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Noruega enfrenta pior tempestade em três décadas. Na foto, barcos no porto de Bodo, Norte da Noruega, durante condições meteorológicas extremas pela tempestade (ciclone extratropical poderoso) batizada de Ingunn. | PER-INGE-JOHNSEN/NTB/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A Noruega enfrenta a tempestade mais poderosa dos últimos 30 anos, com inundações e falta de energia. Ventos com força de furacão de até 180 km/h atingiram partes centrais do país com enchentes e interrupção de rodovias. Chamada de Ingunn pelos meteorologistas noruegueses, a tempestade se desenvolveu a partir de uma poderosa corrente de jato que atravessava o Atlântico. Isso “aprofundou explosivamente uma área de baixa pressão” que atingiu o país escandinavo a partir da tarde de quarta-feira, explicou Aidan McGivern, do Met Office do Reino Unido.

“A Noruega está acostumada com tempo ventoso e baixas pressões profundas, mas isso é outra coisa”, acrescentou. Os avisos vermelhos foram postos em vigor pelo Instituto Meteorológico Norueguês – o seu alerta mais elevado. Ingunn é a tempestade mais forte desde o ciclone de Ano Novo de 1992 no país.

O Reino Unido foi poupado de toda a ferocidade da tempestade Ingunn, depois de experimentar sua décima tempestade nomeada da temporada na semana passada. A tempestade Jocelyn seguiu logo atrás da tempestade Isha com ventos de até 156 km/h.

Não é de surpreender que muitas pessoas no Reino Unido, na Irlanda, na Noruega, na Suécia e noutros países europeus atingidos pelas tempestades se perguntem se as alterações climáticas são parcialmente culpadas.

“Este é o ponto mais avançado da lista de nomes de ciclones que alguma vez estivemos nesta altura do ano”, confirmou um porta-voz do serviço meteorológico do Met Office ao serviço Euronews Green, referindo-se às listas alfabéticas utilizadas para nomear as tempestades no Reino Unido. Mas como as tempestades só começaram a ser nomeadas em 2015, esta não é a melhor forma de medir os impactos das alterações climáticas.

“É uma questão bastante complexa e não tão simples como [a] frequência crescente de ondas de calor no Reino Unido como resultado das alterações climáticas induzidas pelo homem”, acrescentou.

A média britânica desde 2015 tem sido de seis ou sete tempestades por ano. A temporada 2023-2024 pode muito bem o número. O inverno de 2013-2014 foi o mais chuvoso já registrado e o mais tempestuoso em duas décadas.

No clima recente, não há evidências de tendências positivas ou negativas no número ou intensidade de tempestades de vento, afirma o Met Office do Reino Unido. As tendências nos números de tempestades são difíceis de detectar devido à forma como variam naturalmente de ano para ano e de década para década.

Isso deverá mudar, de acordo com a maioria das projeções climáticas. Os cientistas acreditam que o número de tempestades de vento de inverno aumentará ligeiramente no Reino Unido e em outros países europeus nos próximos anos. Os estudos de atribuição podem indicar o quão mais provável e intenso um determinado evento climático foi devido às mudanças climáticas. Mas as tempestades de vento não tendem a ser priorizadas neste tipo de estudo.

Por que tantas tempestades neste inverno?

Os fatores que causam a formação e manutenção das tempestades são complexos. Um dos principais impulsionadores é uma poderosa corrente de jato – um corredor de ventos fortes a cerca de 10 km acima da superfície da Terra, soprando de Leste a Oeste através do Atlântico.

É influenciado pela diferença de temperatura entre o polo e o equador. Nas últimas semanas, os ventos extremamente frios do Ártico causaram um grande contraste, levando a uma corrente de jato mais forte. Isso molda áreas de baixa e alta pressão próximas à superfície, o que se traduz em tempestades.

O fenômeno climático El Niño também tem impacto, dizem os meteorologistas, tal como aconteceu entre 2014 e 2016, quando o Reino Unido sofreu tantas tempestades. As temperaturas da superfície do mar mais altas do que a média no Pacífico, provocadas pelo El Niño, têm repercussões em todo o mundo. No Norte da Europa, normalmente trazem um clima mais úmido e ventoso no início do inverno, antes que as temperaturas caiam no final.

A relação entre esta fase climática natural e a crise climática é um tema de investigação científica contínua. Mas os cientistas têm certeza de que os impactos de cada El Niño estão a tornar-se cada vez mais fortes à medida que o clima aquece – o que significa condições meteorológicas mais extremas.

Como são nomeadas as tempestades na Europa?

Ciclones extratropicais não são nomeados em países da América do Sul, entretanto na Europa é diferente. Os países europeus agrupam-se para monitorar e nomear os seus eventos extremos. Para o Reino Unido, Irlanda e Holanda, os nomes das tempestades são decididos pelo Met Office, Met Éireann e pelo Royal Dutch Meteorological Institute (KNMI), respectivamente.

As tempestades são nomeadas em ordem alfabética evitando as letras Q, U, X, Y ou Z para estar em conformidade com os padrões internacionais. Os nomes vêm da lista publicada no início de cada temporada em setembro, que costuma alternar entre opções masculinas e femininas.

O público pode enviar nomes, e alguns também são escolhidos pelas agências em homenagem a conceituados especialistas em clima e cientistas. Tempestades alemãs recebem nomes mais diversos após campanha online. Noruega, Suécia e Dinamarca nomeiam as tempestades como um grupo separado do norte.

Por que as tempestades são nomeadas?

“Nomear tempestades ajuda a facilitar a comunicação sobre condições severas e fornece clareza quando as pessoas podem ser afetadas pelo clima”, explicou Will Lang, chefe de consciência situacional do Met Office. Não existe um conjunto estrito de critérios que o trio de agências aplique para nomear uma tempestade. Eles levam em conta o impacto potencial de um sistema de tempestades – avaliando se ele poderia causar inundações, por exemplo.

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