Cientistas observam chuva pela primeira vez no ponto mais alto da Groenlândia e derretimento do gelo até sete vezes maior que a média do meio de agosto | Alicia Bradley/National Science Foundation

Choveu pela primeira vez no ponto mais alto da Groenlândia e que é considerado por muitos cientistas o local mais frio do Hemisfério Norte.

Chover seria uma notícia banal em quase todo o planeta não tivesse chovido em lugar que de tão frio a precipitação sempre vem na forma de neve ou gelo, não em chuva. O fato impressionou os cientistas do clima pelo ineditismo desde o começo das observações em 1987 e é um retrato de como o nosso planeta está aquecendo, principalmente nas latitudes mais altas do globo terrestre junto ao Ártico.

No último dia 14, a chuva foi observada no ponto mais alto da camada de gelo da Groenlândia por várias horas e a temperatura do ar permaneceu positiva (acima de 0ºC) por cerca de nove horas. Foi a terceira vez em menos de uma década, e na data mais tardia no ano, que a Estação Summit da National Science Foundation teve temperatura positiva. Não há relato prévio de chuva no local, situado nas coordenadas 72.58°N e 38.46°W, e que está a 3.216 metros.

Produziu-se ainda no local um derretimento do gelo acumulado em superfície, o que é incrivelmente raro porque virtualmente nunca a temperatura supera 0ºC.

O que ocorre? Nas raríssima vezes em que a temperatura fica positiva, o gelo derretido recongela e cria uma camada diferente no gelo. Como os cientistas recolheram um filamento de gelo (ice core GISP2) da região, eles conseguem saber quando isso ocorreu antes no passado.

E sabe quando isso ocorreu nos últimos dois mil anos? Em 2021, 2019, 2015, 2012, 1889, 1094, 992, 758, 753 e 244. Em dois mil anos de dados, evento semelhante só ocorreu dez vezes e quatro vezes apenas nos últimos dez anos. O cientista Robert Rhode, da Berkley Earth, afirma que o gelo em Greenland Summit está derretendo agora com frequência maior jamais vista nos últimos sete mil anos.

A extensão do derretimento de gelo em toda a Groenlândia atingiu um pico de 872.000 quilômetros quadrados em 14 de agosto, caindo para 754.000 quilômetros quadrados no dia 15 e 512.000 quilômetros quadrados em 16 de agosto.

Apenas 2012 e 2021 tiveram mais de um evento de derretimento de 800.000 quilômetros quadrados de extensão e o do dia 14 de agosto de 2021 foi o mais tardio já observado para esta escala de extensão do derretimento nos registros por satélite. A chuva combinada com o ar mais quente trouxe degelo sete vezes superior à média do meio de agosto no último domingo.