há potencial para alagamentos e inundações em áreas urbanas e rurais com subida de rios e arroios pelo grande volume de água que se espera em tão curto período.

Alto risco de temporais

É alto o risco de tempestades localizadas pela frente quente e depois no deslocamento da frente fria pelo Sul do Brasil entre esta quarta e a quinta-feira. Podem ocorrer temporais em diferentes pontos com elevada incidência de raios, granizo e fortes rajadas de vento. O risco de temporais é maior na Metade Norte gaúcha, em Corrientes e Missiones, e no Paraguai, mas não se afasta tempo severo em Santa Catarina e no Paraná, particularmente no Oeste dos dois estados.

O avanço de ar quente para o Noroeste e o Norte gaúcho nesta quarta e nas primeiras horas da quinta favorecerá nuvens de grande desenvolvimento vertical com altas taxas de instabilidade atmosférica, o que explica o risco de tempo severo.

O ar quente será transportado por uma corrente de jato (vento) em baixos níveis da atmosfera que será intensa sobre a Metade Norte gaúcha no final da quarta e no começo da quinta, o que acentua o risco de temporais fortes e não permite se descartar mesmo um risco marginal de atividade tornádica pelo acentuado cisalhamento (padrão de vento divergente).

Os índices de refletividade previstos pelos modelos em suas projeções de simulação de radar sinalizam uma elevada chance de ocorrência de granizo isolado, sobretudo no deslocamento da frente fria. A possibilidade também é de vendavais localizados com chance de danos, acompanhando as nuvens muito carregadas.

A instabilidade virá com muitos raios em alguns municípios, especialmente da Metade Oeste gaúcha. Muitas descargas devem ser esperadas ainda no Paraguai e em Misiones, como mostram os mapas acima com a projeção de raios do modelo meteorológico europeu para quarta e quinta-feira.

Ciclone extratropical

Um ciclone extratropical se forma entre esta quarta e a quinta no Centro da Argentina, na altura da província de Buenos Aires. Este sistema vai impressionar nas imagens de satélite de quinta a sexta-feira pela sua grande dimensão, embora não se preveja que o ciclone seja do tipo bomba na costa argentina.

O ciclone se forma a partir de uma área de baixa pressão na província de Buenos Aires no final desta quarta e na primeira metade da quinta, quando começará a ficar evidente nas imagens de satélite a grande espiral de nuvens. A frente fria associada vai avançar pelo Sul do Brasil, Paraguai e o Nordeste da Argentina com chuva e tempo severo.

O vento se intensifica sobre a província de Buenos Aires e outras áreas do Centro argentino e no Uruguai principalmente durante a quinta-feira. As rajadas prosseguem na sexta-feira. Podem atingir 70 km/h a 90 km/h e isoladamente serem superiores. A costa atlântica da província de Buenos Aires, em particular, pode ser mais castigada por vento forte e agitação marítima com grandes ondas.

No Rio Grande do Sul, vento pré-frontal pela corrente de jato de baixos níveis vai soprar forte do quadrante Norte no final da quarta e na quinta na Metade Norte, o que deve se verificar também no Oeste catarinense. No final da quinta e na sexta, o vento ciclônico de Oeste e Noroeste se fará sentir no território gaúcho com as rajadas mais fortes no Sul e no Leste do Estado, em regra de 60 km/h a 80 km/h e isoladamente superiores.

Ciclones extratropicais são absolutamente rotineiros no Atlântico Sul, especialmente nos meses de outono, inverno e primavera. Muitos destes sistemas vão nos impactar nos próximos meses, trazendo massas de ar frio e episódios de chuva e temporais, além do vento. O conhecido vento Minuano costuma ocorrer sob a atuação de um ciclone extratropical.