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Uma onda de calor em pleno fim do inverno e início da primavera atinge os Estados Unidos e dizima milhares de recordes. Em muitos locais do Meio-Oeste e do Norte do país, não há qualquer precedente para temperatura tão elevada em março. Esta onda de calor chegou a ser descrita como “surreal” por meteorologista do Serviço Meteorológico Nacional (NWS) dos Estados Unidos. Foram quebrados nada menos que 3550 recordes diários de máximas e 3109 recordes de mínimas altas só entre os dias 12 e 18 deste mês. Foram tantos recordes até agora que ninguém sabe o número exato, afinal até o site do NOAA que tabula os extremos saiu do ar pela incapacidade de processar tantos dados ao mesmo tempo. O mapa abaixo mostra as anomalias de temperatura entre os dias 8 e 15 deste mês.


Ontem, Chicago teve o 8º dia seguido de máximas diárias recordes. São oito dias em que as máximas atingem 80ºF em pleno março. Para se ter uma idéia, o recorde de dias com 80ºF na cidade de Illinois em abril é de sete. International Falls, considerada a cidade americana mais fria (exceto Alaska) teve seus recordes de março pulverizados em 11ºC com quentes 25ºC. Timmins, Ontário (Canadá), onde raramente faz mais que 0ºC à tarde em março, anotou 26ºC na terça. Detroit foi mais quente ontem que Bagé. A cidade gaúcha, que tem média máxima histórica em março de 28,2ºC, registrou ontem máxima de 25,9ºC. A americana, que tem média de 8,3ºC, anotou incríveis 28ºC. Veja o absurdo da anomalia de temperatura na América do Norte entre os dias 13 e 20 deste mês.

 
De acordo com o meteorologista da MetSul Luiz Fernando Nachtigall, o calor extremo para março tem relação direta com um padrão de bloqueio atmosférico que se formou na região. A corrente de jato da América do Norte ondulou muito para o Sul na Costa Oeste dos Estados Unidos, onde existia um significativo cavado (trough), enquanto na costa Leste e no Meio-Oeste existia um sistema de alta pressão associado ao bloqueio (blocking ridge).


Uma máxima de 20ºC acima da normal histórica, como ontem em Detroit, significa o mesmo que Porto Alegre ter 48,2ºC na estação do Inmet no Jardim Botânico em março. Por este parâmetro pode se observar o quanto é absurdo este período quente na América do Norte. Na primeira metade do mês, quando torramos aqui no Estado com máximas de até 40ºC, a anomalia de temperatura máxima em Porto Alegre entre os dias 1º de março e 13 de março foi de 33,8ºC, valor incríveis 5,6ºC acima da média máxima histórica do mês (série 1961-1990) de 28,2ºC. Mesmo assim, os picos diários de temperatura jamais excederam 10ºC na Capital 10ºC em relação à média máxima 1961-1990. Nos Estados Unidos foram anomalias de 20ºC. Veja no mapa a anomalia entre os dias 5 e 12 de março na América do Sul e note que, apesar do calor intenso do período, o desvio em relação à média não foi tão extremo como na América do Norte.


A frente fria que provocou o dilúvio da manhã do dia 14 em Porto Alegre interrompeu a sequência de dias de intenso calor que provocou a enorme anomalia positiva. Na semana seguinte houve dias amenos e até de calor, mas sem os valores extremos registrados até o dia 13. Com isso, a média máxima na Capital entre os dias 1º de março e 21 de março caiu para 32,1ºC, valor 3,9ºC superior à normal histórica e ainda muito alto. Com a perspectiva de dias amenos e até frios para a época do ano agora na última semana de março, a tendência é que a anomalia positiva diminua bastante. Mesmo assim, a tendência é que o mês termine com anomalia positiva. Suponhamos, hipoteticamente, que todos os dias entre 22 e 31 deste março tivessem máxima de 23ºC na cidade, um valor baixo para o mês. A anomalia seria reduzida em mais 1,6ºC e março fecharia com média máxima de 2,3ºC acima da normal histórica, um desvio significativo.