Dados de satélite indicam níveis elevados de monóxido de carbono em razão de queimadas em parte do território brasileiro. As maiores concentrações são observadas nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde se concentra a maioria das queimadas do país neste momento com grande quantidade de fumaça.
Imagem divulgada pela NOAA, a agência climática dos Estados Unidos, a partir de dados do sensor TROPOMI do satélite europeu Sentinel 5P, mostrava a grande quantidade de monóxido de carbono (CO) na terça associada à fumaça de queimadas avançando pelo interior da América do Sul.
A maior concentração de monóxido de carbono no Brasil era observada sobre o Sul do Amazonas, especialmente em Rondônia, e em áreas mais a Oeste dos estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.
Impactos do monóxido de carbono na saúde
A fumaça liberada por qualquer tipo de incêndio (floresta, mato, cultura, estrutura, pneus, resíduos ou queima de madeira) é uma mistura de partículas e produtos químicos produzidos pela queima incompleta de materiais contendo carbono.
Toda fumaça contém monóxido de carbono, dióxido de carbono e material particulado (PM ou fuligem). A fumaça pode conter muitos produtos químicos diferentes, incluindo aldeídos, gases ácidos, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, benzeno, tolueno, estireno, metais e dioxinas.
O tipo e a quantidade de partículas e produtos químicos na fumaça variam dependendo do que está queimando, da quantidade de oxigênio disponível e da temperatura de queima.
A exposição a altos níveis de fumaça deve ser evitada. Os indivíduos são aconselhados a limitar o esforço físico se a exposição a altos níveis de fumaça não puder ser evitada. Indivíduos com problemas cardiovasculares ou respiratórios (por exemplo, asma), fetos, bebês, crianças pequenas e idosos podem ser mais vulneráveis aos efeitos da exposição à fumaça na saúde.
A inalação de fumaça por um curto período de tempo pode causar efeitos imediatos (agudos). A fumaça irrita os olhos, o nariz e a garganta, e seu odor pode ser nauseante. Estudos demonstraram que algumas pessoas expostas à fumaça intensa apresentam alterações temporárias na função pulmonar, o que torna a respiração mais difícil.
Dois dos principais agentes da fumaça que podem causar efeitos na saúde são o monóxido de carbono (CO) e as partículas muito pequenas (partículas finas ou PM2,5). Essas partículas têm dois e meio (2,5) mícrons ou menos de tamanho e as partículas individuais são muito pequenas para serem vistas a olho nu.
A inalação de monóxido de carbono diminui o suprimento de oxigênio do corpo. Isso pode causar dores de cabeça, reduzir o estado de alerta e agravar um problema cardíaco conhecido como angina. As partículas finas são capazes de viajar profundamente para o trato respiratório, chegando aos pulmões.
Já a inalação de partículas finas pode causar uma variedade de efeitos à saúde, incluindo irritação respiratória e falta de ar, e pode piorar condições médicas como asma e doenças cardíacas.
Durante o aumento do esforço físico, os efeitos cardiovasculares podem ser agravados pela exposição ao monóxido de carbono e partículas. Uma vez que a exposição cessa, os sintomas da inalação de monóxido de carbono ou partículas finas geralmente diminuem, mas podem durar alguns dias.
Efeito da fumaça na Covid
Em 2020, a fumaça de queimadas esteve relacionada a um aumento de 18% nos casos graves de Covid (com internações hospitalares) e alta de 24% das hospitalizações por síndromes respiratórias nos cinco estados com mais fogo da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Pará).
O estudo divulgado pelo Infoamazônia foi feito por uma equipe multidisciplinar de profissionais em parceria com pesquisadores do LabGama, ligados à Universidade Federal do Acre, e da Fiocruz. O projeto teve apoio da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos.
As mesmas conclusões sobre os efeitos de fumaça de queimadas e incêndios florestais para a Covid foi alcançada por outro estudo que analisou os impactos dos incêndios florestais que ocorreram ano passado na Califórnia, em Oregon e em Washington, nos Estados Unidos.
O trabalho mostrou que a fumaça contribuiu para um aumento significativo de casos e mortes por Covid-19 nestes estados do Oeste norte-americano.
”Os incêndios florestais exacerbaram significativamente a pandemia”, afirma Francesca Dominici, bioestatística de Harvard e autora do estudo publicado na revista científica Science Advances.
Se não houvesse a fumaça dos incêndios, poderiam ter sido evitados 19,7 mil casos de covid-19 e 748 mortes decorrentes da doença, segundo o estudo de Harvard.
Péssima qualidade do ar em São Paulo
O estado de São Paulo registrou 1.881 focos de calor até o dia 24 de agosto, de acordo com dados do monitoramento por satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. É o pior agosto em queimadas no estado paulista em 11 anos.
O número se aproxima do dobro do registrado em agosto passado inteiro de 2.111, supera o dobro da média histórica de agosto de 905 e se aproxima do recorde de 2.444 em 2010.
A cidade de São Paulo registrou na segunda-feira índice de qualidade do ar péssimo pela primeira vez desde 1996. O registro foi feito na estação de monitoramento de Perus, no Noroeste da capital paulista, em consequência da fumaça do incêndio que arrasou o Parque Estadual do Juquery.
Entre as 27 estações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) na região metropolitana de São Paulo, nove registraram qualidade do ar ruim, muito ruim ou péssima na segunda-feira à tarde.