Anúncios

Calor extremo, como que atinge o Rio Grande do Sul neste momento, causou a morte associada a doenças crônicas de quase 50 mil brasileiros nas duas primeiras décadas deste século, evidenciando uma vez mais como o calor é um “assassino silencioso”.

TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL/EBC

Foi o que apurou um estudo do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base em dados do Sistema Único de Saúde.

A análise foi conduzida por pesquisadores da instituição com representantes da Fiocruz, Universidade de Brasília e Universidade de Lisboa. Entre 2000 e 2018, as taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor foram maiores entre pessoas do sexo feminino, idosas, negras, pardas ou com níveis educacionais mais baixos.

Djacinto Monteiro, pesquisador da UFRJ, explica porque estes grupos são os mais vulneráveis. O estudo também indica que o Brasil experimentou de 3 a 11 ondas de calor por ano na década de 2010, um aumento significativo em relação às quatro décadas anteriores, em que os episódios de altas temperaturas não ocorriam ou chegavam no máximo a três.

A pesquisa mostra ainda que as taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor variam entre regiões geográficas do Brasil, vinculando-se às desigualdades sociais, incluindo a expectativa de vida.

O especialista aponta soluções para mitigar a situação, como elaboração de sistemas de alertas para ondas de calor, maior conscientização dos riscos pela população e preparação das cidades para as mudanças climáticas, com investimentos em infraestrutura, como áreas verdes e abrigos, maior preparação do sistema público de saúde e políticas públicas de enfrentamento às mudanças climáticas que considerem as desigualdades sociais do país.

O calor extremo é a principal causa de mortes entre eventos meteorológicos nos Estados Unidos, na Europa e em muitas partes do mundo devido a uma combinação de fatores fisiológicos, sociais e estruturais.

Embora desastres como furacões, tornados e inundações recebam mais atenção da mídia, as ondas de calor frequentemente causam mais vítimas, muitas vezes de maneira silenciosa.

O corpo humano precisa manter uma temperatura interna estável, geralmente em torno de 37°C. Durante ondas de calor, a exposição prolongada a temperaturas elevadas pode sobrecarregar os mecanismos naturais de resfriamento, como a transpiração.

Quando a umidade do ar está alta, a evaporação do suor se torna menos eficiente, reduzindo a capacidade do corpo de dissipar calor. Isso pode levar a condições graves, como exaustão pelo calor e insolação, que podem ser fatais se não tratadas rapidamente.

Idosos, crianças, pessoas com doenças crônicas (como problemas cardíacos e respiratórios) e trabalhadores expostos ao calor (como operários da construção civil e agricultores) estão entre os mais vulneráveis. Além disso, medicamentos como diuréticos e antidepressivos podem dificultar a regulação térmica do corpo.

O fenômeno das ilhas de calor urbanas intensifica os efeitos das ondas de calor. Cidades grandes, repletas de asfalto e concreto, retêm calor durante o dia e o liberam lentamente à noite, impedindo que as temperaturas caiam para níveis confortáveis. Isso aumenta o risco de hipertermia, especialmente para aqueles sem acesso a ar-condicionado ou locais climatizados.

A desigualdade social também desempenha um papel crucial. Populações de baixa renda, moradores de rua e idosos que vivem sozinhos muitas vezes não têm meios para se proteger do calor, seja por falta de recursos para pagar energia elétrica ou por ausência de redes de apoio. Muitas mortes durante ondas de calor ocorrem porque as pessoas não conseguem perceber o perigo até que seja tarde demais.

Eventos como a onda de calor na Europa em 2003, que matou cerca de 70 mil pessoas, e as frequentes ondas de calor nos Estados Unidos, como a de Chicago em 1995, evidenciam os impactos devastadores do calor extremo. Com as mudanças climáticas, essas ocorrências estão se tornando mais frequentes e intensas, aumentando a necessidade de medidas de adaptação, como a criação de abrigos climáticos e sistemas de alerta.

A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.