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Seca e geada provocam desastre agrícola no Brasil que entra para a lista dos eventos climáticos com prejuízos bilionários no planeta no ano de 2021. Primeiro, a prolongada estiagem que assolou o Centro-Sul do país e ameaça os brasileiros também com crise de energia. E, na sequência, duas grandes massas de ar polar com intensa geada em diversos estados e que trouxe enormes prejuízos para o campo.

A falta de chuva já tinha trazido imensa quebra na produção do milho segundo safra no Brasil, risco que desde o começo do ano a MetSul alertava. E, para piorar o cenário da cultura vieram duas grandes massas de ar polar, uma no final de junho e outra agora na terceira semana de julho, outro risco que era advertido, e que acabaram por agravar ainda mais a quebra do safrinha.

Os cálculos das perdas neste último evento de frio dos últimos dias ainda são feitos, mas já se sabe que no caso da café os prejuízos serão enormes e quase totais em algumas cidades, especialmente no Sul do estado de Minas Gerais, com reflexos não apenas neste ano, mas também em 2022, com reflexos para a produção nacional e as exportações.

Cenário devastador no café de Sul de Minas

A intensa massa de ar polar da última semana trouxe enormes prejuízos para a produção cafeeira nacional. A região mais atingida pela geada nas áreas produtoras de café foi o Sul de Minas Gerais, onde os prejuízos são descritos como os piores em 27 anos, desde a grande onda de frio de julho de 1994.

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) estima que até 30% da área pode ter sofrido danos com casos, inclusive, de 70% da produção queimada. Para 2022, a expectativa é que sejam produzidas quatro milhões de sacas de café a menos no Sul de Minas.

Prejuízo no café no Sul de Minas Gerais é o maior em 27 anos com cafezais queimados pela geada | CCCMG/Divulgação

“Cada região está levantando quais foram os níveis de estragos, mas são danos que podem comprometer não só a safra do ano que vem. Muitas lavouras eram novas, isso vai influenciar as produções de 2023 e 2024”, avaliou a o pesquisador da Epamig César Botelho em entrevista ao jornal O Tempo.

De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), as regiões mais atingidas foram o Sul, Mogiana e o Cerrado Mineiro. Com o clima mais propício, o estado é um dos principais produtores de café do país e do mundo. “A safra já estava prejudicada com a estiagem do último ano, não teve um bom crescimento.

Imagens aéreas mostram a dimensão do prejuízo da geada em cafezais mineiros na última semana | Emidinho Madeira/Divulgação

Para o próximo ano, o mercado esperava uma colheita maior. Mas, agora, a tendência é diminuir ainda mais a oferta”, explica Botelho. ”O café é muito importante não só para a agricultura, ele afeta toda a economia do estado. Ele possui uma importância social enorme, emprega muitas pessoas”, completa. O preço da saca de café, já em patamares recordes, pode se elevar ainda mais após o golpe na produção causado pelo frio.

Perdas em algumas propriedades foram maciças com a geada forte a severa no Sul mineiro e no Cerrado | Emidinho Madeira/Divulgação

Devido aos prejuízos causados pela geada da última semana, a Prefeitura de Coqueiral decretou estado de calamidade pública no município. Quase metade das propriedades produtoras de café, segundo a Emater, foram afetadas pela geada. Na cidade, como em outros municípios, há registros de lavouras inteiras que não devem produzir até 2022. Outra região duramente castigada pela geada em Minas Gerais foi a de Patrocínio com perdas de mais de metade da produção de café em algumas propriedades.

Grandes perdas na cana-de-açúcar em São Paulo

Os prejuízos em razão do frio se avolumam também na produção de cana. A maior região produtora do Brasil de cana-de-açúcar, na área de Ribeirão Preto, no interior do estado de São Paulo, teve o frio mais intenso em duas décadas na última semana. A temperatura em algumas cidades do interior paulista, segundo dados da Ciagro, aproximou-se de 5ºC abaixo de zero com as geadas mais severas do ano.

A cultura de cana-de-açúcar já vinha sofrendo com a forte estiagem desde o ano passado e a sequência de massas de ar polar com geada forte a severa na última semana acabou por agravar ar perdas ainda mais. O setor já estima que a sucessão de episódios de frio muito intenso pode determinar uma quebra da safra. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a safra 2021/22 de cana no Centro-Sul do Brasil em 574,80 milhões de toneladas, com uma queda de 4,6% ante 2020/21.

Enormes perdas no milho

O milho é outra cultura que está sendo duramente castigada neste inverno. Às perdas da estiagem forte e prolongada se somaram as do frio no final de junho e neste mês de julho com duas grandes ondas de frio que trouxeram geada forte a severa para muitas cidades do Centro-Sul do Brasil.

A agência de relatório de preços britânica AgriCensus aponta que o clima no País pode provocar uma “perda de safra histórica”. Os danos se concentram principalmente no Paraná e no Mato Grosso do Sul.

A mínima na última semana baixou a 7,9ºC negativos na estação do Instituto Nacional de Meteorologia em General Carneiro, no Sul do estado do Paraná. Várias cidades do Mato Grosso do Sul registraram mínimas negativas ou perto de 0ºC a ponto de ter geado no Sul do vizinho estado de Goiás.

Diversas empresas de análise do mercado avaliam que pode faltar milho no mercado brasileiro no segundo semestre em razão das perdas provocadas pela geada e o clima muito mais seco que o habitual, o que levaria o país a ter que importar grãos com reflexos para o consumidor e nos custos de toda a cadeia produtiva dependente do milho.

Perdas também nos cítricos

Outro setor que sente os efeitos da sucessão de intensas massas de ar frio é dos cítricos. A forte geada da última semana no interior do estado de São Paulo afetou pomares e lavouras com temor de perdas significativas.

Há grande preocupação com a produção de laranja na safra atual e com o estado das plantas para a próxima safra, uma vez que a geada atingiu as árvores em um momento crítico de desenvolvimento e que já estavam castigadas pela falta de chuva. Produtores antecipam que haverá perda de qualidade das laranjas que estão nos pés e em alguns locais ainda houve queda de frutos com o frio.