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GUSTAVO MANSUR/PALÁCIO PIRATINI

O ano do maior desastre da história do Rio Grande do Sul com as grandes enchentes do fim de abril e o começo de maio não apenas foi o mais quente já observado no planeta como teve recorde de presença de vapor d´água na atmosfera planetária, mostram os dados divulgados hoje pelo Sistema Copernicus da União Europeia.

O vapor d’água desempenha um papel crucial no sistema climático, pois contribui significativamente para o efeito estufa natural da Terra. Diferentemente de outros gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano, a concentração de vapor d’água não é diretamente influenciada pelas atividades humanas.

No entanto, à medida que a atmosfera aquece pela influência humana, ela pode reter mais vapor d’água (cerca de 7% a mais para cada grau Celsius adicional). Por sua vez, o maior conteúdo de vapor d’água amplifica ainda mais o aquecimento, um processo conhecido como “feedback temperatura-vapor d’água”.

O aumento da umidade na atmosfera também intensifica o potencial para eventos extremos de chuva, como o que atingiu o Rio Grande do Sul no fim de abril e no começo de maio de 2024, e fornece energia para tempestades tropicais mais intensas.

O “vapor d’água na coluna total”, referido apenas como “vapor d’água”, é uma medida da quantidade de umidade em uma coluna vertical de ar que se estende da superfície da Terra até o topo da atmosfera.

Em 2024, a média anual de vapor d’água no domínio de 60°S a 60°N atingiu seu valor mais alto em pelo menos 33 anos, 4,9% acima da média de 1991–2020, de acordo com o Sistema Copernicus.

Foi um ano excepcionalmente atípico pela enorme quantidade de vapor d´água presente na atmosfera do planeta. O valor de 4,9% acima da média no ano passado ficou bem acima do segundo maior registro (3,4%) observado em 2016 e do terceiro maior (3,3%) registrado em 2023.

COPERNICUS

O valor recorde de vapor d’água em 2024 foi influenciado por uma combinação de aumento da evaporação na superfície do oceano devido a temperaturas mais altas da superfície do mar e pela capacidade de uma atmosfera mais quente de reter mais umidade.

COPERNICUS

A Física explica o processo que leva aos eventos extremos de chuva mais frequentes. Há um princípio físico conhecido como relação Clausius-Clapeyron que relaciona temperatura, pressão e vapor d’água.

O princípio mostra que o ar mais quente pode reter mais vapor de água com cerca de 7% a mais de vapor de água por 1ºC de aquecimento. Quanto mais quente a atmosfera, mais vapor d’água reterá e mais vapor significa mais umidade disponível para se precipitar como chuva, o que leva a taxas de chuva mais altas. O mesmo, paradoxalmente, ocorre em tempestades de neve.

Em 2024, o planeta esteve 1,6ºC mais quente que o período pré-industrial. Conforme relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o aumento das temperaturas controla “as mudanças no vapor de água por meio do aumento da evaporação e da capacidade de retenção de água da atmosfera”.

Em escala global, o conteúdo de vapor d’água “aumenta aproximadamente seguindo a relação Clausius-Clapeyron (C-C), com um aumento de aproximadamente 7% por 1ºC de aquecimento”.

“As projeções dos modelos climáticos mostram que o aumento do vapor de água leva a aumentos robustos nos extremos de precipitação em todos os lugares, com uma magnitude que varia entre 4% e 8% por grau Celsius de aquecimento da superfície”, diz o IPCC.

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