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Presidente norte-americano, Joe Biden, acompanhado pelo administrador da agência de clioma dos Estados Unidos (NOAA), Dr. Rick Spinrad, fala durante um briefing sobre condições extremas de calor no Eisenhower Executive Office Building, ao lado da Casa Branca, em Washington. | MANDEL NGAN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

As mudanças climáticas são uma “ameaça existencial”, alertou o presidente dos Estados Unidos Joe Biden durante uma reunião sobre o clima no mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas advertiu que o planeta adentra período de aquecimento sem precedentes e que julho será o mês mais quente já enfrentado no planeta em milhares de anos.

“Não acredito que ainda seja possível negar o impacto das alterações climáticas”, afirmou Biden, enquanto o secretário-geral da ONU acaba de estimar que o mundo se encontra agora na “era da ebulição” e não mais na “era do aquecimento”.

O democrata de 80 anos disse que o calor é o assassino número um relacionado ao clima nos Estados Unidos, ceifando 600 vidas por ano, mais do que inundações e furacões. O presidente norte-americano deu exemplos marcantes, como o de uma mulher que sofreu queimaduras graves ao cair da cadeira de rodas no chão escaldante do Arizona, no Sudoeste dos Estados Unidos.

Joe Biden anunciou uma série de ações, financiadas por um grande plano de investimento de transição energética já aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, para fortalecer as capacidades de armazenamento de água no Oeste do país e melhorar o sistema nacional de previsão do tempo.

Ele também prometeu mais proteção para os trabalhadores mais expostos a temperaturas recordes – na agricultura e na construção em particular. O presidente americano deu ainda uma série de conselhos práticos, por exemplo, recomendando aos norte-americanos que não viajem sem uma garrafa de água e aconselhando-os a irem a locais equipados com ar condicionado quando não o têm em casa.

Ele havia convidado por videoconferência a prefeita de Phoenix, no Arizona, Kate Gallego, que garantiu que seu estado, por mais acostumado ao calor, vive um verão “sem precedentes”. Joe Biden também conversou com o prefeito de San Antonio, no Texas, Ron Nirenberg. “Espero que o ar condicionado esteja a funcionar”, brincou.

Após três semanas de ondas de calor em várias partes do mundo, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) das Nações Unidas e o observatório europeu Copernicus acreditam ter dados suficientes para anunciar que julho será “certamente o mês mais quente já registrado”. Se confirmado, o recorde deste mês quebrará o anterior, estabelecido em julho de 2019. Este calor é provavelmente “sem precedentes” em milhares de anos, disseram ambas as instituições.

“Os extremos climáticos sofridos por milhões de pessoas em julho nada mais são do que a dura realidade da mudança climática e uma prévia do que o futuro nos reserva”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

As três primeiras semanas de julho já são as três mais quentes já registradas. A anomalia de temperatura constatada por Copernicus, cujos dados completos remontam a 1940, é tamanha que não é preciso esperar o final do mês para confirmar o recorde.

Além das medições modernas por termômetros, dados paleoclimatológicos, baseados nos anéis de crescimento dos troncos das árvores e núcleos de gelo, permitem apontar que as temperaturas atuais “são inéditas em nossa história, levando em conta os últimos milhares de anos”, disse Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Clima da Copernicus (C3S). E inclusive “por um período muito mais longo, provavelmente da ordem de 100.000 anos”, acrescentou ele em entrevista coletiva.

“A era do aquecimento global acabou, agora é a era da ebulição global”, disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. “A mudança climática está aqui. É assustador. E isso é só o começo”, enfatizou.

Em entrevista com a AFP em Nairóbi, Jim Skea, eleito na quarta-feira presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, afirmou que é fundamental oferecer à humanidade ferramentas “positivas” para enfrentar a mudança climática, e não apenas “mensagens catastróficas que podem criar um sentimento de terror existencial”. “Temos que insistir que os seres humanos podem escolher e decidir seu próprio futuro”, afirmou o britânico Skea.

A temperatura do planeta já aumentou 1,2ºC em relação à era pré-industrial. Alguns tentam desenvolver medidas de emergência para que este aumento não ultrapasse os 1,5ºC, o limite para o ano 2100 estipulado pelo Acordo de Paris de 2015. Entre outras medidas, “deveríamos reduzir a produção de combustíveis fósseis todo ano em cerca de 6%, para alcançar uma redução global do nosso uso de 40% até 2030”, declarou Catherine Abreu, da ONG Destination Zero.

Nesta quinta-feira, no entanto, a Agência Internacional de Energia (AIE) indicou que o consumo mundial de carvão atingiu um “máximo histórico” em 2022 e pode voltar a atingir um nível recorde este ano. O carvão é uma das principais fontes fósseis de energia emissora de gases com efeito de estufa, junto com o gás e o petróleo.

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