O tempo estará virado na América do Sul nestes últimos dias de janeiro. Onde deveria estar fazendo calor, está fazendo frio. Onde deveria estar mais frio, o calor é extremo. É o que se observa há dias nas condições atmosféricas da América do Sul com temperatura abaixo a muito abaixo da média no Sul e parte do Sudeste do Brasil enquanto no Sul do continente, na Patagônia, o calor bate recordes históricos.
O Sul da Argentina enfrentou vários dias seguidos de calor extremo na última semana com marcas em diversas cidades patagônicas acima de 40ºC com recordes históricos de temperatura máxima em diversas estações meteorológicas da região mais meridional do continente.
De acordo com dados da estatística histórica do Serviço Meteorológico Nacional (SMN), da Argentina, a onda de calor na Patagônia produziu recordes mensais e alguns absolutos de temperaturas mínima e máxima altas.
Duas cidades tiveram recordes absolutos de temperatura máxima. Bariloche, província de Rio Negro, registrou no dia 22 de janeiro uma máxima de 36,4ºC, superando o recorde absoluto anterior de temperatura máxima de 35,4ºC de 15 de fevereiro de 2019.
Outra localidade austral a quebrar seu recorde absoluto de temperatura máxima foi Trelew, na província de Chubut, onde a temperatura máxima chegou a 42,6ºC, batendo o recorde anterior absoluto de máxima de 42,2ºC, de 27 de janeiro de 2017.
Três localidades patagônicas alcançaram máximas recordes para o mês de janeiro, pelos dados do Serviço Meteorológico Nacional. Chapelco, província de Neuquén, anotou uma máxima de 38,0ºC no dia 22 de janeiro, acima do recorde anterior de janeiro de 37,0ºC em 29 de janeiro de 2023.
El Bolsón, província de Rio Negro, alcançou uma máxima de 37,4ºC no dia 22 de janeiro, acima do recorde mensal prévio de 36,9ºC em 14 de janeiro de 1999. Já Esquel, cidade da província de Chubut, anotou uma temperatura máxima de 34,7ºC no dia 22 de janeiro, superando a maior marca prévia observada em janeiro de 33,8ºC, em 19 de janeiro de 1979.
San Antonio Oeste, cidade situada na província de Rio Negro, registrou no dia 25 temperatura máxima de 43,9ºC. No dia seguinte, na sexta, a máxima na localidade patagônica foi de 41,6ºC. Ontem, a máxima na localidade patagônica foi de 37,7ºC.
Enquanto isso, frio no Brasil
Ao mesmo tempo em que a temperatura encostava nos 44ºC na Patagônia, frio se fazia sentir em estados do Sul do Brasil e em São Paulo com marcas de inverno à tarde em cidades de maior altitude do Sul do Brasil. Rio Grande do Sul e Santa Catarina tiveram mínima de um dígito.
Porto Alegre completou no sábado oito dias seguidos em que a máxima sequer chegou a 30ºC, sendo que a temperatura máxima média histórica de janeiro, a mais alta entre todos os meses do ano, é de 31,0ºC.
A última vez em que a temperatura passou dos 30ºC na capital gaúcha foi na tarde da sexta-feira passada, no dia 19, quando a estação convencional do bairro Jardim Botânico, do Instituto Nacional de Meteorologia, anotou uma máxima de 32,9ºC.
Desde então, a estação situada na zona Leste de Porto Alegre registrou máximas de 27,0ºC no dia 20; 27,1ºC no dia 21; 27,5ºC na segunda; 27ºC na terça-feira; 26,0ºC na quarta; 27,7ºC na quinta; 27,6ºC na sexta; e 25,6ºC ontem.
Campo Bom, conhecida pelas tardes de forte a intenso calor no verão na Grande Porto Alegre, também não consegue romper a barreira dos 30ºC desde o dia 19, quando fez 34,4ºC. São também oito dias seguidos sem calor.
De lá para cá, as máximas chegaram a apenas 28,1ºC no dia 20; 29,5ºC no dia 21; 29,2ºC no dia 22; 29,5ºC no dia 23; 27,8ºC no dia 24; 29,5ºC no dia 25; 28,1ºC no dia 26; e 27,4ºC ontem. A cidade do Vale do Sinos completou ainda neste domingo oito dias seguidos com marcas mínimas abaixo dos 20ºC.
No ponto mais alto em altitude do Rio Grande do Sul, segue fazendo frio à tarde. Na estação do Instituto Nacional de Meteorologia de São José dos Ausentes, a temperatura às 16h era de 13,2ºC no dia 22; 14,1ºC no dia 23; 12,5ºC no dia 24; 12,8ºC no dia 25; 13,1ºC no dia 26; e 14,2ºC no dia 27.
Situação semelhante na estação do Morro da Igreja, no Planalto Sul Catarinense, a 1800 metros de altitude. A temperatura às 16h, em regra a hora mais quente do dia, era de 11,8ºC no dia 21; 10,7ºC no dia 22; 10,1ºC no dia 23; 9,1ºC no dia 24; 9,8ºC no dia 25; 9,7ºC na sexta; e 12,2ºC ontem. Foram, assim, três dias seguidos com temperatura de um dígito às 16h.
Por que o frio onde deveria estar fazendo calor e calor onde deveria estar fazendo frio?
Tudo passa por uma área de baixa pressão em níveis médios e altos da atmosfera, um vórtice ciclônico ou “baixa fria, “aprisionando” ar mais frio em altitude sobre o Sul do Brasil há vários dias com uma massa de ar frio associada a um centro de alta pressão a Leste do Uruguai.
Esta área de baixa pressão com ar mais frio em altitude persiste sobre o Sul do Brasil e atua na região há mais de uma semana, o que não é comum. Isso explica os muitos dias seguidos com temperatura abaixo da média. A baixa fria em altura ainda favorece nuvens e chuva da tarde para a noite, inibindo aquecimento maior. É o sistema que proporcionou a formação de trombas d´água na costa catarinense.
Mas o que explica o calor extremo na Patagônia? Também passa pela baixa fria enorme no Brasil com padrão de onda longa na atmosfera junto à América do Sul. A onda com o ar frio avançou até o Sudeste e está sobre o oceano com um centro de alta pressão.
Com a onda subindo até mais ao Norte na costa brasileira, opera-se o inverso no interior do continente com ar mais quente avançando para o Sul até o extremo Sul da Argentina, onde as máximas na Patagônia extrapolaram os 40ºC. Situação semelhante ocorreu no começo do ano passado com frio no Sul do Brasil e calor extremo na Patagônia.
E quando volta o calor ao Sul?
Esta “baixa fria” seguirá ainda por alguns dias na região Sul do Brasil, mantendo a temperatura abaixo do normal. Pancadas de chuva, inclusive forte em pontos isolados, em maior número de locais neste domingo e na segunda da tarde para a noite devem contribuir ainda para inibir um maior aquecimento.
No decorrer desta semana se espera que a temperatura entre em elevação e o calor retorne gradualmente para diversas cidades gaúchas, mas não se projeta ainda no curtíssimo prazo temperatura excessivamente alta. Esquenta muito nos próximos dias no Centro da Argentina e Buenos Aires deve ter máximas perto dos 40ºC.
Modelos numéricos analisados pela MetSul Meteorologia indicam que massa de ar mais quente deve afetar o Sul do Brasil na primeira semana de fevereiro, assim que no final desta semana calor mais forte começa a se registrar no Rio Grande do Sul de forma mais generalizada. A primeira semana de fevereiro pode ter máximas acima de 35ºC na Grande Porto Alegre.
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