A chuva não dá trégua na costa do Nordeste do Brasil, vai prosseguir e tende a piorar no fim de semana em algumas cidades. A semana é extremamente chuvosa no litoral da região e na Zona da Mata com acumulados que em alguns pontos se aproximam da média de precipitação de todo o mês de maio e em alguns municípios até superam.

Estações de monitoramento indicam acumulados de chuva de 200 mm a 300 mm nesta semana em grande número de municípios mais a Leste e na costa de Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Há localidades em que os acumulados apenas desta semana já atingem marcas de 350 mm a 400 mm, portanto, acima da média de todo o mês que já é muito alta por ser um período do ano em que a região costeira sofre com chuva volumosa.

Maceió entrou em situação de emergência com a chuva extrema. Há alagamentos e quedas de barreiras e deslizamentos no litoral de Alagoas. Em apenas 48 horas, Maceió atingiu a média de precipitação de maio inteiro de 295 mm. No município de São Miguel dos Campos, o rio que corta a localidade transbordou e desalojou dezenas de famílias. O município de Penedo anotou o maior volume de chuva já observado na cidade desde o começo das medições em 1935.

Em Pernambuco, a Defesa Civil confirmou até o momento três mortes em consequência de escorregamento de encostas em Olinda. Há desalojados pela chuva na região metropolitana de Recife que enfrentou alagamentos e inundações, o que forçou a suspensão de aulas nas redes públicas e privada e interrupção de serviços públicos.

O tempo segue instável hoje, amanhã e no fim de semana no litoral do Nordeste do Brasil. Os modelos numéricos indicam que a chuva pode se intensificar muito no final da sexta-feira e no fim de semana, sobretudo nos litorais de Pernambuco e da Paraíba com acumulados muito altos em curto período. As cidades de Recife e João Pessoa, assim como suas áreas metropolitanas, estão na zona de risco.

A chuva, entretanto, pode ser por vezes forte a intensa em outros pontos da costa nordestina nos próximos dias com intensas precipitações localizadas nos litorais, por exemplo, de Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte. Com previsão de mais chuva e intensa em diversas cidades nos próximos dias, sobretudo no fim de semana, é altíssimo o risco de mais transtornos à sociedade como alagamentos, inundações, deslizamentos de terra, queda de barreiras, bloqueio de rodovias, transbordamento de arroios e córregos, etc.

A nova rodada de chuva muito intensa em parte do litoral nordestino será consequência de uma nova onda de Leste que vai avançar do Atlântico para a costa, gerando intensas precipitações e mesmo a possibilidade de trovoadas em alguns pontos. Com a chuva prevista para os próximos dias, os acumulados em algumas cidades em apenas uma semana podem ficar entre 400 mm e 600 mm, ou seja, até o dobro ou mais da média de chuva de maio inteiro.

O que são as Ondas de Leste

Fenômeno que não afeta o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil, onde a chuva costuma vir com frentes frias, frentes quentes e centros de baixa pressão, o litoral da Região Nordeste está acostumado com uma condição que tem origem a milhares de quilômetros, na África, e todos os anos traz chuva volumosa para a região nesta época do ano.

São as chamadas ondas de Leste que nada mais são que áreas de perturbação atmosférica que avançam pela região tropical do continente africano em direção às Américas, muitas vezes dando origem às tempestades tropicais e furacões no Atlântico Norte. À medida que uma destas perturbações começa a se organizar e se intensificar com a água quente do oceano, pode dar origem a um centro de baixa pressão que pode rapidamente evoluir para um ciclone tropical.

No caso do Nordeste do Brasil, as ondas de Leste não trazem furacões, mas muita chuva. Estas ondas se formam na área de influência dos ventos alísios, perto da linha do Equador, em especial nos meses do outono e inverno do Hemisfério Sul. Quando estas ondas que cruzam o Atlântico chegam ao litoral brasileiro, causam chuva nas zonas costeiras da Região Nordeste do Brasil, principalmente na Zona da Mata, e às vezes até no Recôncavo Baiano e no litoral do Ceará.

Há um fator agravante para o excesso de chuva no caso das ondas de Leste, a temperatura da superfície do oceano. Quanto mais quente o mar, maior a energia da instabilidade. No caso de agora, a temperatura da superfície do mar está acima da média em toda a região costeira do Nordeste e nas áreas do Atlântico por onde avançam as ondas tropicais.