Quando o barão Pierre de Coubertin fundou o Comitê Olímpico Internacional, no longínquo ano de 1894, não imaginava a dimensão que sua ação teria. Hoje, o COI é responsável pela realização de Jogos Olímpicos a cada dois anos, sendo um de verão e outro de inverno.
Devido à pandemia que o planeta enfrenta desde o ano passado, a edição de 2020 dos Jogos Olímpicos de Verão teve de ser adiada em um ano, e todo o mundo acompanhou de perto as disputas pelas medalhas de ouro, prata e bronze dos jogos que chegam ao fim neste domingo.
Além da integração, diversidade e novos esportes, os jogos de Tóquio foram marcados pela alta temperatura dentro e fora das quadras e pistas.
O último dia de provas evidenciou na maratona masculina, a mais clássicas prova de uma Olimpíada, como o calor foi um adversário a mais para os atletas nesta edição dos jogos olímpicos.
Duas dezenas de competidores abandonaram a maratona que já havia mudado de lugar em razão do tempo muito quente e úmido, mas mesmo assim a onda de calor que assola o Japão não impediu que os maratonistas sofressem e passassem mal com a alta temperatura e a umidade relativa do ar acima de 80%.
Atletas, funcionários, voluntários e jornalistas acreditam que os Jogos Olímpicos de Tóquio serão lembrados como um dos mais quentes da história.
As altas temperaturas somadas com a alta umidade do ar obrigaram a organização do evento a instalar pulverizadores em locais estratégicos e disponibilizar coletes de resfriamento e dispositivos de inteligência artificial que alertam sobre o risco de insolação, além de oferecer tabletes de sal e sorvete para voluntários.
A precaução, no entanto, não evitou que dezenas de pessoas envolvidas diretamente com a realização dos Jogos Olímpicos sofressem com doenças relacionadas ao calor, mesmo com sintomas leves.
Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 coincidem com o período de clima mais quente na região
Diferente da edição dos Jogos Olímpicos de 1964, realizados em Tóquio em outubro daquele ano, a edição de 2020 coincide com o período de clima mais quente na região, com as temperaturas batendo recordes históricos.
Quando a cidade foi escolhida como sede do evento, em 2013, a organização prometeu “muitos dias de tempo ameno e ensolarado”, o que proporcionaria “um clima ideal para os atletas apresentarem o seu melhor”, o que, por óbvio, não aconteceu.
Durante as disputas de tênis, os atletas Daniil Medvedev e Novak Djokovic solicitaram que a organização do evento adiasse o início das disputas em algumas horas para evitar os períodos mais quentes do dia, quando as temperaturas atingiram 33°C na região. Com isso, a Federação Internacional de Tênis acatou o pedido, e as partidas foram transferidas das 11h para 15h.
“Eu posso terminar o jogo, mas posso morrer”, desabafou Medvedev. Já a espanhola Paula Badosa teve que deixar a quadra de tênis numa cadeira de rodas após sofrer um golpe de calor.
Ao longo das edições dos jogos vários recordes históricos de temperatura, tanto mensais como absolutos de toda a série histórica das estações, caíram. Tottori teve 39,2ºC, a maior máxima desde que se iniciaram as observações em 1943, superando o recorde de 39,1ºC de 23 de julho de 1994.
Osaka chegou a 38,9ºC, muito perto do recorde absoluto de 39,1ºC de 1994. Em Hokaido, as estações de Bikuni e Rankoshi igualaram seus recordes de máximas. Julho de 2021 teve uma temperatura média 1,09ºC acima da normal 1991-2020 e foi o quinto julho mais quente já observado. O Norte do país teve uma anomalia positiva de temperatura de 3,9ºC.
Mesmo com as inúmeras reclamações de atletas, funcionários e jornalistas que trabalham na cobertura do evento, a organização dos Jogos Olímpicos de Tóquio afirmou que todos os cuidados foram tomados e que equipes médicas e “instalações de imersão em água fria” foram colocadas à disposição dos atletas a qualquer momento.
Previsão meteorológica alertava para período de calor durante os Jogos Olímpicos
As altas temperaturas em Tóquio durante os Jogos Olímpicos não pegaram ninguém de surpresa. Meteorologistas de vários países emitiram boletins com alertas para o calor excessivo e alta umidade na região, o que eleva a sensação de calor.
A temperatura na Olimpíada de Tóquio superou, por exemplo, as registradas durantes os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, que teve temperatura média acima de 32°C, e dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e Atlanta, em 1996, que também tiveram temperaturas médias acima dos 30°C.
A temperatura média em Tóquio ficou 2,9ºC mais alta desde 1900, um aquecimento três vezes maior que a taxa média mundial de elevação da temperatura, de acordo com um relatório da British Association for Sustainable Sport.
À medida que as temperaturas médias aumentam em todo o mundo, os cientistas alertam que mais cidades terão dificuldade, como Tóquio, para sediar as Olimpíadas nos meses de verão.
Paris, sede dos Jogos de Verão de 2024, foi atingida por ondas de calor mortais nos últimos anos. Los Angeles deve sediar os jogos de 2028 durante o pico da temporada de incêndios florestais.
Uma análise publicada na revista médica Lancet em 2016 oferece um panorama do futuro. Uma equipe de pesquisadores previu que até 2085, sob o pior cenário de emissões, onde as emissões de gases de efeito estufa não são controladas nas próximas décadas, apenas 33 das 645 grandes cidades do Hemisfério Norte seriam capazes de sediar as Olimpíadas em Julho e agosto em clima seguro para os atletas. A maioria dessas cidades ficava na Europa Ocidental e apenas duas estavam na Ásia.
O Comitê Olímpico Internacional poderia transferir os Jogos para meses mais frios, mas desde que os Jogos de Sydney (2000) foram realizados no final de setembro com audiência de televisão decepcionante, o comitê olímpico exige que as cidades candidatas agendem os jogos de verão para o período entre 15 de julho e 31 de agosto, salvo “circunstâncias excepcionais”.