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Novos temporais devem se formar no Rio Grande do Sul nas próximas horas e podem ser localmente fortes a severos. Instabilidade sobre o estado é extrema neste momento. Porto Alegre (foto) está na zona de risco. | FERNANDO MAINAR/ARQUIVO

A MetSul Meteorologia alerta para o alto risco de novas tempestades no Sul do Brasil durante esta quarta-feira com maior perigo no Rio Grande do Sul, onde devem se concentrar o tempo severo ao longo do dia com chuva, granizo, raios e risco de vendavais localizados.

Será o segundo dia da onda de temporais que deve persistir até sexta-feira no Sul do país. Nesta terça, no primeiro dia, como esperado, o maior risco era a ocorrência de granizo. Houve registro do fenômeno, conforme levantamento da MetSul, em quase trinta municípios do Rio Grande do Sul e ainda no Planalto Sul Catarinense.

A atmosfera estava incrivelmente instável nesta terça. Dados coletados pela sonda no balão meteorológico lançado às 9h da manhã de hoje em Porto Alegre mostraram índices de instabilidade que raramente se vê de tão instável que se encontrava a atmosfera.

O professor e meteorologista Ernani Nascimento, expert em tempo severo pela Universidade de Oklahoma e que leciona na Universidade de Santa Maria, escreveu em suas redes sociais que os dados das sondagens foram “impressionantes para esta parte do mundo” e que no histórico dos últimos 25 anos encontrou valores de instabilidade semelhantes em setembro de 2009.

Conforme a sondagem de Porto Alegre da manhã de hoje, o índice Showalter estava em -7, valor baixíssimo para um índice que quanto mais negativo maior é a instabilidade com valores críticos para tempo severo abaixo de -5. Raramente se vê este índice tão baixo na capital.

O Total Totals, outro índice de instabilidade, cujos valores críticos para tempo severo são superiores a 50, estava com 60,2. O índice K, cujos valores críticos são ao redor ou acima de 40, estava em 40,7. Já o índice SWEAT, cujo parâmetro é acima de 300 como favorável a tempestades severas e acima de 400 favorável a tornados, estava em 494.

Embora modelos numéricos não indiquem em sua grande maioria o risco de precipitação com temporais para a noite desta terça, a atmosfera está tão aquecida e instável que não se pode afastar a formação de núcleos de instabilidade localizados e potencialmente severos em alguns pontos com tempestades.

O que se espera para esta quarta no Rio Grande do Sul é diferente do dia de hoje. Nesta terça, o avanço de ar muito quente a partir do Oeste formou áreas de instabilidade que depois se deslocaram, em sua grande maioria, para o oceano com a melhora do tempo e forte calor nas cidades que de manhã tiveram chuva e temporais. O risco é maior para o Centro, o Sul e o Leste gaúcho.

Nesta quarta-feira, ao contrário, haverá o avanço de frente fria, o que trará chuva em mais cidades e um maior risco de temporais. Modelos seguem indicando índices de instabilidade muito acima do normalmente observado, sugerindo a continuidade e um elevado risco de tempo severo com tempestades isoladamente fortes a intensas.

A frente fria atua mais nesta quarta com aumento de nuvens e chuva em parte do Oeste, no Centro, Sul e o Leste do Rio Grande do Sul ao passo que no Noroeste e no Norte do estado o sol aparece na maior parte do dia com forte a intenso calor. Já no Sul, no Centro e no Leste gaúcho, com instabilidade, a temperatura estará consideravelmente menor do que hoje.

Com isso, o risco de temporais será maior na região de transição do ar mais quente para o ar mais frio. Isso significa maior potencial para chuva localmente forte, temporais e granizo em cidades do Centro, de parte do Oeste, da Metade Sul e do Leste gaúcho, o que inclui Porto Alegre. Da tarde para a noite desta quarta, o risco de temporais aumenta muito na Metade Norte gaúcha nesta quarta.

A quarta-feira ainda vai começar sob ar muito quente e pressão atmosférica bastante baixa, inferior a 1.000 hPa em muitas cidades, que é um valor crítico para instabilidade. Nesta terça, o ar quente tomou conta de grande parte do Rio Grande do Sul com máximas acima de 30ºC em muitas cidades. Os termômetros indicaram entre 33ºC e 35ºC nos vales e no Noroeste.

No fim da tarde, a pressão atmosférica estava em 995 hPa na base aérea de Canoas e nos aeroportos de Pelotas e Porto Alegre. Chegou a 994 hPa em algumas estações.  São valores excepcionalmente baixos de pressão e muito raros de serem observados. Nem o ciclone de julho, que se formou sobre o Rio Grande do Sul, trouxe pressão tão baixa na capital.

Sob este ambiente de pressão excepcionalmente baixa, atmosfera superaquecida e o avanço de uma frente fria é inevitável se considerar o risco de tempo severo nas próximas 12h a 24h com potencial para temporais isolados fortes a severos. Há potencial para que se formem algumas supercélulas isoladas de tempestade capazes de trazer temporais intensos com granizo de variado tamanho e vendavais. Os índices de instabilidade seguem em níveis criticamente elevados.

A corrente de jato em baixos níveis que atuou no Rio Grande do Sul nesta terça com vento Norte quente e seco de 50 km/h a 80 km/h em muitas cidades segue intensa do Centro para o Noroeste e o Norte gaúcho nesta quarta, trazendo ar quente e gerando padrão de vento divergente na atmosfera.

Correntes de jato em baixos níveis acentuam a divergência de vento na atmosfera, o que se denomina de cisalhamento. Com a pressão atmosférica baixíssima, ar muito quente sobre o Sul do Brasil e uma frente fria avançando, o cisalhamento pode se tornar enorme de forma a gerar episódios severos localizados de vento, como microexplosões e até tornados na presença de áreas de instabilidade.

Por isso, a MetSul alerta que podem se dar episódios de vendavais isolados muito fortes a intensos com risco de fenômenos severos isoladíssimos de vento extremo, capazes de gerar danos estruturais, queda de árvores e cortes de energia.