Base polar da Argentina de Marambio está há quase uma semana sem superar 20°C negativos com bolsão de ar extremamente frio no Mar de Weddell | MINISTÉRIO DA DEFESA/SMN/DIVULGAÇÃO

Um dos “berços” das ondas de ar polar que invadem a América do Sul e o Atlântico Sul vive um período extremamente gelado com temperaturas muito abaixo do que é normal para esta época do ano. Trata-se da região do Mar de Weddell, na Antártida, onde os dias têm sido extremamente frios com um bolsão de ar congelante na região.

A temperatura na base polar argentina de Marambio entre no seu sexto dia sem superar a marca de 20ºC abaixo de zero. Nesta segunda, a temperatura mínima até 9h foi de -27,7ºC. Ontem, a mínima foi de -26,6ºC. No sábado, -26,7ºC. Na última sexta, -25,8ºC. Na quinta, -27,2ºC. E na última quarta, -25,7ºC.

As máximas têm se mantido há dias abaixo dos 20ºC negativos em Marambio. Os termômetros não passaram de -24,0ºC no domingo, -21,9ºC no sábado, -21,3ºC na sexta-feira, -22,9ºC na quinta e -23,9ºC na quarta. A última vez em que a temperatura esteve acima de 20ºC negativos foi na última terça-feira, quando a máxima foi de -19,9ºC.

Conforme a estatística climatológica do Serviço Nacional de Meteorologia da Argentina (SMN), a temperatura mínima média em Marambio em maio é de -16,0ºC enquanto a média máxima mensal é de -8,0ºC, ou seja, as mínimas e máximas têm estado muito abaixo que é comum para maio na base situada no Norte da península antártica.

O mapa de anomalia de temperatura em 850 hPa do modelo norte-americano GFS em sua saída da 0Z de hoje para a região da Antártida mostra um grande bolsão de ar extremamente frio situado sobre o Mar de Wedddell e que afeta a península antártica, onde estão sendo registradas as temperaturas extremamente baixas.

Padrão semelhante se observa em outra estação polar argentina na mesma região antártica. A base Esperanza há dias está com temperatura muito abaixo da normal. A última vez em que a máxima acima de 15ºC negativos foi na última terça-feira. A máxima média de maio, de acordo com o SMN, é de -3ºC.

Já as mínimas vêm sendo muito baixas há dias na base polar argentina Esperanza. Nesta segunda-feira, por exemplo, até 9h, a mínima foi de -24,8ºC. A mínima média histórica de maio na estação polar é de -12ºC, pela climatologia do Serviço Meteorológico Nacional argentino, ou seja, a mínima de hoje foi quase 13ºC inferior à média.

Vento com força de furacão na região

A região sofre também com violenta tempestade de vento que atingiu ontem a base polar chilena Professor Júlio Escudero, localizada na ilha Rei George, na extremidade Norte da península Antártica. Em vários momentos, a visibilidade era quase zero em razão da ventania extrema e contínua que soprava grande quantidade de neve.

As rajadas de vento atingiram velocidade de furacão. O vento sustentado na base chegou a 110 km/h, entretanto as rajadas ao longo deste domingo atingiram no mínimo 140 km/h. Isso porque ao atingir 140 km/h o vento, o anemômetro (equipamento que registra o vento) deixou de funcionar. As informações são do Instituto Antártico Chileno que mantém monitoramento meteorológico na base.

Mar de Weddell e o clima do Sul do Brasil

O que ocorre no Mar de Weddell, na Antártida, tem relevância pelas possíveis repercussões na atmosfera do Sul do Brasil. Em trabalho intitulado “Conexões entre o Rio Grande do Sul e o Mar de Weddell” os pesquisadores Francisco Eliseu Aquino, Alberto Setzere Jefferson Cardia Simões demonstraram haver uma conexão entre o que ocorre no mar do Sul e o regime de temperatura na parte meridional do Brasil.

“Observou-se claramente que quando havia circulação de Sul para Norte, do Mar de Weddell para o Sul do Brasil, registrou-se uma anomalia negativa na temperatura média mensal de até -3,0ºC. Quando houve redução nesta circulação e/ou inversão no sentido, ocorreram anomalias positivas de até 3,5ºC”, observam os especialistas.